O Louco

O Louco Khalil Gibran




Resenhas - O Louco


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Alane.Sthefany 31/08/2022

O Louco - Khalil Gibran
COMO ME TORNEI UM LOUCO

Você me pergunta como me tornei um louco. Foi assim: um dia, bem antes de muitos deuses nascerem, acordei de um sono profundo e descobri que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas ? as sete máscaras que confeccionei e usei em sete vidas ?, e corri com o rosto descoberto pelas ruas lotadas, gritando: ?Ladrões, ladrões, malditos ladrões?.
Homens e mulheres riram de mim, e alguns correram para dentro de casa com medo.
E, quando cheguei ao mercado da rua, um jovem no alto de uma casa gritou: ?Ele é um louco?. Olhei para cima a fim de contemplá-lo; o sol beijou meu rosto descoberto pela primeira vez, e minha alma se inflamou de amor pelo sol, e eu não queria mais minhas máscaras. E, como se estivesse em transe, gritei: ?Abençoados, que sejam abençoados os ladrões que roubaram minhas máscaras?.
Assim me tornei um louco.

E encontrei liberdade e segurança em minha loucura; a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem escravizam algo em nós.

DEUS

Nos tempos antigos, quando os primeiros tremores da fala chegaram a meus lábios, subi ao topo da montanha sagrada e falei com Deus, dizendo:
?Senhor, eu sou vosso escravo. Vossa vontade oculta é minha lei e vos obedecerei para todo o sempre?.
Deus, porém, não me deu resposta, e se foi como uma tempestade poderosa.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Criador, eu sou vossa criação. Do barro me fizestes e a ninguém além de vós devo tudo o que é meu?.
E Deus não me deu resposta, e se foi como o voo de mil asas velozes.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Pai, eu sou vosso filho. Vossa piedade e vosso amor me deram à luz, e através do amor e da devoção hei de herdar vosso reino?.
E Deus não me deu resposta, e se foi como a névoa que cobre como um véu as colinas distantes.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Meu Deus, minha meta e minha plenitude; eu estava em vossas mãos ontem, e meu amanhã é vosso. Sou vossa raiz na terra e vós sois minha flor no céu, e juntos crescemos sob o sol?.
Então Deus se inclinou sobre mim, e nos meus ouvidos sussurrou palavras cheias de doçura, e assim como o mar engolfa um riacho que corre em sua direção, Ele me recebeu.
E quando desci para os vales e as planícies Deus também estava lá.

MEU AMIGO

Meu amigo, eu não sou o que aparento. A aparência é só uma vestimenta que uso ? uma vestimenta tecida pela consideração e que protege a mim de teus questionamentos e a ti de minha negligência.

O ?eu? em mim, meu amigo, reside na morada do silêncio, e assim deve permanecer para todo o sempre, oculto, inacessível.

Não quero que tu acredites no que digo nem que confies no que faço ? pois minhas palavras nada são além de teus pensamentos em forma de som, e meus atos, tuas esperanças em forma de ação.

AS SONÂMBULAS

Na cidade em que nasci viviam uma mulher e sua filha, que andavam durante o sono.
Certa noite, enquanto o silêncio envolvia o mundo, a mulher e sua filha, caminhando adormecidas, encontraram-se em seu jardim encoberto pelo sereno.
E a mãe falou: ?Até que enfim, minha inimiga! Você que destruiu minha juventude ? que construiu sua vida sobre as ruínas da minha. Tenho vontade de matá-la!?.
E a filha falou: ?Oh, mulher odiosa, egoísta e velha! Que me impede de deixar meu lado mais livre vir à tona! Que gostaria que minha vida fosse um eco de sua vida opaca! Como eu queria que estivesse morta!?.
Nesse momento o galo cantou, e ambas acordaram. A mãe perguntou gentilmente: ?É você, minha cara??. E a filha respondeu gentilmente: ?Sim, querida?.

OS DOIS EREMITAS

Numa montanha solitária, viviam dois eremitas que cultuavam a Deus e amavam um ao outro.
E os eremitas tinham uma tigela de barro, e essa era sua única posse.
Certo dia um espírito maligno entrou no coração do eremita mais velho, e ele foi até o mais jovem e disse: ?Já vivemos juntos por tempo demais. É hora de nos separarmos. Vamos dividir nossas posses?.
O eremita mais jovem se entristeceu e falou: ?Lamento, irmão, que queiras me deixar. Mas, se tu precisas ir, que assim seja?, e pegou a tigela de barro e lhe deu, dizendo: ?Não temos como dividi-la, irmão, então que seja tua?.
E o eremita mais velho falou: ?Caridade eu não aceito. Não vou levar nada que não seja meu. É preciso dividi-la?.
E o eremita mais jovem respondeu: ?Se a tigela for quebrada, que uso terá para mim e para ti? Se for de teu agrado, podemos tirar a sorte?.
Porém o eremita mais velho insistiu: ?Só aceito o que é justo e meu por direito, e não posso aceitar que o acaso determine o que é justo e meu por direito. A tigela precisa ser dividida?.
Como não tinha mais o que argumentar, o eremita mais jovem disse: ?Se é esse mesmo teu desejo, e se tu não queres mesmo levá-la, pois quebremos a tigela?.
Contudo o rosto do eremita mais velho só se tornou mais sombrio, e ele gritou: ?Oh, maldito covarde, tu te recusas a lutar?.

SOBRE DAR E RECEBER

Em certa ocasião, houve um homem que era dono de uma quantidade infindável de agulhas. Um dia a mãe de Jesus foi até ele e disse: ?Amigo, a vestimenta de meu filho está rasgada e precisa ser remendada para que ele possa ir ao templo. Tu podes me ceder uma de tuas agulhas??.
E ele não lhe deu uma agulha, e sim um discurso erudito sobre dar e receber, para que ela transmitisse ao filho antes de ir ao templo.

A ROMÃ

Certa vez, quando eu vivia no interior de uma romã, escutei uma semente dizer: ?Um dia me tornarei árvore, e o vento cantará nos meus galhos, e o sol dançará nas minhas folhas, e serei forte e linda em todas as estações?.
Em seguida outra semente se manifestou e disse: ?Quando eu era jovem como você, também alimentava tais visões; mas, agora que sei avaliar e mensurar as coisas, vejo que minhas esperanças eram vãs?.
E uma terceira semente também falou: ?Não vejo nada em nós que seja promessa de um grande futuro?.
E uma quarta disse: ?Mas que piada nossa vida seria sem um futuro melhor!?.
Uma quinta entrou na conversa: ?Por que discutir o que seremos, se não sabemos nem o que somos??.
Mas uma sexta retrucou: ?O que quer que sejamos, continuaremos a ser?.
E uma sétima falou: ?Tenho uma ideia bastante clara de como as coisas serão, mas não consigo colocar em palavras?.
Então uma oitava tomou a palavra ? e uma nona ? e uma décima ? e depois várias das demais ? até estarmos todas falando, sem conseguir distinguir as vozes umas das outras.

O COVEIRO

Certa vez, quando estava enterrando um dos meus falecidos eus, o coveiro se aproximou e me falou: ?De todos os que vêm aqui fazer seus enterros, você é o único de quem gosto?.
Disse eu: ?Isso me agrada muitíssimo, mas por que você gosta de mim??.
?Porque?, ele explicou, ?os outros chegam chorando e vão embora chorando ? você é o único que chega rindo e vai embora rindo.?

O OLHO

Disse o Olho certo dia: ?Vejo além destes vales uma montanha coberta de névoa azulada. Não é uma beleza??.
A Orelha escutou, e depois de se concentrar atentamente por um tempo disse: ?Mas onde está a montanha? Não estou ouvindo?.
Então a Mão se manifestou e falou: ?Estou tentando em vão senti-la e tocá-la, e não consigo encontrar nenhuma montanha?.
E o Nariz disse: ?Não há montanha alguma. Não estou sentindo o cheiro?.
Então o Olho se voltou para outro lugar, e todos começaram a falar sobre sua estranha ilusão. E eles disseram: ?Deve haver algum problema com o Olho?.

QUANDO MINHA TRISTEZA NASCEU

Quando minha Tristeza nasceu eu a cultivei com carinho, e a acompanhei com uma ternura amorosa.
E minha Tristeza cresceu como todas as coisas vivas, forte e bonita e cheia de deleites incríveis.
E nós nos amávamos, minha Tristeza e eu, e nós amávamos o mundo ao redor; pois a Tristeza tem um coração generoso, e o meu era generoso com a Tristeza.
E quando conversávamos, minha Tristeza e eu, nossos dias eram alados e nossas noites eram adornadas de sonhos; pois a Tristeza tinha uma língua eloquente, e a minha era eloquente com a Tristeza.
E quando cantávamos juntos, minha Tristeza e eu, nossos vizinhos se sentavam à janela e escutavam; pois nossas canções eram profundas como o mar, e nossas melodias eram repletas de estranhas lembranças.
E quando caminhávamos juntos, minha Tristeza e eu, as pessoas nos observavam com olhares gentis e murmuravam palavras que transbordavam doçura. E havia aqueles que nos encaravam com inveja, pois a Tristeza era uma coisa nobre e eu demonstrava orgulho com a Tristeza.
Mas minha Tristeza morreu, como todas as criaturas vivas, e sozinho fui deixado para refletir e ponderar.
E agora quando falo minhas palavras pesam em meus ouvidos.
E quando canto minhas canções os vizinhos não vêm escutar.
E quando caminho pelas ruas ninguém me olha.
Apenas no sono escuto vozes piedosas dizendo: ?Vejam, lá está o homem cuja Tristeza morreu?.

E QUANDO MINHA ALEGRIA NASCEU

E quando minha Alegria nasceu, eu a tomei nos braços e subi ao telhado para gritar: ?Venham, vizinhos, venham ver, pois neste dia a Alegria nasceu em mim. Venham contemplar esta criatura contente que gargalha sob o sol?.
Porém nenhum de meus vizinhos veio ver minha Alegria, e minha perplexidade foi grande.
E todos os dias por sete luas proclamei minha Alegria do telhado de casa ? mas ninguém me deu ouvidos. E minha Alegria e eu continuamos sozinhos, sem sermos vistos nem visitados.
Então minha Alegria empalideceu e se exauriu porque nenhum coração além do meu admirava sua graciosidade e nenhuma outra boca beijava seus lábios.

E minha Alegria morreu de solidão.
E agora só me recordo de minha Alegria morta ao pensar em minha Tristeza morta. Mas a lembrança é uma folha de outono que murmura por um tempo sob o vento e nunca mais é ouvida.
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Alane.Sthefany 23/10/2022

O Louco e Areia e Espuma - Khalil Gibran
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O Louco

COMO ME TORNEI UM LOUCO

Você me pergunta como me tornei um louco. Foi assim: um dia, bem antes de muitos deuses nascerem, acordei de um sono profundo e descobri que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas ? as sete máscaras que confeccionei e usei em sete vidas ?, e corri com o rosto descoberto pelas ruas lotadas, gritando: ?Ladrões, ladrões, malditos ladrões?.
Homens e mulheres riram de mim, e alguns correram para dentro de casa com medo.
E, quando cheguei ao mercado da rua, um jovem no alto de uma casa gritou: ?Ele é um louco?. Olhei para cima a fim de contemplá-lo; o sol beijou meu rosto descoberto pela primeira vez, e minha alma se inflamou de amor pelo sol, e eu não queria mais minhas máscaras. E, como se estivesse em transe, gritei: ?Abençoados, que sejam abençoados os ladrões que roubaram minhas máscaras?.
Assim me tornei um louco.

E encontrei liberdade e segurança em minha loucura; a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem escravizam algo em nós.

DEUS

Nos tempos antigos, quando os primeiros tremores da fala chegaram a meus lábios, subi ao topo da montanha sagrada e falei com Deus, dizendo:
?Senhor, eu sou vosso escravo. Vossa vontade oculta é minha lei e vos obedecerei para todo o sempre?.
Deus, porém, não me deu resposta, e se foi como uma tempestade poderosa.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Criador, eu sou vossa criação. Do barro me fizestes e a ninguém além de vós devo tudo o que é meu?.
E Deus não me deu resposta, e se foi como o voo de mil asas velozes.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Pai, eu sou vosso filho. Vossa piedade e vosso amor me deram à luz, e através do amor e da devoção hei de herdar vosso reino?.
E Deus não me deu resposta, e se foi como a névoa que cobre como um véu as colinas distantes.
E depois de mil anos subi ao topo da montanha sagrada e mais uma vez falei com Deus, dizendo: ?Meu Deus, minha meta e minha plenitude; eu estava em vossas mãos ontem, e meu amanhã é vosso. Sou vossa raiz na terra e vós sois minha flor no céu, e juntos crescemos sob o sol?.
Então Deus se inclinou sobre mim, e nos meus ouvidos sussurrou palavras cheias de doçura, e assim como o mar engolfa um riacho que corre em sua direção, Ele me recebeu.
E quando desci para os vales e as planícies Deus também estava lá.

MEU AMIGO

Meu amigo, eu não sou o que aparento. A aparência é só uma vestimenta que uso ? uma vestimenta tecida pela consideração e que protege a mim de teus questionamentos e a ti de minha negligência.

O ?eu? em mim, meu amigo, reside na morada do silêncio, e assim deve permanecer para todo o sempre, oculto, inacessível.

Não quero que tu acredites no que digo nem que confies no que faço ? pois minhas palavras nada são além de teus pensamentos em forma de som, e meus atos, tuas esperanças em forma de ação.

AS SONÂMBULAS

Na cidade em que nasci viviam uma mulher e sua filha, que andavam durante o sono.
Certa noite, enquanto o silêncio envolvia o mundo, a mulher e sua filha, caminhando adormecidas, encontraram-se em seu jardim encoberto pelo sereno.
E a mãe falou: ?Até que enfim, minha inimiga! Você que destruiu minha juventude ? que construiu sua vida sobre as ruínas da minha. Tenho vontade de matá-la!?.
E a filha falou: ?Oh, mulher odiosa, egoísta e velha! Que me impede de deixar meu lado mais livre vir à tona! Que gostaria que minha vida fosse um eco de sua vida opaca! Como eu queria que estivesse morta!?.
Nesse momento o galo cantou, e ambas acordaram. A mãe perguntou gentilmente: ?É você, minha cara??. E a filha respondeu gentilmente: ?Sim, querida?.

OS DOIS EREMITAS

Numa montanha solitária, viviam dois eremitas que cultuavam a Deus e amavam um ao outro.
E os eremitas tinham uma tigela de barro, e essa era sua única posse.
Certo dia um espírito maligno entrou no coração do eremita mais velho, e ele foi até o mais jovem e disse: ?Já vivemos juntos por tempo demais. É hora de nos separarmos. Vamos dividir nossas posses?.
O eremita mais jovem se entristeceu e falou: ?Lamento, irmão, que queiras me deixar. Mas, se tu precisas ir, que assim seja?, e pegou a tigela de barro e lhe deu, dizendo: ?Não temos como dividi-la, irmão, então que seja tua?.
E o eremita mais velho falou: ?Caridade eu não aceito. Não vou levar nada que não seja meu. É preciso dividi-la?.
E o eremita mais jovem respondeu: ?Se a tigela for quebrada, que uso terá para mim e para ti? Se for de teu agrado, podemos tirar a sorte?.
Porém o eremita mais velho insistiu: ?Só aceito o que é justo e meu por direito, e não posso aceitar que o acaso determine o que é justo e meu por direito. A tigela precisa ser dividida?.
Como não tinha mais o que argumentar, o eremita mais jovem disse: ?Se é esse mesmo teu desejo, e se tu não queres mesmo levá-la, pois quebremos a tigela?.
Contudo o rosto do eremita mais velho só se tornou mais sombrio, e ele gritou: ?Oh, maldito covarde, tu te recusas a lutar?.

SOBRE DAR E RECEBER

Em certa ocasião, houve um homem que era dono de uma quantidade infindável de agulhas. Um dia a mãe de Jesus foi até ele e disse: ?Amigo, a vestimenta de meu filho está rasgada e precisa ser remendada para que ele possa ir ao templo. Tu podes me ceder uma de tuas agulhas??.
E ele não lhe deu uma agulha, e sim um discurso erudito sobre dar e receber, para que ela transmitisse ao filho antes de ir ao templo.

A ROMÃ

Certa vez, quando eu vivia no interior de uma romã, escutei uma semente dizer: ?Um dia me tornarei árvore, e o vento cantará nos meus galhos, e o sol dançará nas minhas folhas, e serei forte e linda em todas as estações?.
Em seguida outra semente se manifestou e disse: ?Quando eu era jovem como você, também alimentava tais visões; mas, agora que sei avaliar e mensurar as coisas, vejo que minhas esperanças eram vãs?.
E uma terceira semente também falou: ?Não vejo nada em nós que seja promessa de um grande futuro?.
E uma quarta disse: ?Mas que piada nossa vida seria sem um futuro melhor!?.
Uma quinta entrou na conversa: ?Por que discutir o que seremos, se não sabemos nem o que somos??.
Mas uma sexta retrucou: ?O que quer que sejamos, continuaremos a ser?.
E uma sétima falou: ?Tenho uma ideia bastante clara de como as coisas serão, mas não consigo colocar em palavras?.
Então uma oitava tomou a palavra ? e uma nona ? e uma décima ? e depois várias das demais ? até estarmos todas falando, sem conseguir distinguir as vozes umas das outras.

O COVEIRO

Certa vez, quando estava enterrando um dos meus falecidos eus, o coveiro se aproximou e me falou: ?De todos os que vêm aqui fazer seus enterros, você é o único de quem gosto?.
Disse eu: ?Isso me agrada muitíssimo, mas por que você gosta de mim??.
?Porque?, ele explicou, ?os outros chegam chorando e vão embora chorando ? você é o único que chega rindo e vai embora rindo.?

O OLHO

Disse o Olho certo dia: ?Vejo além destes vales uma montanha coberta de névoa azulada. Não é uma beleza??.
A Orelha escutou, e depois de se concentrar atentamente por um tempo disse: ?Mas onde está a montanha? Não estou ouvindo?.
Então a Mão se manifestou e falou: ?Estou tentando em vão senti-la e tocá-la, e não consigo encontrar nenhuma montanha?.
E o Nariz disse: ?Não há montanha alguma. Não estou sentindo o cheiro?.
Então o Olho se voltou para outro lugar, e todos começaram a falar sobre sua estranha ilusão. E eles disseram: ?Deve haver algum problema com o Olho?.

QUANDO MINHA TRISTEZA NASCEU

Quando minha Tristeza nasceu eu a cultivei com carinho, e a acompanhei com uma ternura amorosa.
E minha Tristeza cresceu como todas as coisas vivas, forte e bonita e cheia de deleites incríveis.
E nós nos amávamos, minha Tristeza e eu, e nós amávamos o mundo ao redor; pois a Tristeza tem um coração generoso, e o meu era generoso com a Tristeza.
E quando conversávamos, minha Tristeza e eu, nossos dias eram alados e nossas noites eram adornadas de sonhos; pois a Tristeza tinha uma língua eloquente, e a minha era eloquente com a Tristeza.
E quando cantávamos juntos, minha Tristeza e eu, nossos vizinhos se sentavam à janela e escutavam; pois nossas canções eram profundas como o mar, e nossas melodias eram repletas de estranhas lembranças.
E quando caminhávamos juntos, minha Tristeza e eu, as pessoas nos observavam com olhares gentis e murmuravam palavras que transbordavam doçura. E havia aqueles que nos encaravam com inveja, pois a Tristeza era uma coisa nobre e eu demonstrava orgulho com a Tristeza.
Mas minha Tristeza morreu, como todas as criaturas vivas, e sozinho fui deixado para refletir e ponderar.
E agora quando falo minhas palavras pesam em meus ouvidos.
E quando canto minhas canções os vizinhos não vêm escutar.
E quando caminho pelas ruas ninguém me olha.
Apenas no sono escuto vozes piedosas dizendo: ?Vejam, lá está o homem cuja Tristeza morreu?.

E QUANDO MINHA ALEGRIA NASCEU

E quando minha Alegria nasceu, eu a tomei nos braços e subi ao telhado para gritar: ?Venham, vizinhos, venham ver, pois neste dia a Alegria nasceu em mim. Venham contemplar esta criatura contente que gargalha sob o sol?.
Porém nenhum de meus vizinhos veio ver minha Alegria, e minha perplexidade foi grande.
E todos os dias por sete luas proclamei minha Alegria do telhado de casa ? mas ninguém me deu ouvidos. E minha Alegria e eu continuamos sozinhos, sem sermos vistos nem visitados.
Então minha Alegria empalideceu e se exauriu porque nenhum coração além do meu admirava sua graciosidade e nenhuma outra boca beijava seus lábios.

E minha Alegria morreu de solidão.
E agora só me recordo de minha Alegria morta ao pensar em minha Tristeza morta. Mas a lembrança é uma folha de outono que murmura por um tempo sob o vento e nunca mais é ouvida.

[...]

Areia e Espuma

Estou vagando para sempre nestas praias,
Entre a areia e a espuma.
A maré alta apagará minhas pegadas,
E o vento soprará a espuma.
Porém o mar e a praia permanecerão
Para sempre.

Eles dizem para mim na vigília: ?Você e o mundo que habita são apenas um grão de areia na praia infinita de um mar sem fim?.
E em meu sonho digo a eles: ?Eu sou o mar infinito, e todos os mundos são apenas grãos de areia em minha praia?.

Uma única vez fiquei mudo. Foi quando um homem me perguntou: ?Quem é você??.

A lembrança é uma forma de encontro.

O esquecimento é uma forma de liberdade.

Nós mensuramos o tempo de acordo com o movimento de incontáveis sóis; e eles medem o tempo com mecanismos minúsculos que levam nos bolsos.
Ora, me diga, como vamos nos encontrar no mesmo lugar ao mesmo tempo?

A humanidade é um rio de luz que corre da ex-eternidade para a eternidade.

Sete vezes desprezei minha alma:
A primeira vez quando a vi desanimada quanto a subir às alturas.
A segunda vez quando a vi mancando diante de um inválido.
A terceira vez quando ela teve que escolher entre o difícil e o fácil, e escolheu o fácil.
A quarta vez quando ela cometeu um erro, e se consolou com a ideia de que os outros também erravam.
A quinta vez quando deixou de agir por fraqueza, e atribuiu sua paciência à fortaleza.
A sexta vez quando ela desdenhou da feiura de um rosto, sem saber que era uma de suas próprias máscaras.
E a sétima vez quando ela cantou uma canção laudatória, e considerou isso uma virtude.

Eu sou um ignorante da verdade absoluta. Mas sou humilde diante da minha ignorância, e é aí que reside minha honra e minha recompensa.

Existe um espaço entre a imaginação do homem e as realizações do homem que só pode ser transposto através do querer.

Nossa mente é uma esponja; nosso coração é uma correnteza.
Não é estranho que a maioria de nós prefira sugar em vez de correr?

Quando meu copo se esvazia eu me conformo com o fato de estar vazio; mas quando está pela metade lamento por não estar totalmente cheio.

A realidade da outra pessoa não está no que ela revela para você, mas no que não pode revelar.
Portanto, se quiser entendê-la, escute não o que ela diz, mas sim o que ela não diz.

Quando a Vida não encontra um cantor para cantar o que se passa em seu coração, ela produz um filósofo para dizer o que se passa em sua mente.

Se o inverno dissesse ?A primavera está em meu coração?, quem acreditaria no inverno?

Se realmente abrisse os olhos e enxergasse, você contemplaria sua imagem em todas as imagens.
E se abrisse os ouvidos e escutasse, você ouviria sua própria voz em todas as vozes.

Embora a onda das palavras esteja sempre sobre nós, nosso interior mais profundo está sempre em silêncio.

Muitas doutrinas são como janelas de vidro. V emos a verdade através delas, mas são uma barreira entre nós e a verdade.

Quanta nobreza há em um coração triste que se dispõe a cantar canções alegres junto com corações alegres.

Você deve mais do que ouro àquele que lhe serve. Dê seu coração a ele, ou lhe sirva em retribuição.

Árvores são poemas que a terra escreve no céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar nosso vazio.

Se uma árvore escrevesse sua autobiografia não seria muito diferente da história de uma raça.

Se tivesse que escolher entre o poder de escrever o poema e o êxtase de um poema não escrito, eu escolheria o êxtase. É uma poesia melhor.
Mas você e todas as pessoas próximas de mim concordam que sempre escolho mal.

As palavras são atemporais. É preciso pronunciá-las ou escrevê-las com a consciência de sua atemporalidade.

Se você cantar a beleza, mesmo sozinho no coração do deserto terá uma plateia.

Nenhum querer permanece insaciado.

Nunca concordei integralmente com meu outro eu. A verdade objetiva parece estar entre mim e ele.

Quando você chegar ao coração da vida descobrirá beleza em todas as coisas, inclusive nos olhos que são cegos para a beleza.

A amizade é sempre uma doce responsabilidade, nunca uma oportunidade.

Se a natureza desse ouvidos ao que dizemos sobre contentamento nenhum rio correria para o mar, e nenhum inverno se tornaria Primavera. E se ela desse ouvidos ao que dizemos sobre economizar, quantos de nós estaríamos respirando este mesmo ar?

Somos todos mendigos nos portões do templo, e cada um de nós recebe sua porção da riqueza do Rei quando ele entra e sai do templo.
Mas temos inveja um do outro, o que é uma outra forma de diminuir o Rei.

Você não pode consumir nada além de seu apetite. A outra metade do pão pertence ao outro, e deve sobrar um pouco para um visitante ocasional.

Você só faz caridade de fato se quando doar, e enquanto estiver doando, virar o rosto para não ver a timidez de quem recebe.

A diferença entre o homem mais rico e o mais pobre se desfaz em um dia de fome e uma hora de sede.

Muitas vezes pegamos empréstimo de nossos amanhãs para pagar as dívidas de nossos ontens.

Aqueles que lhe dão uma serpente quando você pede um peixe podem não ter nada além disso a oferecer. Portanto é um ato de generosidade da parte deles.

Você pode julgar os outros apenas de acordo com seu conhecimento sobre si.
Agora me diga: quem entre nós é culpado e quem entre nós não tem culpa?

O verdadeiro justo é aquele que se sente culpado na mesma medida quando você comete um mau ato.

Talvez seja possível para um homem cometer suicídio como autodefesa.

Quando vê um homem sendo preso, você diz em seu coração: ?Talvez ele esteja escapando de uma prisão mais estreita?.
E quando vê um homem embriagado, você diz em seu coração: ?Talvez ele esteja querendo escapar de algo ainda mais feio?.

Como é estúpido aquele que disfarça o ódio nos olhos com um sorriso nos lábios.

Só aqueles que estão abaixo de mim podem me invejar ou me odiar.
Nunca fui invejado nem odiado; não estou acima de ninguém.
Só aqueles que estão acima de mim podem me elogiar ou me diminuir.
Nunca fui elogiado nem diminuído; não estou abaixo de ninguém.

Qual é a dimensão de minha maldade quando a vida me dá ouro e eu lhe dou prata, e ainda assim me considero generoso?

Quando chegar ao coração da vida, você não vai se encontrar acima do criminoso, nem abaixo do profeta.

Que estranho você ter pena de quem é lento nos pés e não na mente, E do cego dos olhos e não do coração.

Qual é a medida da cegueira daquele que tira coisas do bolso para dar quando pode tirar do coração?

A vida é uma procissão. Quem tem os pés lentos a considera acelerada demais e a abandona;
E quem tem os pés acelerados a considera lenta demais e também a abandona.

Somos todos prisioneiros, mas alguns de nós estão em celas com janelas e outros sem.

Que estranho defendermos nossos malfeitos com mais vigor do que executamos nossas boas ações.

Se confessássemos nossos pecados uns para os outros cairíamos na risada por nossa falta de originalidade.
Se revelássemos nossas virtudes aconteceria o mesmo, pelo mesmo motivo.

Existe maior defeito do que ter consciência do defeito do outro?

Se o outro rir de você, é possível sentir pena dele; mas se você rir dele pode jamais conseguir se perdoar.
Se o outro ofender você, é possível esquecer a injúria; mas se você o ofender sempre vai se lembrar.
Na verdade o outro é seu eu mais sensível, alojado em outro corpo.

É uma honra para o assassinado não ser ele o assassino.

Consideram-me louco porque me recuso a vender meus dias por ouro;
E eu os considero loucos por acharem que meus dias têm preço.

Eles esparramam diante de nós suas riquezas em ouro e prata, em marfim e ébano, e nós esparramamos diante deles nossos corações e espíritos;
E ainda assim consideram-se os anfitriões, e nós, os hóspedes.

Antes não ser o último dentre os homens com sonhos e o desejo de realizá-los, do que ser o maior, sem sonhos e sem desejos.

O mais digno de pena entre os homens é aquele que transforma seus sonhos em prata e ouro.

Estamos todos escalando em direção ao cume do desejo de nossos corações. Se o outro roubar sua mochila e sua bolsa e engordar com uma e aumentar a carga com a outra, você deve ter pena dele;
A escalada vai ser mais difícil para ele, e o fardo do peso extra vai tornar o caminho mais longo.
E em sua leveza você deve observar a carcaça ofegante dele caminho acima e ajudá-lo no passo seguinte; isso tornará você mais ágil.

Mil anos atrás meu vizinho me disse: ?Eu odeio a vida, pois não passa de um motivo para sofrimento?.
E ontem passei por um cemitério e vi a vida dançando sobre a tumba dele.

Na natureza, o conflito é apenas a desordem procurando pela ordem.

A solidão é uma tempestade de silêncio que derruba todos os nossos galhos mortos;
Mas por outro lado aprofunda ainda mais nossas raízes no coração da terra viva.

Certa vez falei do mar para um riacho, e o riacho me considerou apenas um exagerado com muita imaginação;
E certa vez falei de um riacho com o mar, e o mar me considerou apenas um difamador com forte tendência à depreciação.

A mais alta das virtudes daqui pode ser a menor delas em outro mundo.

Se não fosse por nossas concepções em pesos e medidas nós ficaríamos tão estupefatos com a libélula como ficamos com o sol.

A morte não está mais próxima para o idoso do que para o recém-nascido; nem a vida.

Na verdade conversamos apenas com nós mesmos, mas às vezes falamos alto o bastante para os outros ouvirem.

O óbvio é aquilo que nunca foi visto até que alguém o expressasse com simplicidade.

Se a Via Láctea não estivesse dentro de mim, como que a teria visto e a conhecido?

Talvez a definição do mar sobre uma concha seja a pérola.
Talvez a definição do tempo sobre o carvão seja o diamante.

Uma raiz é uma flor que despreza a fama.

A sabedoria deixa de ser sabedoria quando se torna orgulhosa demais para lamentar, séria demais para rir, e autocentrada demais para buscar qualquer outra coisa que não seja a si mesma.

Se eu me satisfizer com tudo o que sei, que espaço vai restar para tudo aquilo que não sei?

Aprendi o silêncio com os tagarelas, a tolerância com os intolerantes, e a gentileza com os grosseiros; por mais estranho que pareça, não sou grato a esses professores.

Um exagero é uma verdade que não conseguiu moderar seu ânimo.

Se você consegue ver apenas o que a luz revela e ouvir somente o que o som anuncia, Então na verdade você não vê, nem ouve.

É nossa mente que nos faz ceder às leis feitas por nós, mas nunca o espírito que reside em nós.

Quando tiver resolvido todos os mistérios da vida, você passa a desejar a morte, que não passa de mais um mistério da vida.

O nascimento e a morte são as duas mais nobres expressões da coragem.

Meu amigo, você e eu vamos permanecer desconhecidos para a vida, E um para o outro, e para nós mesmos, Até o dia em que você falar e eu ouvir Considerando sua voz como minha própria voz;
E quando eu me colocar diante de você E imaginar que estou me colocando diante do espelho.

Dizem para mim: ?Se conseguir conhecer a si mesmo conhecerá todos os homens?.
E eu respondo: ?Apenas quando me volto para todos os homens eu conheço a mim mesmo?.

Disse um filósofo a um varredor de rua: ?Sinto pena de você. Seu trabalho é árduo e sujo?.
E o varredor de rua respondeu: ?Obrigado, meu senhor. Mas poderia me dizer qual é o seu trabalho??.
E o filósofo respondeu dizendo: ?Eu estudo a mente do homem, seus feitos e seus desejos?.
O varredor de rua então voltou a varrer e disse com um sorriso: ?Eu também sinto pena de você?.

Nós escolhemos nossas alegrias e nossas tristezas muito antes de vivenciá-las.

A tristeza não passa de um muro entre dois jardins.

Quando sua alegria ou sua tristeza se engrandece, o mundo se torna menor.

A coisa mais amarga em nossa tristeza de hoje é a lembrança de nossa alegria de ontem.

As flores da primavera são os sonhos do inverno relatados na mesa do café da manhã dos anjos.

As tartarugas podem informar mais sobre os caminhos do que as lebres.

Agradeça por não ter que viver do renome de um pai ou da fortuna de um tio.
Mas acima de tudo agradeça por ninguém ter que viver de seu renome ou de sua fortuna.

O invejoso me elogia sem saber.

Você existiu por muito tempo como um sonho de sua mãe, e então ela despertou e lhe deu à luz.

Quando a noite vier e a escuridão dominar você também, deite-se e dê um propósito a essa escuridão.
E quando a manhã vier e a escuridão ainda estiver dentro de você, levante-se e diga para o dia com vigor: ?Ainda estou dominado pela escuridão?.
É estupidez tentar esconder alguma coisa da noite e do dia.
Eles ririam de você.

Quando me coloquei diante de um espelho límpido à sua frente, você me olhou e viu sua imagem.
Então você disse: ?Eu te amo?.
Mas na verdade amava o que via de si mesmo em mim.

Quando você desfruta do fato de amar seu semelhante isso deixa de ser uma virtude.

O amor que não está sempre brotando está sempre morrendo.

Não é possível ter juventude e conhecimento ao mesmo tempo;
Pois a juventude está ocupada demais vivendo para aprender, e o conhecimento está ocupado demais perseguindo a si mesmo.

Que Deus alimente os que têm tudo em abundância!

Atrás de cada porta fechada há um mistério guardado por sete selos.

Você pode se esquecer daquele com quem compartilhou risos, porém jamais se esquecerá daquele com quem compartilhou lágrimas.

Deve haver algo estranhamente sagrado no sal. Ele está em nossas lágrimas e no mar.

O que desejamos e não conseguimos obter nos é mais valioso do que aquilo que já obtivemos.

No outono reuni todas as minhas tristezas e enterrei em meu jardim.
E quando abril chegou e a primavera veio se juntar à terra, cresceram em meu jardim lindas flores, diferentes de quaisquer outras.
E meus vizinhos vieram apreciá-las, e todos me disseram: ?Quando o outono vier, na época do plantio, você não pode nos dar as sementes dessas flores para que as tenhamos em nosso jardim??.

Desejo a eternidade, pois assim poderei encontrar meus poemas não escritos e meus quadros não pintados.

Você pode ter ouvido falar da Montanha Abençoada.
É a montanha mais alta de nosso mundo.
Se chegar ao cume você terá um único desejo, que é descer e estar com aqueles que habitam o vale mais profundo.
Por isso ela é chamada de Montanha Abençoada.
Samukk 25/10/2022minha estante
Suas resenhas são lindas


Alane.Sthefany 26/10/2022minha estante
Samuel,
Muito Obrigado ?




MatheusPetris 20/12/2022

Nessas parábolas que se aproximam de micro-contos, Khalil Gibran tenciona dicotomias por meio de reflexões filosóficas. Abalando o dualismo, o oriental rabisca o quadro ocidental com desenhos harmonicamente monistas.

Tendo vivido e estudado boa parte de sua vida no ocidente, o escritor claramente não se deixou cooptar pelas estruturas maniqueístas do nosso mundo ocidental. Pelo contrário: ele não só as identifica, como provoca rupturas em suas próprias internalidades, em suas próprias contradições. O que ele aparentemente versa é que contradições não devem ser apagadas, esquecidas. Devem ser abraçadas, afagadas.

Um ateu se torna cristão, um cristão se torna ateu. A alegria e a tristeza são faces da mesma moeda. Os cinco sentidos, sensitivos individualmente, ignoram seus companheiros e não enxergam a unidade. O são é o verdadeiro louco. Alguém sepulta seus próprios Eu’s.

Impossível sintetizar em breves períodos a simplicidade complexa dos escritos de Gibran. Os micro-contos devem ser degustados diariamente. Relidos. Esquecidos. Para quem sabe num futuro distante, voltarem a ser compreendidos — se é que nós ocidentais consigamos. Se puderem, se deleitem. Afinal, é impossível sair incólume dessas aberturas e fusões de tantos mundos.
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Fernando 25/02/2023

Nossas contradições devem ser aceitas? como podemos nos encaixar como indivíduo na sociedade se não nos adequarmos a ela? Curioso como o autor propõe que o verdadeiro louco é aquele que se anula em prol de se encaixar. São pequenos contos que espetam nosso ego.
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Karen581 21/04/2020

Consciência em poesia
As palavras de Gibran são altamente dotadas de uma beleza ímpar e uma consciência profunda.
Ele consegue nos ensinar tópicos importantes com tão poucas linhas.
Esse livro não ter a força de O Profeta, mas é um livro que vale a leitura.
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caiohlp 08/08/2022

Quero antes o lirismo de Khalil
Khalil Gibran compõe a estrutura literária desse livro recheando-o de metáforas e aforismos, em uma empreitada quase poética, sua linguagem sensorial permite momentos de reflexão interessantes, que compensam o tamanho reduzido da obra. Mas o autor atinge o verdadeiro êxito ao tornar agradável o teor estritamente digressivo e imagético, capaz de transmutar os devaneios escritos em lampejos de lucidez singulares.

?Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero saber de lirismo que não é libertação.?

Manuel Bandeira
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Emmily 28/03/2024

Amar de acordo com uma ordem estabelecida, entreter o melhor de si de uma maneira pré-concebida, adorar os deuses corretamente tornando-se cada vez mais devoto, intrigar os demônios com arte ? e depois esquecer tudo como se a memória estivesse morta.
Apreciar com um motivo, contemplar com consideração, ser feliz docemente, sofrer nobremente ? e depois esvaziar a taça para que amanhã possa enchê-la novamente.
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Sam 12/08/2022

eu não to ficando louca
pro momento que eu estou passando esse livro foi essencial pra eu ter certeza de que eu NÃO TO DOIDA!
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San... 27/01/2010

Amo Khalil Gibran. Sua obra é toda ela cercada da poesia e sabedoria orientais. Este é um dos livros mais lindos que li dele, de onde tiro uma de minhas passagens favoritas: "Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."
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Brandes 04/04/2022

Como eu nunca tinha ouvido falar dele?
| AVALIAÇÃO | 5?
| AUTOR | Khalil Gibran

? Do escritor libanês, vivendo nos Estados Unidos, o livro é uma coletânea de contos curtíssimos (menos de duas folhas, sem contar com a letra grande e as páginas pequenas) que entrega um conteúdo sssustadoramente maior que seu tamanho. ?

? Em 61 páginas, o autor explica como se tornou louco após ter sua máscara roubada, se vendo obrigado a encarar o mundo como ele é e agradecendo por isso. Agradecendo ao deus das almas perdidas perdido entre os deuses. ?

? Cada paragrafo é uma entrega. Você se joga em reflexões sobre o justo, o amado, o amigo e a loucura. Recomendo a todos que buscam por pensamentos longos em textos curtos. ?
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Jon 08/02/2023

Reflexivo
Khalil nos traz um apanhado de reflexões e poemas que desafiam a nossa sanidade. Que questionam, na verdade, quem, de fato, são os loucos, nós ou eles? Uma jornada mais espiritual e artística que propriamente filosófica. De valor inestimável.
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NutNut 23/09/2023

Vivo, Forte e Lírico.
É uma experiência. Material e espiritual ao mesmo tempo

"O Louco" foi um livro que escolhi pela capa, pelo título, e acima de tudo por já conhecer e admirar o autor. Eu tenho um laço afetivo com a figura de Gibran Khalil, e o que ele representa, mas nunca tinha de fato mergulhado em uma de suas obras.

O livro não se trata de uma narrativa única, é um conjunto de textos, textos muito fortes.

Me apaixonei logo no prólogo, e notei que é quase impossível separar na sua escrita o lirismo da filosofia.
São ao mesmo tempo textos de extrema poesia, que trazem consigo os sentimentos mais complexos, reflexões muito pontuais sobre a vida, a sociedade e a natureza das relações humanas.

O livro traz ironias, anedotas, poesias e pensamentos muito intensos, é difícil dizer qual capítulo me prendeu mais.

É difícil de criticar pela compreensão de que os textos que eu não entendi o significado, me deixaram a sensação de que não era o momento de entender. É o tipo de obra que traz consigo significados diferentes a cada leitura, hoje em minha juventude não consegui administrar muitas coisas, mas na vida adulta talvez consiga. Meu eu criança, ou até mesmo o de 6 meses atrás não leria da forma que li.


O capítulo "Deus" traz a redimissão da fé pelo homem, e não necessariamente segue qualquer linha cristã que eu cogitei com meu olhar ocidental. É muito sobre o ato de ser homem, fazendo com que deus exista. É complexo de se explicar.

"Amigo" me tocou profundamente, com certeza foi um dos meus favoritos. Descreve o desconforto que podemos encontrar nas pessoas que escolhemos amar e caminhar em conjunto, também mostra a frustração que a intimidade traz.

"Espantalho" trouxe mais dúvidas do que ideias.

"As Sonâmbulas" foi um retrato dos primeiros sentimentos impuros que temos como gente, e a forma como o carregamos diariamente no lado mais recluso de nossos corações.

E esses são os poucos trechos que resolvi comentar aqui com vocês, e são os iniciais, pois logo percebi que se fosse fazer uma breve descrição da minha interpretação sobre CADA capítulo, demoraria séculos para terminar e diria coisas que eu não quero que outros olhos leiam.

A experiência desse livro foi avassaladora e chegou a mim no momento perfeito. Sinto que pequei em ler ele tão rápido, já que o meu processo literário costuma ser mais complexo, mas não me vi com outra opção senão engolir "O Louco" naquele momento, e não me sinto culpada por ter a plena certeza de que vou lê-lo de novo algumas vezes.

Foi o começo de uma grande jornada pela literatura árabe, interesse esse que eu já tinha notado há algum tempo. Vale cada segundo, é pra mim versão não capitalizada (portanto original) de "O Pequeno Príncipe".
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Jose 29/07/2023

Que loucura interessante
O Louco, de khalil Gibran, é um pequeno livro de anedotas/poesias/parábolas/ ensinamentos ou o que mais o leitor conseguir meditar sobre.
Os textos são bem profundos e alguns deles totalmente abstratos, que devem ser lidos mais de uma vez para se buscar um sentido. Talvez o sentido venha só mais tarde.
É um livro que fala sobre loucura, mas de uma forma que aborda o louco como alguém que se despiu de certas amarras.
O que mais gostei foi logo o prólogo que se chama o que dá título ao livro: O Louco. Um trecho dele segue abaixo:

"Pela primeira vez o sol beijou meu rosto nu e minha alma ficou inflamada de amor pelo sol, e eu não queria mais minhas máscaras [...] E em minha loucura, encontrei tanto liberdade como segurança: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós".
Livro rápido e interessante. Mas tem que ter paciência, porque algumas parábolas são bem abstratas.
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