Pantokrátor

Pantokrátor Ricardo Labuto Gondim




Resenhas - Pantokrátor


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Fabio Shiva 26/10/2022

Golem ou androide? As muitas camadas de (ir)realidade na ficção científica
É uma alegria e um privilégio poder acompanhar a trajetória de um autor contemporâneo tão talentoso quanto o Ricardo Labuto Gondim. Esse “Pantokrátor” é o quarto livro dele que leio, sempre com admiração crescente. Pois a cada obra Ricardo vai demonstrando (com exuberância) que é de fato o meu tipo favorito de escritor: aquele que não se repete em fórmulas fáceis e que a cada novo livro está se reiventando, ousando encarar novos desafios, audaciosamente buscando os limites de si mesmo.

Isso não significa, entretanto, que não exista continuidade e progressão na obra do autor. Em “Pantokrátor”, por exemplo, tive a impressão de ver um interessante cruzamento entre características de dois livros anteriores de Ricardo: a ficção científica poderosamente imaginativa de “Corrosão” e o irônico fio condutor da narrativa policial de “B”. Cheguei até, creio eu, a identificar uma das possíveis obsessões do autor: surreais sequências oníricas que acontecem no interior de gigantescos navios deteriorados pela ferrugem!

E há muito mais, é claro! Ricardo dialoga com Deus e o mundo, inserindo incontáveis referências mais ou menos veladas, que acrescentam múltiplas dimensões à história que está sendo contada. História que por si só, diga-se de passagem, é muito instigante e intrigante, ainda mais ao ser apresentada de forma tão original.

Só para citar um exemplo dessas referências cifradas ou “easter eggs”, o nome do interessantíssimo protagonista de “Pantokrátor” é Felipe Parente Pinto, que é um “golem”, uma espécie de androide super evoluído. Essa foi uma sacada genial para se referir a um ser criado artificialmente, enriquecendo a narrativa de ficção científica com conotações místicas do judaísmo. Mas a brincadeira de referências está só começando, pois daí atentamos para o estranho nome escolhido para o personagem, que é uma tradução literal de Philip Kindred Dick, mais conhecido como Philip K. Dick, criador da mais famosa história de andróides de todos os tempos, que inspirou o filme “Blade Runner”. E ainda não chegamos ao fim, pois na verdade as histórias de Philip K. Dick, mais do que tramas de FC, tratam principalmente sobre a realidade, e sobre o quanto essa dita realidade tem de ilusão e de convenções socialmente estabelecidas. Novamente, uma dica para o leitor atento, pois esse tema da realidade é central em “Pantokrátor”.

Outro exemplo marcante dessa riqueza semântica é a refinadíssima trilha sonora selecionada para o livro. Cada capítulo (e às vezes os subcapítulos) começa com a referência a uma peça de música erudita. Coloco aqui as três primeiras, só para dar uma palhinha:

Igor STRAVINSKY - Ragtime (for 11 Instruments)
https://youtu.be/c7sA4h772Dc

Arnold SCHÖNBERG – Serenade, Op. 24 – I. March
https://youtu.be/ZBn8vpKiORE

Richard WAGNER – Das Rheingold – Prelude
https://youtu.be/cjkjF9OfMe0

E, como se fosse pouco, ainda temos as brilhantes tiradas de Ricardo Labuto Gondim! Tem para todos os gostos, começando pela ironia em graus variados de acidez:

“Imbecis, hã? São a tristeza do sábio e a alegria do poderoso.”

“Imbecis não pensam sozinhos, mas tentam em bando.”

“Quando estiver jogando pôquer, olhe em volta e procure o otário. Se não encontrar, é você.”

“Eu não rotulo nem excluo ninguém. Não sou religioso.”

Mas há também aquelas pérolas filosóficas, que convidam a profundas reflexões:

“Como as coisas existem por oposição e contraste, um homem só é capaz de perdoar, no sentido radical do termo, os mesmos erros que cometeu.”

“Sozinho com seus pensamentos, o ser humano é uma conspiração.”

“O dinheiro é uma hipótese. Pode ser qualquer coisa. Uma subjetividade que intervém em todas as questões humanas.”

“Humanos não sabem ouvir. Estão concentrados no Eu. Ou ocupados falando do Eu.”

Ler um livro como esse é renovar as esperanças não só na literatura brasileira, mas na Literatura em si, como uma forma específica de expressão ameaçada diante de tantas mudanças sociais e tecnológicas. Ricardo Labuto Gondim demonstra que ainda existem escritores com algo interessante a dizer.


Resenha de “CORROSÃO”, de Ricardo Labuto Gondim:
https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/01/ficcao-cientifica-de-primeira-grandeza.html

Resenha de “B”, de Ricardo Labuto Gondim:
https://www.facebook.com/photo/?fbid=10203448138151844&set=a.10203218903901131

Resenha de “DEUS NO LABIRINTO”, de Ricardo Labuto Gondim:
https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2017/04/deus-no-labirinto-ricardo-labuto-gondim.html

Resenha de “PANTOKRÁTOR”, de Ricardo Labuto Gondim:
https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/10/golem-ou-androide-as-muitas-camadas-de.html


site: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
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Maria Clara 22/05/2020

O melhor livro de ficção científica que li na vida
Um livro realmente fantástico pra quem procura um texto que envolve suspense, conspiração e ficção científica.

site: https://www.youtube.com/watch?v=sxTrPqdbDUQ&t=329s
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petroniodtn 06/06/2020

Maravilhoso
Livro excelente! O autor vai do noir ao épico filosófico e depois ao cotidiano como se estivesse passeando. O universo é rico e divertido. Os personagens são incríveis. A narrativa é envolvente, imersiva. Cheio de referências a tudo (ópera, filosofia, tecnologia etc etc), sem ser pedante nem gratuito. É maravilhoso ver que uma pessoa consegue escrever um livro desses.
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