Rafael 04/10/2022
Onde as aparências importam
Quando nos deparamos com uma mistura de coisas imprestáveis ou algo confuso, estamos diante de uma bruzundanga. Nesse livro (1917), conta-nos Lima Barreto sobre sua estada na curiosa República dos Estados Unidos da Bruzundanga, uma velha e rica terra que em muito se assemelha ao Brasil.
No país visitado, tudo ocorre inversamente à forma esperada pelo autor. Lá, para os literatos (samoiedas) e a nobreza, apenas a aparência das coisas importa, de modo que curar ou bem exercer a medicina não interessa ao médico, por exemplo, mas ser doutor, e dessa posição usufruir toda sorte de privilégios sociais. Por sua vez, a classe política fomenta a miséria popular e perpetua seu poder por meio dos seus muitos familiares no governo, assumindo como verdadeiro fim da sua atividade fazer o povo bruzundanguense infeliz.
Também nesse lugar, tudo que vem do seu exterior é visto como melhor e digno de ser imitado, da Constituição à forma de pensar. Aliás, é sábio na Bruzundanga aquele que escreve livros com as opiniões dos outros, que cita mais autores estrangeiros. Esse, se possível for, deixará seu país na primeira oportunidade que tiver.
Essa divertida (e triste) aventura do autor foi publicada inicialmente no periódico A.B.C., a partir de janeiro de 1917.
Para além dos temas citados, Lima Barreto aborda, na obra, o exagerado culto ao dinheiro e o racismo, este último bem manifesto nas estruturas militar e diplomática do país (aqui são questionados os "heróis bruzundanguenses", nas entrelinhas figuras como Floriano Peixoto e José Maria da Silva Paranhos Júnior - o Barão do Rio Branco, ambos da nossa Primeira República).