O cerceado desejo de lamber-te

O cerceado desejo de lamber-te David Medeiros




Resenhas - O cerceado desejo de lamber-te


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dormideira 01/05/2020

David Medeiros é um mestre do disfarce realista. Se há suspeita de detalhes autobiográficos em cada um dos poemas, é porque eles foram forjados no calor do momento, parodiando a própria vida. Paródia é também um dos artifícios usados na composição, com maestria. Como uma colcha de retalhos, ele costura suas referências ultrapassando qualquer arrogância prosaica para ressignificá-las em um cenário mundano.

Esse mesmo mundano é o que tira o lirismo para dançar, às vezes atropelando-o, como se o eu-lírico oscilasse entre a realidade e o mundo onírico. Porém, tudo é experiência passível de ser recombinada em beleza, seja ela triste ou alegre, zombando de si e do mundo.

O resultado é uma coleção de colagens do mundano com o sagrado, do amor carnal com o romântico, de um desejo de transgredir intransitivo e atravessado por obstáculos.

Se as frustrações estão concentradas, se ficasse o livro só por aí, estávamos tristíssimos. Mas, além de zombar de si, alguns poemas flertam com o zombar do mundo e de tudo, o que deixa as conclusões mais interessantes e faz com que consigamos sair por cima das circunstâncias, rindo junto.

Em suma, é um livro para se ler divagando, mas cada poema, não devagar. É riquíssimo em referências, divertido e de uma garganta profundamente profana.
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