Bruno.Freischlag 17/01/2023
Mundo Desolado - Resenha Crítica - Por Bruno Freischlag.
Mundo Desolado foi a minha primeira grata surpresa literária de 2023.
O prólogo já é tudo o que você espera de um: eletrizante e envolto de mistérios. Nele é nos apresentado brevemente dois dos personagens mais importantes da trama (inclusive o antagonista) e um objeto em particular que, embora não seja centro da trama, ainda consegue intrigar o leitor sempre que ele é mencionado. O livro de Krauze segue a autêntica Jornada do Herói. A história em si gira entorno de Kalian, um jovem da reclusa tribo das Sarhed que, em uma de suas perambulações pelo deserto, conhece uma estranha misteriosa em uma situação de perigo e ele decide ajudá-la. A partir dai a história se desenrola através de conflitos internos baseados em fatores culturais de sua tribo, algumas revelações são feitas, uma grande tragédia acomete o protagonista, é nos apresentado o antagonista, e então um objetivo geral é determinado.
Kalian vive na Aldeia dos Sarhed, reclusa de qualquer outra civilização. Apesar do pouco tempo de página, Eduardo faz um bom trabalho de caracterização dessa cultura. A exemplo, os aldeões de Sarhed possuem seu próprio sotaque, que é transcrito nas falas dos personagens. A hierarquia também nos é apresentada, junto do que parece ser a lei máxima que rege tal aldeia. Embora eu considere o trabalho de Krauze bastante razoável neste quesito, eu senti falta de um aprofundamento em certos pontos. Se por um lado Eduardo se compromete a fazer essa “aculturação” ela não me soou homogênea em sua distribuição, fazendo com que em certos momentos ficasse rasa de mais, ou até sem sentido diante que ele vinha construído. Ademais, certas características dessa cultura podem soar ofensivas a certos públicos. No geral, a criação do Mundo como todo é impecável, rica e singular. Por mais que o protagonista transite por cenários que podem ser tidos como muito semelhantes, em nenhum momento a tive como monótona; ao contrário, surpreendi-me positivamente com a capacidade descritiva do Eduardo, e isso fica explícito no Mundo que a todo instante vivo e decorre independentemente da intervenção direta do protagonista.
Outro fator que merece destaque é a visão de Krauze sobre a magia em seu mundo. A forma como ela é apresentada é cadenciada e feita intrinsicamente ao logo do texto, o que permite ao leitor uma absorção mais diluída das informações. Apesar de não saber ao certo qual foi a maior inspiração de Eduardo, não consigo deixar de fazer um paralelo ao anime Dragon Ball. O recurso de áureas mágicas em tornos dos personagens e o fato de poderem saltar grandes distâncias, suportar mais peso, entre outros efeitos me faz pensar se talvez essa decisão criativa de fato condiz com o tom que a história quer passar, talvez “animesca” demais para o meu gosto pessoal. Apesar disso, eu acho a Magia em seu Mundo bastante criativa da sua própria maneira, fugindo do estereótipo do mago estudioso e indo mais para um lado arcanista, daquele que descobre a magia dentro si. Pelo menos por enquanto. Quanto a isso, estou curioso para como Eduardo ira expandir a Magia de seu muito na sequência já anunciada “Dois Mundos”.
Por fim temos o antagonista. Enigmático desde o primeiro instante em que parece, realmente fiquei intrigado em saber mais sobre suas motivações pessoais. A única coisa que temos certeza é de seu objetivo, muito claro desde o prólogo. Contudo, o antagonista apresenta uma crueldade exacerbada em praticamente todo o momento em que aparece com o claro intuito de expor a sua natureza sádica. Tendo a achar esse tipo de vilão genérico demais para o peso que a trama de Mundo Desolado carrega. Não que haja algo de errado em separar nitidamente o preto do branco, neste caso quem são os mocinhos e quem são os vilões. Mesmo assim, gosto de pensar que um antagonista bom é aquele que você consegue simpatizar com as suas motivações, mesmo não concordando com suas ações, e o antagonista de Mundo Desolado não faz esforço algum para isso. Ademais, quase nada foi esclarecido sobre ele a não ser que ele é o ser mais desprezível do mundo e precisa ser eliminado. Espero que em “Dois Mundos” o Krauze possa trabalhar com maior profundidade neste antagonista que, apesar de raso em primeira instância, tem muito potencial.
Krauze faz o “feijão com arroz” com maestria, mas nem por isso deixa de trazer seu próprio quê de originalidade. Mundo Desolado é uma obra bem atada, que entretém e, sobretudo, intriga de verdade o leitor a cada capítulo, sem se perder em mirabolantes plot twist para chocar o leitor só por chocar. Sua estrita é fluída e que ao mesmo tempo eventualmente arrisca palavras menos usuais que são muito bem-vindas para compor vocabulário. As descrições são concisa e os diálogos interessantes o suficiente para não entediar o leitor. Poucos foram os erros de digitação que escaparam na revisão e volta e meia me deparava com redundâncias que incomodavam a leitura, típicas de escritores de primeira viagem, mas que de forma alguma diminui a qualidade da obra como um todo, que, por sinal, está acima da média.
Uma obra bem-vinda tanto àqueles aficionados por Alta Fantasia quanto àqueles que buscam se introduzir no gênero.
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