Psychobooks 01/12/2011
Essa história foi publicada em 12 edições de vinte e poucas páginas entre 1982 e 1985. Foi a primeira das chamadas "maxi-séries", ou seja, uma série longa, mas com começo meio e fim, muito diferente do padrão americano, de extender as histórias de seus personagens por edições infinitas.
O que há para ser dito:
Camelot 3000 foi revolucionária na época em que foi lançada, mas isso não a tornou atemporal, como aconteceu com obras-primas do mesmo período, como Watchmen e Cavaleiro das Trevas. O escritor Mike W. Barr era novato e tinha várias manias dos roteiristas tradicionais. Uma das mais irritantes era repetir nos balões ou na narração algo que o desenho já estava mostrando. Ele mesmo admite isso no texto introdutório que acompanha a edição da Panini e diz que aprendeu muito durante a produção de Camelot 3000. É verdade. Os últimos capítulos dessa maxi-série têm bastante diferença dos primeiros. Quem não está acostumado, vai estranhar um pouco que, a cada início de capítulo, os personagens relembrem o que aconteceu até ali... como se você já não tivesse acabado de ver! Mas é preciso considerar o fato de que cada capítulo, originalmente, era um gibi de vinte e poucas páginas, publicado com intervalo maior do que um mês. Em quadrinhos, durante muito tempo, foi padrão fazer essas retrospectivas no meio da história para posicionar leitores que começassem a acompanhar as séries no meio. Como dizia Stan Lee, o famoso editor da Marvel, cada revista pode ser a primeira de alguém e esse leitor não pode se sentir perdido.
Tirando essas chatices próprias de quadrinhos antigos, a história é bastante divertida e criativa. Tem algumas sacadas legais, como a transformação do nobre e leal Percival em uma cobaia de um programa do governo que transforma presos políticos em monstros brutais e descerebrados. Todos os cavaleiros, com exceção do rei Arthur, são reencarnações. Galahad, é um samurai. Tristão, uma mulher e, por isso, é atormantado(a) por seu amor por Isolda e sua própria sexualidade. Aliás, essa parte da história causou alguns incômodos aos autores. Uma página acabou sendo censurada lá nos EUA.
Os desenhos do inglês Brian Bolland são fantásticos. Embora retrate uma visão oitentista do futuro, portanto, absurdamente datada, ainda é fonte de inspiração para gerações de desenhistas. É um dos poucos artistas completos do industrializado mercado americano. Desenha e finaliza. Infelizmente, não é o caso aqui, mas nem por isso sua genialidade foi eclipsada.
Minha opinião:
Camelot 3000 é bastante datado e irregular. Os primeiros capítulos são típicos "gibis de heróis" e não digo isso como um elogio. Mas, com o desenrolar da história, a evolução do roteirista é escandalosamente perceptível. Se, no começo, ele não consegue evitar colocar um personagem disparando uma arma e narrando "estou disparando uma arma", lá nas últimas páginas ele cria uma sequência sem texto algum e muito interessante. Na introdução eu disse que esta série é uma das que marcaram minha adolescência e é verdade. Mas também é verdade que eu era um leitor de quadrinhos iniciante. Portanto, arrisco-me a indicar esta obra somente a leitores que estejam na mesma situação. Por outro lado, se sua porta de entrada para o mundo dos quadrinhos foram os mangás e você ainda acha que odeia quadrinhos ocidentais, não é Camelot 3000 que mudará sua visão.
Camelot 3000 foi publicada no Brasil pela primeira vez em 1984, no infame "formatinho". Segunda a Wikipédia, dentro da revista "Superamigos" e, depois, na "Batman". Sinceramente, vou ter que confiar na informação, porque não lembro e já faz um bom tempo que mandei as revistinhas para algum sebo. Em 2005, a Mythos publicou uma encadernação, mas a edição que vale realmente a pena é a da Panini, lançada em 2010. Capa dura, introdução do escritor, reprodução das capas e material adicional. Uma edição bem bacana. Um pouco cara, talvez. É a que tenho. Não porque seja grande fã da história, mas por um inevitável saudosismo e pela arte fantástica de Brian Bolland.
Link: http://www.psychobooks.com.br/2011/03/psychocomics-camelot-3000.html