Krishna.Nunes 07/10/2021Livro mal escrito e mistérios previsíveisIndo direto ao ponto, o pior nesse livro é o estilo. Ele é narrado em duas linhas que lentamente convergem: uma é o dia do casamento, quando um crime supostamente ocorrerá, e a outra é a véspera, quando os convidados estão chegando à ilha onde ocorrerá a festa e começam a se conhecer e interagir. De início, o dia do casamento é contado em terceira pessoa por um narrador onisciente. Já a véspera é narrada em primeira pessoa por alguns dos protagonistas: a noiva, a dama de honra, o padrinho e a cerimonialista. Somente quando os dois tempos da história se encontram é que a festa passa a ser contada no presente por esses narradores.
O problema é que o início de cada capítulo exige contextualização, o que leva a situações como a seguinte: "Estou sentada na cama com um copo de bebida na mão. Estou bêbada e me sinto ejoada..." - ou seja parece alguém escrevendo um diário ou uma carta. Não dá a sensação de que estamos realmente na cabeça das pessoas, porque absolutamente ninguém pensa assim. Não é fluxo de consciência, é um diálogo artificial com alguém inexistente.
Dessa forma, alguns aspectos da escrita são estranhos e um pouco irritantes. Até mais da metade do livro, não há nenhum desenvolvimento dos personagens e mesmo depois do término nós não sabemos quase nada sobre nenhum deles. A maioria dos é personagens desagradável a ponto de não dar vontade de ler os capítulos deles, e a amizade dos antigos colegas de escola é tão clichê que parece um roteiro daqueles filmes ruins dos anos 90. Todos os homens são insuportáveis e as mulheres, tirando Hannah, são desinteressantes.
Antes da metade da leitura, já somos capazes de identificar um padrão: a autora sempre dá APENAS pistas falsas para levar o leitor a pensar que algo vai acontecer. Pronto, a partir daí é possível saber que algo com certeza NÃO vai acontecer só porque foi insinuado que iria. Algumas coisas que realmente iriam acontecer também podem ser previstas bem antes de serem contadas, e isso estraga muito a graça de desvendar os mistérios.
Está longe de ser um dos melhores livros de mistério do mundo, ou mesmo se comparar a Agatha Christie como algumas pessoas dizem. Um bom mistério mescla pistas verdadeiras com pistas falsas e informações irrelevantes, para que no momento da revelação o leitor tenha não apenas o prazer da descoberta, mas também o de reinterpretar os fatos conhecidos à luz das novas informações. Nesse livro o leitor é privado desse tipo de sensação pelo modo como as pistas são passadas. A sensação final é de um livro mediano.