LuanaLopesEscritora 02/03/2021
"O outro pé descalço na terra do nunca"
Além da qualidade dos poemas, o que me deixou mais intrigada foi como eles se completam e se entendem. Construir uma coletânea de poemas é um trabalho que poucos sabem, menos ainda escolher seus próprios poemas. A escolha não se resume a reunir os poemas que "falam sobre a mesma coisa", mas sim entender se eles conversam entre si de uma forma coesa e esse autor soube perfeitamente fazer isso. Cada poema nos traz emoções diferentes, revelando a atmosfera única daquelas palavras que ali se juntam. Poema é assim. Todos nós podemos escrever, mas nem todos expressam coisas tão vorazes e nem todos plantam em nós a identificação. No livro, conseguimos sentir quando somos pequenos, quando somos fortes, quando acordarmos "inundados da melancolia do mundo". Meditações de Aprendiz sobre a relatividade presente na ciência de viver é a união de várias vozes que estão no mesmo lugar, dentro da gente. Vozes harmônicas e outras nem tanto, acordando e nos ajudando a revisitar coisas que já vivemos e que ainda viveremos. Arrisco a dizer que existem poemas que a gente só entende bem depois que lê, algo metafísico que a gente nem explique de primeira. Os poemas nos trazem desejos de bons tempos e compreensão nos dias ruins e ruidosos, quando as rachaduras da alma não sabem como se preencher.
Destaques aos trechos:
"Vivemos essa eterna infância-adulta, onde falamos um pé com calçados sociais e deixamos o outro descalco na terra do nunca." (esse me emocionou muito)
"Sou tantas células
e elas se afinam em uma fanfarra perfeita
praticando escalas progressivas incessantes."
"O amor que me ama é tudo que eu vejo"
E a mensagem para nós sempre relermos: "Em alguns dias,
vamos acordar inundados pela melancolia do mundo
soluçando pelas mãos de punição dos sonhos
repreendidos e colocados de castigo
sem entender muito bem o que se passou
sem entender muito bem o que fizemos de errado."