Resenhas - Contos do Escritório

Luiz Pereira Júnior 09/04/2021

Das pequenas tragédicas cotidianas...
Uma das principais características dos autores que pretendem criticar a realidade é justamente – e obviamente – fazer o retrato dessa realidade para que, de alguma forma, faça o leitor refletir sobre o que escreve.
Isso parece uma afirmação até fútil e completamente óbvia – como já afirmei acima. No entanto, não é algo tão simples quanto possa parecer à primeira vista (ou à primeira leitura). E nisso Roberto Mariani consegue marcar seu gol.
A impressão que certos contos nos passam é simplesmente “é só isso? Ele está contando uma situação banal que aconteceu em um escritório como milhares, milhões de todos os outros”. E é isso mesmo. Roberto Mariani nos conta o banal, o que enfrentamos todos os dias, as nossas pequenas tragédias (mas que, para nós que as sentimos em nossas próprias peles, não são pequenas – são simplesmente tragédias).
O aborrecimento de se ver preso em uma rotina que nada acrescenta ao que somos; a tristeza de perceber que ganhamos pouco (esse também é um tema que deveria ser mais abordado na alta literatura – e não apenas voos herméticos sobre o poder, o amor e a crise existencial do homem branco de meia idade) e seu sentimento de angústia, raiva e impotência que vem dessa mesma tristeza; o amor (amor?) retratado como um sentimento de interesse financeiro, em que um homem procura arrecadar cada vez mais dinheiro para que a mulher amada permaneça junto a ele (mas o que ele tem para dar é dinheiro – alguém aí se lembrou de Marcela, a famosa personagem machadiana? – e não há espaço para a idealização do amor, pois ela se interessa apenas pelas coisas boas que o dinheiro traz e ponto final).
Enfim, uma obra curta, mas profunda. Um livrinho (no tamanho e na espessura) que aparenta ser apenas um relato banal sobre a vida no escritório, mas não é de pequenas tragédias, de insatisfações cotidianas, de esparsas alegrias que a vida é feita (sim, lembrei-me de um poema de Cecília Meireles)? E assim vamos vivendo...

Georgeton.Leal 20/03/2021

Vidas interligadas pelo ofício
Por já ter vivenciado diversas situações similares com as descritas nesses contos, minha identificação foi logo imediata. A maneira como Roberto Mariani descreve os episódios ocorridos no "microcosmo" do escritório é deliciosamente agradável, ainda que por vezes possa ser brusca. Também há sutilezas dentro da medida certa de cada história, todas, de alguma forma interligadas com a instituição chamada de "A Casa". A ambiência urbana do início do século XX é outro dos pontos interessantes, oferecendo um plano de fundo bem sugestivo à obra.
Os "ossos do ofício" que envolvem os trabalhadores da "Casa" são sempre acompanhados por circunstâncias peculiares que, mesmo parecendo banais ou rotineiras, podem revelar muito do caráter dos personagens. Tudo isso em meio a momentos de surpresa, frustração, triunfo e até indiferença por parte dos mesmos.
No final, desejei muito que esse livro fosse um pouco maior. Em boa parte dos contos fiquei querendo um pouco mais, principalmente, no desfecho. No entanto, percebi que talvez a intenção do autor fosse justamente ser breve, além de deixar algumas questões em aberto para que o próprio leitor tirasse suas conclusões.

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