Devesa 06/02/2021
Ver, belíssima poesia
Os poemas fortes e intensos deste livro balançam entre o não agir e a combatividade, entre uma poética da ingenuidade e o pessimismo mais visceral, entre poemas extremamente pessoais e outros que se inserem numa temática social.
Em comum têm a ironia, a intensidade de sentimentos e uma crítica feroz à hipocrisia, mesquinhez e conformismo, venha de onde vier e tome que forma tomar.
As aparentes contradições desta poética paradoxal casam-se em poemas de grande autenticidade onde se patenteia a possibilidade de uma vida interior rica e multifacetada, e de celebração da poesia, da imaginação, do pensamento e do auto-conhecimento, mesmo que essa vida seja vivida através da fuga para um mundo de sonho, onde se é Africano da Vida e onde se desempenham Tarefas cuja validade maior é serem inúteis. A coroar o encontro de todos os paradoxos vemos o poeta que vive na solidão e na fuga a uma vida comum, o mais humilde dos seres, isolado, solitário, inadaptado até, encarnar, pela forma autêntica como escolhe o seu próprio caminho e vive a sua liberdade, o eleito; é quase uma lógica cristã em que o mais humilde dos seres, aquele que veio para ser pobre ao lado dos pobres é que é o filho de Deus. Aqui, aquele que assume a liberdade até ao limite da fuga e da imaginação pela vivência da poesia, é o eleito, mesmo que, paradoxalmente, isso o leve a tornar-se ninguém.
site: www.abiliobrito.com