Fabio Shiva 15/09/2018
sensual melancolia
Erótica e melancólica, picante e pungente, lasciva e lacrimosa... esses são alguns dos pares de opostos que me ocorrem diante da Poesia de Florbela Espanca. Embora seja uma autora do início do século XX, penso que sua obra é marcada por uma profunda dicotomia barroca: o corpo arde de sensualidade, enquanto a alma congela de tanta tristeza! Uma combinação que pode não agradar a todos os gostos, mas que certamente causa uma profunda impressão em qualquer coração dotado de um mínimo de sensibilidade poética.
Pois acima de tudo Florbela Espanca é uma grande Poeta! Seus sonetos são belíssimos, dotados de leveza, ritmo e encantamento. Ela foi a única mulher a ser homenageada, dentre os poetas clássicos, em nosso projeto Doce Poesia Doce (https://www.facebook.com/poesianasarvores/), em 2017. Pois é a Poeta de língua portuguesa de maior expressão cuja obra já se encontra em domínio público (eu não conheço nenhuma outra, agradeço se alguém puder indicar). Isso por si só fala da característica vanguardista de sua Poesia, precursora dos movimentos de libertação feminina.
Por falar em domínio público, este livro é fácil de encontrar para leitura online:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000094.pdf
Eu me pergunto se ficaria tão sensível à tristeza dos poemas de Florbela se não soubesse que o ponto final de sua existência foi um comprimido a mais (ou uma caixa) de Veronal, na madrugada de seu aniversário de 36 anos. Muito me intriga o fato de tantos escritores escolherem o suicídio. Tanto que escrevi um conto a respeito, “O Armazém”, onde cito Florbela, muito antes de ter lido sequer um de seus lindos poemas:
O ARMAZÉM
https://www.wattpad.com/567654057-labirinto-circular-o-armaz%C3%A9m
Encerro esta resenha com um belo exemplo da Poesia de Florbela Espanca:
VERSOS
Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma...
Versos!... Sei lá! Um verso é o teu olhar,
Um verso é o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
Meus versos!... Sei eu lá também que são...
Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez...
Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês...
http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2018/09/a-mensageira-das-violetas-florbela.html
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