Ley 14/05/2021Um plot óbvio demais ou somente uma distração para algo maior?C. J. Tudor sempre traz tramas repletas de mistério. Garotas Em Chamas é um livro que cumpre bem seu objetivo, trazendo um enredo cheio de nuances para o leitor tentar resolver. A protagonista é uma vigária chamada Jack. Ela é transferida para uma pequena cidade devido a uma tragédia que, inevitavelmente a afetou.
Jack é designada para assumir o cargo de reverenda em uma nova igreja na pacata cidade de Chapel Croft. Ela e sua filha possuem uma relação delicada, com altos e baixos, e pontos que ainda precisam resolver. O mistério começa aos poucos. A cidade, os moradores e possíveis fantasmas carregam a história em um clichê que aos poucos é destrinchado.
A cidade é, com certeza, o que traz mais mistérios. O lugar foi marcado por algumas tragédias, desde mártires e desaparecimentos que ainda sondam os moradores. Como reverenda, Jack se destaca por fugir bastante do que esperávamos de suas atitudes como tal. Suas ações escapam do politicamente correto de seu cargo, e torna o leitor íntimo dos fantasmas que a personagem ainda esconde.
A protagonista ser uma mulher difere-se das outras obras da autora, desenvolvendo melhor a personagem, tanto focando nas dificuldades de sua profissão quanto na discriminação por conta de seu sexo. O livro é lento, e aos poucos entrega o mistério. Há uma mistura entre as discussões que a autora trás, mesclando temas sofre fé e o que realmente leva a personagem a ter certas atitudes.
O livro se divide entre perspectivas. Enquanto Jack narra a história em primeira pessoa, sua filha Flo estende a narração em terceira pessoa. Ainda há breves vislumbres de outros personagens, que são como um quebra cabeça tomando forma progressivamente. A autora tem uma mudança em relação às revelações, que faz com que o plot da história fiquei escondido em meio a algo óbvio.
Para o leitor, é fácil desconfiar de praticamente todos na história. O ambiente facilita para que o façamos. Porém, além disso, também há a influência da protagonista para que sejamos devidamente influenciados. A experiência de ler uma história em primeira pessoa é que sempre estaremos mais íntimos do personagem, ao mesmo tempo em que podemos ser enganados pelo mesmo.
Por isso, mantive os olhos abertos na leitura, mas ainda sim tive uma certa influência da narração em minhas teorias. De algum modo, a autora dá pistas óbvias demais que não dá para confiar, e mesmo assim entrega algo mais grandioso. Gostei bastante da mistura de temas, principalmente pelas revelações serem múltiplas. É uma história bem elaborada, mas que no entanto há lentidão na leitura.
No fim, todos os personagens de um jeito ou de outro contribuem para a trama de modo que a deixe complementada. Em certos momentos não fui capaz de acertar, mas quando a conexão dos fatos finalmente fez sentido, não consegui deixar de pensar se em uma releitura eu teria a mesma visão dos fatos.
Dessa vez, a autora diminui os elementos sobrenaturais da trama, deixando-o mínimo. O trunfo da história está no mistério e nas revelações. O final é um pouco em aberto e ficaram algumas questões incompletas. Porém, é algo satisfatório e um bom livro que explora questões religiosas e familiares com um bom mistério.
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