Coisas de Mineira 08/06/2021
“Em Uma Família Quase Perfeita” (En helt vanlig familj, 2021, Editora Suma), iremos conhecer Adam, Ulrika e a filha do casal que recém completou 18 anos, Stella. Esse foi o último thriller sueco que li. E como fã desse gênero, fui livre das amarras, de julgamentos, e só esperei o que a história tinha para me entregar. O livro veio em parceria com a Cia das Letras, e caiu como uma luva nas mãos da colunista que é a louca dos romances policiais, principalmente os nórdicos.
Aviso de gatilho: agressão sexual, estupro, assassinato
“Éramos uma família perfeitamente normal, e, então, tudo mudou.”
Adam é um pastor, que é quem narra essa primeira de três partes do livro. Ele nos apresenta Ulrika (sua esposa, e advogada), assim como sua filha Stella (que tem sonhos de viajar pela Ásia). Nesse primeiro momento é relatado um pouco da rotina da família, e um jantar que fizeram em um restaurante, para comemorar o aniversário de 18 anos de Stella. O pai, Adam, parece ser um superpai, daqueles apegados, cuidadosos e que querem tomar conta de tudo a todo tempo. Stella logo se despede da família, pois iria se encontrar com amigos.
O pai ficou um tanto frustrado. Mas, ok! É a vida. Os filhos crescem, não é mesmo? Então Adam e Ulrika continuam normalmente sua noite, lendo cada um, seus livros, e dormitando pelo sofá da sala. Bom, acontece que a existência dessa “Uma Família Quase Perfeita” vai sofrer uma reviravolta que ninguém jamais esperaria. Nada nunca mais será como já foi. Pois, Stella foi acusada de assassinar um homem bem mais velho que ela. E a garota vai parar na prisão enquanto se dão as investigações.
“Mentir é uma arte que poucas pessoas dominam completamente.”
Uma vez que seus pais nem sabia que a garota conhecia esse homem, passam a perceber, cada um em seu próprio viés, que eles não conhecem tão bem sua filha. Assim como Stella se distanciou dos dois nos últimos tempos, trazendo valores diferentes e atitudes que eles sequer imaginavam. Ainda tem o fato de Adam ser muito envolvido com a Igreja da Suécia, e pesa as repercussões, como sua filha acreditava e depois deixou de lado essa empolgação pela religião do pai. Já Ulrika não é praticante, nem acompanha Adam nos preceitos da religião que ele segue.
Logo passamos pela narrativa no ponto de vista de Stella. Ali, compreendemos um pouco mais o que realmente acontece na trama. Pois, Stella é o foco principal de “Uma Família Quase Perfeita”. Ela está na prisão, e não tem contato com seus pais. Só sabe “notícias” de fora, ou a respeito deles, através de seu advogado, que é um velho conhecido e colega de sua mãe. Apesar de sua resistência à atendimentos psicológicos (por não os achar eficiente nas outras vezes as quais fez terapia), Stella tem seus momentos com a psicóloga da prisão.
“Ignorância é poder…
… a ignorância de uma pessoa era o poder de outra.”
Aparentemente, mesmo que através da literatura, a profissional consegue alcançar aos poucos a garota. Livros com temas que interessam Stella a faz ter outros vislumbres sobra a vida. Ela achava que não gostava de ler. Mas, pode ser que não tenha nunca encontrado o tipo de literatura que chamasse sua atenção, né mesmo? Livros como A Redoma de Vidro, Crime e Castigo, e O Apanhador no Campo de Centeio, são algumas das obras que Stella devora enquanto encarcerada, esperando pelos resultados das investigações, assim como o provável julgamento.
É nessa segunda parte que iremos descobrir como Stella conheceu o homem assassinado, qual história há por detrás disso tudo, bem como seu relacionamento com sua melhor amiga. Iremos perceber como a escrita nos faz acompanhar um ponto de vista diferente a cada narrativa, fazendo-nos tender para o que aquela personagem está nos contando. Não tinha como imaginar o que poderia ter acontecido realmente com Chris, o cara assassinado. Quem o matou, e por quais motivos? Stella é realmente culpada, como apontam as evidências? Ou será que isso foi tudo armado, e ela está sendo vítima das circunstâncias?
“Ser pai ou mãe significa nunca conseguir relaxar totalmente.”
Chegamos na terceira e última parte de “Uma Família Quase Perfeita”, onde a narradora dos fatos mais presentes é Ulrika, a mãe de Stella. Ela não é uma das testemunhas, então acompanharemos suas impressões e relatos durante o julgamento da garota. Cada narrador destrincha um pouco da história, que faz com que consigamos ir juntando as pontinhas, para construir uma história como um todo. Assim, Ulrika também tem suas doses de segredos a nos entregar para que possamos enxergar com outros olhos tudo que está acontecendo.
Todas as vozes narrativas são muito bem divididas, e verossímeis. Mesmo que às vezes, os narradores não sejam assim tão confiáveis. Achei a história bem construída, contudo, nos fornecendo o material suficiente para irmos desvendando o final da trama. Entretanto, mesmo eu tendo “descoberto” o que tinha acontecido de fato, não foi nem um pouco desanimador, ou desestimulante. A gente, esse pessoal doido por livros policiais, acaba por ir sacando uma coisa ou outra a cada livro lido. Mesmo que muitos autores ainda nos façam completamente de bobos, às vezes, raramente, eu consigo enxergar o fio da meada.
“É tão fácil acreditar que o melhor ainda está por vir. Desconfio que esse seja o maior defeito dos seres humanos.”
Concluindo, para não “falar” demais, deixo você aqui na expectativa do que vai acontecer durante o julgamento. Quais verdades serão mostradas. Existem mentiras que ficarão encobertas? E a pergunta mais forte e poderosa, que é “o que você seria capaz de fazer para defender sua família?”. Recomendo a leitura a todos que gostam desse clima de mistério e investigação. Porém, fique atento aos gatilhos, se você for mais sensível para os temas abordados.
“O que é um ser humano sem sonhos?”
Por: Carol Nery
Site: www.coisasdemineira.com/uma-familia-quase-perfeita-m-t-edvardsson-resenha/