Ana Júlia Coelho
10/06/2024Jamie, judeu, foi intimado pela mãe para participar da campanha eleitoral de Rossum. Maya, muçulmana, também fez acordo com a mãe: se participar da prospecção de votos, ganha um carro. Os dois se tornam uma dupla que bate de porta em porta tentando angariar votos pra esse candidato.
Algo forçado se tornou prazeroso, ainda mais com o clima que pintou entre os dois, e eles redobram os esforços quando um projeto de lei está para ser aprovado: a proibição do uso de hijab em público.
A narrativa intercala entre o ponto de vista de Maya e de Jamie. Os capítulos extensos, aliados a esse contexto político, me deixaram bem desanimada no início. Tem um personagem engraçadinho ou outro, mas isso não salvou a história até mais da metade do livro. Quando a política foi deixada um pouco de lado e a história focou mais na relação Jamie-Maya foi que conseguiu prender mais a minha atenção.
Algumas construções de personagens me incomodaram. Jamie, no início, é retratado como a pessoa mais desastrada e sem jeito da face da terra, inclusive protagonizando um episódio bem humilhante no mercado. Depois, faz mais uma bobagem e deu, os 85% restantes do livro ele, incrivelmente, não derrubou nem um copo de água. Sophie, prestes a completar os 13 anos, parece ter 30, de tão esperta e desenrolada para lidar com as coisas. Um pouco intrometida a ponto de me incomodar, mas mais sagaz que o irmão mais velho.
Nos agradecimentos as autoras falam sobre o desespero ao ver Trump sendo eleito, e, lendo o livro, fica muito claro que essa foi a motivação da criação da história. Em vários momentos citam esse projeto de lei 28, eles até tentam fazer algo contra, mas o foco fica no bater de porta em porta. Claro que falam um pouco sobre intolerância religiosa, mas, em 400 páginas às vezes enroladas, poderiam ter aproveitado para incluir mais diálogos sobre respeito e sair do “não acredito que vão aprovar isso”.
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