Leitora Viciada 18/01/2013Este livro rendeu à Carolina o Prêmio Jovem Brasileiro de 2011 e depois de ter lido e me apaixonado por O Inverno das Fadas, seu segundo romance (resenha), eu não aguentava mais de ansiedade para ler seu romance de estreia A Fada.
A autora, embora jovem, batalhou muito para que o livro A Fada fosse publicado. Ela confiou em seu trabalho e conquistou o sucesso perante a mídia e o público leitor.
Agora o livro ganha uma edição definitiva lindíssima pelo selo Fantasy da Casa da Palavra. Acho que ele não poderia receber um tratamento melhor. A capa está deslumbrante com a fada brilhante de costas iluminando uma trilha em meio a uma floresta. No centro de sua visão uma silhueta masculina encaixa-se exatamente no meio do lampião ao longe.
A imagem simboliza o grande caminho a ser desbravado pela fada Melanie, que possui uma missão na Terra a ser cumprida antes de assumir o trono em Fairyland. A floresta mostra a enorme ligação da magia com a natureza. O esboço do homem seria parte de seu destino? Sim, existe um homem em seu caminho. Estará lá para ser guiado ou guiá-la?
Além da bela imagem, o título parece feito de luz, assim como as borboletas presentes na contracapa: Tão reais que parecem saltar do papel! E o fato do "A" inicial e final estarem "cortados" na verdade é uma jogada de marketing. Ao colocar um livro ao lado do outro nas livraras percebe-se claramente que todos se completam e se ligam. Seria outra interpretação de Melanie se sentir incompleta e buscar por si própria?
O livro é realmente muito bem diagramado e trabalhado. Existem milhares de borboletas enfeitando-o.
A Fada não ganhou apenas um visual à altura do conteúdo nesta edição pela Fantasy - Casa da Palavra; ganhou um conto extra com trinta e seis páginas. O título é Outra Vez na Escuridão - História baseada no romance O Inverno das Fadas e é uma noveleta (acho uma longa história para ser apenas um conto) com a Leanan Sídhe Sophia.
Esta "fada negra" é a protagonista de O Inverno das Fadas e aqui a Carolina nos mostra uma história sombria, melancólica e dramática. A vítima é uma jovem cantora britânica que alcançou o estrelato com sua personalidade e voz fortes e consagrou-se eternamente como a diva do pop jazz. Óbvio que o leitor descobre em quem Carolina se baseou para criar Jade. É uma homenagem bela e ao mesmo tempo um alerta ao perigo de uma vida sem regras e inconsequente.
Uma história tão madura e intensa que já seria o motivo para eu comprar esta edição de A Fada. Adorei ler mais páginas com Sophia, uma personagem que realmente me cativa. Adoraria futuramente ler mais dela.
Mais antes de Outra Vez na Escuridão temos o romance A Fada com sua nova revisão.
A primeira surpresa que tive ao ler A Fada é que Carolina realmente é talentosa, pois não parece ser uma história escrita por uma moça tão jovem. Não que a história seja tão madura quanto O Inverno das Fadas, mas a facilidade que a autora tem em escolher as palavras e trazer magia às páginas é visível logo no começo.
A Fada é um livro juvenil, intenso, cheio de sentimentos exagerados, como todos os adolescentes são. Já O Inverno das Fadas, por ser mais sombrio e explícito, é para o público jovem adulto. Talvez isso tenha sido influenciado pela idade que Carolina tinha ao escrever cada um dos livros.
Notei também que a escritora evoluiu muito na forma de transportar os sentimentos para a história e delinear personalidades.
Melanie é uma fada que sofre e possui dúvidas profundas em relação ao seu futuro. Ela é a Princesa das fadas, mas sabe que tem uma missão a cumprir na Terra. O problema é que sua vida sofreu uma reviravolta chocante e a fada está perdida e ao mesmo tempo com os sentimentos à flor da pele.
Ela não carrega o fardo mortal de Sophia de O Inverno das Fadas, mas ter um aniversário como o último a deixou deprimida e a modificou para sempre.
Seu pai faleceu e sua mãe a abandonou. E ela recebeu uma marca e a descoberta de que é uma fada, precisa encontrar seu rumo, cumprir a sua missão e assumir o trono em Fairyland. Tudo isso de uma só vez.
Melanie não sabe por onde iniciar essa jornada dura e se sente fraca.
A autora utiliza da Fantasia, magia e de uma fada para expor vários sofrimentos adolescentes do mundo real. Através das perdas de Melanie, o leitor percebe que não está sozinho, que infelizmente a vida é difícil e que podemos a qualquer momento perder nosso porto seguro e ter de enfrentar o mundo.
Particularmente me liguei à dor de Melanie, pois perdi minha mãe aos quinze anos de idade e meu pai aos vinte e um. Então ela perder o pai logo no próprio aniversário e ser abandonada pela mãe me emocionou muito. A protagonista pode ser uma fada, porém seus dilemas e sentimentos são reais como os de qualquer outro adolescente que enfrenta traumas. A dor é real.
Outro ponto abordado pela autora é o amor juvenil. Uma paixão arrebatadora, um romance do tipo que parece eterno, forte, inconsequente. Um amor impossível de ser controlado, que chega a ser possessivo e ciumento e em outros momentos carinhoso e aconchegante. Opostos que se atraem e se repelem a todo instante. Uma relação marcante e única como o primeiro amor. Qual adolescente que não sofre um amor intenso?
Melanie se envolve com um rapaz incomum, assim como ela. Ele também possui o psicológico abalado, obrigações a serem seladas e um fator que o diferencia dos humanos comuns. Um rapaz bruxo, de uma família muito poderosa e tradicional no meio mágico.
Um relacionamento fugaz e faminto. Um bruxo e uma fada se apaixonam loucamente e precisam descobrir cada um o seu caminho e seu papel na vida.
E esse é o terceiro ponto crucial nas entrelinhas: A busca pelo "eu", as dúvidas pessoais, traçar o próprio destino. Como todo adolescente, a fada e o bruxo precisam assumir cada um o seu papel e suas respectivas responsabilidades.
Enquanto cada um guarda as suas dores, eles explodem em um romance. Mas eles sabem que precisam ir além e encontrar cada um seu verdadeiro caminho.
Além de ser um livro sobre a adolescência, perdas sofridas nessa fase, o primeiro grande amor e a busca pelo futuro e pela própria essência, existe magia.
Mágica, feitiços, seres e mundos sobrenaturais enfeitam a trama transformando os receios de uma adolescente nos receios de uma adolescente fada, deixando o livro mais interessante e atraente ao jovem leitor.
Atraente também está a narrativa da Carolina. Mesmo com os temas abordados, ela é descontraída, leve e agradável. Não é cansativa e o romance arrebatador é intenso como os amores e dores adolescentes.
A Fada foi dividido em vinte e cinco capítulos e um epílogo. Existe também outra divisão paralela, que é pela data. Independentemente da numeração dos capítulos, estes são acoplados as datas. Tudo começa em 20 de fevereiro e vai até... Não posso contar!
E para quem acha que tudo ocorre rápido e intensamente demais em A Fada, pense em como são os sentimentos, hormônios e impulsos juvenis. Depois acrescente o peso da magia e Fantasia e então sim analise o livro.
Ele cumpre o seu papel, que é entreter o público juvenil com Fantasia e seres sobrenaturais e fazer esse público se identificar com os temas abordados..
Após ler e analisar A Fada e O Inverno das Fadas tenho algumas conclusões: Carolina evoluiu muito como escritora, mas já possui o dom; cada um dos livros foi escrito em uma época diferente, tanto da vida e idade da autora quanto o momento cultural e editorial; cada um possui um público alvo diferente; ambos são ótimos e atingem seus objetivos; Carolina Munhóz ainda será uma escritora melhor e de mais sucesso se continuar seu trabalho nessa linha.
Por ter vinte e oito anos de idade, gostei mais de O Inverno das Fadas, porém A Fada me fez perceber e relembrar de tanta coisa que aconteceu comigo há dez anos atrás, quando eu tinha a idade de Melanie.