Licre 19/09/2023
Excelente leitura
Que livro bom, ótimo. Um real 5 estrelas. Simone retrata nesse livro, nas personagens Sylvie e Andrée, de forma lúdica, a sua vida e relação com a querida e inseparável amiga Zaza.
O crescimento delas, de sua relação, à pressão da sociedade, familia e igreja, os amores e sofrimentos, tao profundos, tudo descrito de forma a colocar o leitor ali, junto delas.
Me chamou muito atenção como apesar de ser tão diferente de todos, a Andrée/Zaza sofrer tanto com a pressão em si. Temos visto personagens com características parecidas serem os mais disruptivos, mas como a trama não é apenas ficção, a realidade ali exposta, escancarada, é que na verdade são esses os que mais sofrem.
Que tristeza ler e saber que uma alma como a de Zaza tenha partido tão cedo, mas ao mesmo tempo Simone a fez presente, e a carregou em si e nessa obra.
Deixo uma citação falando sobre as obrigatoriedades da religião e o sentimento que até hoje é carregado e atribuído a crianças e adolescentes sem nem mesmo saberem do que se tratam direito.
?(?)Meu olhar acompanhou as gêmeas; estavam atarefadas e sentiam-se im-portantes; na idade delas a religião é um jogo divertido. Eu tinha brandido auriflamas, jogado pétalas de rosas diante do padre que, ataviado de ouro, carregava o Santíssimo Sacra-mento; havia ostentado um vestido de primeira comunhão e beijado grandes pedras violeta nos dedos dos bispos; repositórios embolorados, altares do mês de Maria, presépios, procissões, anjos, incensos, todos aqueles aromas, aquelas atividades, aqueles ouropéis cintilantes haviam sido o único luxo de minha infância. E, no deslumbramento de tanta magnificência, como era agradável sentir acima de nós uma alma branca e radiante como a hóstia no coração do osten-sório! Depois, um dia, alma e céu se entenebrecem, e vemos, instalados em nós, remorsos, pecado, medo. Mesmo quando se limitava a considerar o aspecto terreno das coisas, Andrée levava terrivelmente a sério o que acontecia ao seu redor; como poderia deixar de ser tomada pela angústia quando encarava sua vida sob a misteriosa luz do mundo sobrenatural?
Enfrentar a mãe talvez fosse revoltar-se contra Deus: mas, submetendo-se a ela, talvez se mostrasse indigna das graças que recebera. Como saber se, amando Pascal, não estaria servindo aos desígnios de Satã? A cada instante, a eternidade estava em jogo, e nenhum sinal claro indicava se o que se estava fazendo era ganhá-la ou perdê-la! ? Pág 92.