Queria Estar Lendo 15/10/2021
Resenha: Gótico Mexicano
Gótico Mexicano, livro de Silvia Moreno-Garcia publicado por aqui pela editora DarkSide Books, é exatamente o que seu título diz: um horror gótico ambientado no interior do México de 1950, onde uma mulher precisa enfrentar estranhos acontecimentos para ajudar sua prima.
Depois que o pai de Noemí recebe uma estranha carta de sua sobrinha recem-casada, Catalina, ela é enviada para o interior do México afim de averiguar as alegações da prima e convencer Virgil, o marido, a consultar um psiquiatra.
No entanto, quando Noemí chega em High Place, a casa da família, logo percebe que tem algo errado. A casa é decadente, tomada por fungos, com empregados estranhamente calados e muitas histórias de fantasmas sobre a família.
Com ajuda do médico da pequena vila e de uma curandeira, Noemí desvenda do passado trágico da família de Virgil - britânicos que se instalaram no México no fim do século passado a fim de explorar uma mina de prata que, hoje, está alagada e fora de funcionamento.
No entanto, quanto mais Noemí investiga a família, se passado e as alegações da prima, mais confusa ela fica. Tentando fazer com que tudo siga um sentido lógico, ela acaba colocando a própria vida em risco.
Fiquei completamente obcecada por Gótico Mexicano assim que ele foi lançado lá na gringa. E quanto mais tweets de Silvia Moreno-Garcia eu via, mais empolgada ficava. O horror é algo que descobri gostar apenas recentemente, mas Silvia trata ele com maestria.
O bizarro é levado a um novo nível em Gótico Mexicano e eu amei simplesmente tudo na história. A forma como os personagens são descritos e construído, como cada cena conduz a história. Aliás, como cada cena que existe no livro tem um propósito, o que faz com que tenhamos um fluxo constante de revelações e informações importantes aparecendo na história.
Também gostei muito do ritmo da narrativa. Como menciona acima, cada cena tem propósito, não teve nenhuma que estava ali sem acrescentar algo a história, e isso fez com que não se quebrasse o ritmo. É claro que o início ainda é um pouco lento, mas faz sentido, uma vez que muito da história é sobre percepção.
É uma espécie de slow burn na construção, então não tem muitas cenas de ação. Mas quando chegamos no clímax, a ação segue uma crescente maravilhosa e tudo vai nos surpreendendo. É o tipo de história que vai deixando pequenos pedados pelo caminho e no fim você fica MAS É CLARO e tudo faz sentido.
Particularmente, acho que Gótico Mexicano faz isso muito bem. Essa coisa de apresentar informações de forma constitente e na hora certa, para que tudo faça sentido quando chegar a grande revelação, mas sem entregar muito.
Tem coisas que um leitor mais atento pode perceber desde o começo, especialmente com as conversas sobre eugenia e superioridade racial. Mas de forma geral, tudo me foi uma grande surpresa.
Noemí é uma protagonista que eu amei desde o primeiro segundo. Ela é um socialite, mas inverte a ideia de que garotas bonitas, que gostam de moda e da vida social são fúteis e burras. Ela quer estudar, se interessa por antropologia, ama a família ferozmente não aceita que façam menos dela por ser bonita ou uma mulher, em uma época onde isso é tudo que basta para ser subestimada.
Teve alguns momentos que eu fiquei NOEMÍ PELAMOR DE DEUS por causa de seu comportamento, mas é compreensível que ela agisse de certa forma, considerando a cultura e a época em que a história se passa.
Os habitantes de High Place basicamente todos me deram asco, odeio eles com muita força - menos o Francis, talvez. Vrgel, seu pai Haward e a tia Florence são muito bem escritos e tem um quê de vilões de novela mexicana (se novelas mexicanas mexessem com o sobrenatural) e eu simplesmente amei isso. Queria poder entrar na história e arrastar a cara deles em um muro de chapisco? Sim! E por isso eles foram personagens interessantíssimos de se ler.
Já o Francis eu ainda não sei bem como me sinto. Acho que foi um dos personagens mais complexos de Gótico Mexicano, devido as suas motivações e personalidade. Mesmo assim, ainda não tenho certeza nenhuma sobre ele.
O horror bizarro que Silvia Moreno-Garcia criou, no entanto, é o ponto alto da narrativa. A forma como ela desenvolveu tudo de forma "crível", como se realmente pudesse ser algo que existisse no nosso mundo, foi incrível e arrepiante.
E, embora eu não possa falar muito do clímax para não dar spoilers, eu absolutamente amei toda a sequência e como até na última página - literalmente - eu não sabia ao certo o que esperar, tamanha a sensação de incerteza da narrativa.
Além disso, um ponto que vale a pena ressaltar que é Silvia Moreno-Garcia é mexicana, atualmente morando no Canadá, e o intuito em escrever Gótico Mexicano foi trazer uma representação sem estereótipos de personagens mexicanos - além de explorar a relação de colonização. Coisas que, na minha opinião, ela fez muito bem.
Enfim, amei Gótico Mexicano do início ao fim e já quero ler todos os livros da Silvia. Então comprem, leiam, amem e indiquem aos amigos, para que mais histórias dela cheguem por aqui!
Lá no IG eu e a Denise fizemos uma live discutindo Gótico Mexicano. Você pode assistir abaixo. A live é com spoilers, mas os primeiros 30 minutos não e avisamos quando os spoilers vão começar, para que você possa parar antes. Se você não leu o livro ainda, realmente recomendo que não busque por spoilers, a leitura vai ser muito mais gratificante!
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