Zeka.Sixx 11/03/2022
Mais um imperdível capítulo do "Welshverso"
Este é o quarto - e último - livro da "saga Trainspotting", formada pela "prequel" Skagboys, pelo celebrado "Trainspotting" e por sua continuação, "Pornô". Poderia incluir também o livro "O Artista da Faca" - que não li -, mas ele é mais uma "aventura solo" do personagem Begbie, então não conta.
Ambientado em 2015/2016, o romance se passa cerca de 17 anos após os eventos de "Pornô". Renton, Sick Boy, Spud e Begbie, os velhos amigos do bairro do Leith (em Edimburgo/Escócia), estão todos agora na casa dos 50 anos. Renton se tornou um bem-sucedido empresário de DJs de música eletrônica; Sick Boy mora em Londres e tenta emplacar sua mais nova empreitada, uma agência de acompanhantes de alto nível; Spud continua vivendo à margem da sociedade e o ex-psicopata Begbie, de forma surpreendente, se reinventou como um artista plástico de sucesso, morando na Califórnia com sua esposa e duas filhas.
Como esperado, não demora muito para que as coincidências cósmicas do destino façam com que os caminhos dos quatro amigos voltem a se cruzar. Antigos rancores são despertados, rivalidades são reacesas, contas são acertadas. Welsh insere todos os elementos nos quais é mestre: drogas, violência, sexo, nostalgia, futebol (há um capítulo memorável sobre uma vitória épica dos Hibs, time do coração dos protagonistas), referências à cultura pop...
Mas o que mais se destaca é um elemento que já havia me chamado a atenção em "Pornô": o peso da passagem do tempo sobre os personagens. Se em "Pornô" eles refletiam sobre o impacto de ter rompido a barreira dos 30 anos, aqui eles enfrentam os clássicos dilemas da meia-idade, enfrentando a dura realidade de que se tornaram tiozões, obsoletos em um mundo em que tudo é efêmero como uma postagem de rede social, enquanto, por mais que se esforcem em maior ou menor grau para mudar, seguem cometendo os mesmos erros e mantendo os maus hábitos que os detonaram trinta anos antes.
Senti um sensação de "fim de ciclo" nesse livro; me parece que será realmente o último da gangue de Trainspotting, já que não ficam pontas soltas para uma eventual continuação. Se for assim, Welsh nos deixou mais uma obra-prima do seu "Welshverso".
"- Os DJs não usam vinil desde que John Robertson torcia pros Hibs. Se você não estivesse doidão desde a merda do 11 de Setembro, teria percebido essa [*****]. É por isso que você tem braços de uma merda de macaco, carregando essas caixas. Uma merda de USB, é só disso que você precisa. Larga seu set no Pioneer, aperta play e dá socos no ar como um babaca imbecil. É ISSO que é ser DJ agora. Tome tecnologia, não ecstasy!"