Enciclopédia negra

Enciclopédia negra Lilia Moritz Schwarcz
Flávio dos Santos Gomes




Resenhas - Enciclopédia negra


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/05/2021

Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras
Editora Companhia das Letras - 720 Páginas - Projeto gráfico: Victor Burton - Lançamento: 2021.

Este livro pretende dar visibilidade a uma grande parte da nossa história – normalmente ignorada nos registros oficiais – a partir de 417 verbetes individuais e coletivos sobre 550 personalidades negras, de sexo, gênero e orientação sexual distintos, resgatando as biografias de políticos, artistas, esportistas, profissionais liberais e pessoas comuns, assim como de revolucionários e líderes religiosos que se tornaram lendas na luta contra a escravidão, desde meados do século XVI até o século XXI, em todas as regiões do Brasil.

Na verdade, a carência de informações nos arquivos historiográficos sobre personagens afro-brasileiros é mais um reflexo do racismo estrutural que persiste em nossa sociedade até hoje, exigindo um esforço monumental dos autores para viabilizar esta Enciclopédia negra e reconstituir o passado com base em fragmentos de documentos coloniais, diários e publicações jornalísticas. Uma extensa referência bibliográfica e índice remissivo fazem parte da obra, contribuindo para pesquisas nas áreas de história, sociologia e antropologia.

"Um grande e constrangedor silêncio habita a maior parte dos arquivos brasileiros e coloniais e, sobretudo, dos nossos manuais e livros didáticos. Neles, enquanto os registros de atos empreendidos pela população branca estão por toda parte, as referências acerca da imensa população escravizada negra que viveu no país, desde meados do século XVI até praticamente o fim do século XIX, são bem escassas. Ainda são muito pouco mencionados os negros e as negras que conheceram o período de pós-abolição, aquele que se seguiu à Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a qual, longe de ter sido um ato isolado e 'redentor', fez parte de um processo coletivo de luta incessante pela liberdade, protagonizado por negros, libertos e seus descendentes. Por fim, se hoje as fontes documentais se multiplicaram, fora da bibliografia especializada são raros os registros das atuações desses grupos, e também do racismo e da violência cotidianos, com seus personagens sendo condenados, ao menos numa história mais oficial, a uma dupla morte: a física e a da memória."

Um reflexo desta invisibilidade documental é a ausência de retratos sobre os biografados, sendo assim, como parte do projeto, os organizadores convidaram trinta e seis artistas negras e negros para criar imagens inspiradas nos verbetes desta enciclopédia e nos personagens, alguns deles francamente desconhecidos do grande público, que foram parcialmente incluídas no livro e na exposição organizada pela Pinacoteca de São Paulo que ficará disponível de 01/05/21 a 08/11/21 exibindo o conjunto completo dos 106 trabalhos.

A imagem na capa do livro, por exemplo, foi criada pela pintora Mônica Ventura e representa Afra Joaquina que "vivia em Salvador e era casada com seu ex-senhor, Sabino Francisco Muniz, de origem africana como ela, o qual, uma vez liberto, pagou pela liberdade da esposa ao mesmo tempo que se tornou proprietário de outros escravos. Sabino morreu entre 1870 e 1872, deixando todos os seus bens para a mulher e a liberdade para duas escravizadas de nome Severina e Maria do Carmo, contanto que permanecessem ao lado de Afra até a morte desta. As relações de Afra com essas cativas não foram, porém, amistosas, tendo levado até a um processo cível. O exemplo de Afra mostra como era complexo o mundo que a escravidão concebeu."

"Não se trata, aqui, de inventar heróis ou enumerar vítimas, muito menos de construir narrativas subalternas ou subalternizadas. Partindo da fundamental contribuição historiográfica, antropológica, literária e sociológica dos últimos quarenta anos, tentamos reler contextos, processos sociais, horizontes de expectativas, envolvendo vários personagens, auscultando dessa forma vidas e trajetórias repletas de propósitos e de planejamentos. Incompletos para aqueles que viveram no mesmo período e, sobretudo, para nós, que tentamos encontrá-los tantos séculos depois, esses protagonistas ergueram mosaicos de experiências, movimentos históricos profundos, ainda bem pouco conhecidos entre nós."

Uma obra indispensável para conhecermos melhor as origens do nosso país, respondendo de uma vez à clássica pergunta de Darcy Ribeiro: "Por que o Brasil ainda não deu certo?" e, quem sabe, começar a construir um futuro mais justo e igualitário para todos a partir deste conhecimento.

Sobre os autores:

FLÁVIO DOS SANTOS GOMES é historiador e professor da UFRJ. Dentre outros livros, escreveu A hidra e os pântanos (2006), O alufá Rufino (2011, em coautoria com João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho) e organizou, juntamente com Lilia Moritz Schwarcz, o Dicionário da escravidão e liberdade (2018).

JAIME LAURIANO é artista visual. Com diversas exposições individuais no Brasil e no exterior, concebeu uma obra especial para a sobrecapa do Dicionário da escravidão e Liberdade (2018), organizado por Lilia M. Schwarcz e Flávio dos Santos Gomes.

LILIA MORITZ SCHWARCZ é professora titular no Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar na Universidade de Princeton. É autora de, entre outros livros, O espetáculo das raças (1993), As barbas do imperador (1998, prêmio Jabuti de Livro do Ano), Brasil: Uma biografia (com Heloisa Murgel Starling, 2015) e Lima Barreto: Triste visionário (2017, prêmio Jabuti de Biografia).
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Leila de Carvalho e Gonçalves 02/04/2021

Protagonismo Negro
Esse livro reúne 550 biografias de personalidades negras que participaram da construção da história do Brasil. Elas foram distribuídas em 417 verbetes individuais e coletivos cuja compilação envolveu uma ampla pesquisa que cobriu desde o início da escravidão até os dias atuais.

Realizada por Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, ela exibe um interessante painel sobre o protagonismo negro, dando voz a ?um grande e constrangedor silêncio que habita a maior parte dos arquivos brasileiros e coloniais, e, sobretudo, dos nossos manuais e livros didáticos.?

Aliás, um protagonismo que não está confinado ao eixo Rio-Sao Paulo, espalha-se por todo país e inclui tanto nomes bastante conhecidos do grande público ? Mussum e Pelé ? como alguns praticamente desconhecidos, afora outros polêmicos, como Madame Satã e Zumbi.

Resumidamente, a proposta desta enciclopédia é realizar ?uma ?contra-história? ou uma ?meta-história?, como defende uma série de historiadores, devolvendo ao leitor pessoas de carne e osso?. Ao mesmo tempo, essa visibilidade pode contribuir para o fim do genocídio de nossa população afrodescendente. Pois tornar estas histórias mais conhecidas e dar rostos a estas personalidades colabora para a reflexão por trás das estatísticas, que nos acostumamos a ler todos os dias nos jornais, ?naturalizando? histórias brutalmente interrompidas, seja fisicamente, seja na memória.

Boa parte dos biografados não possui descrição física. Essa invisibilidade tem contribuído para o esquecimento dessas histórias e para perpetuar uma política de desvalorização étnica. Para cobrir essa lacuna, Enciclopédia Negra apresenta um Caderno de Imagens, composto por trinta e seis retratos de autoria de artistas negros contemporâneos. Trata-se de uma tentativa de resgate desses rostos, ?fazendo com que tenhamos, daqui para a frente, uma ?pinacoteca negra? e uma imaginação mais generosa e diversificada acerca da história do Brasil?.

Enfim, se por um lado está enciclopédia tem como propósito ampliar a perspectiva histórica mediante o reconhecimento da importância da população negra em nosso país; por outro, ela também apoia o fortalecimento de ?um amplo movimento antirracista e cidadão?.

Nota:
* Adquiri o e-book pela praticidade de gerenciamento das mais de mil páginas da enciclopédia.
Patresio.Camilo 02/04/2021minha estante
Ah minha amiga, como amo suas resenhas, vontade de comprar cada livro que vc resenha....
Obrigado por mais este presente...


Leila de Carvalho e Gonçalves 02/04/2021minha estante
Fico muito feliz que você goste de minhas resenhas. Escrevo com muito carinho, abraços!




Thiarlley 14/08/2021

Muito importante para a nossa história afrobrasileira!
Em março deste ano, a Companhia das Letras convidou os parceiros para a live de lançamento do livro 'Enciclopédia Negra', numa entrevista muito boa com os autores da obra. O objetivo dessa enciclopédia, como a sinopse já informa, é trazer ao público nomes que foram apagados ao longo da história do nosso país, mas que foram cruciais para a garantia de direitos de homens e mulheres negras brasileiros e/ou vindo para o Brasil. O livro é o que chamamos de calhamaço, com mais de setecentas páginas, seguindo a lógica de enciclopédia de fato: os nomes são organizados por ordem alfabética e, segundo a autora Lilia Moritz Schwarcz, buscaram figuras de todos os estados brasileiros, para ter uma obra bem completa.

Eu ainda não li o livro, é claro. O pacote chegou por aqui no final de julho, mas precisava trazer essa resenha pré-leitura (isso existe? HAHAHA) pois gostei muito desse projeto! Além das histórias, o livro traz ilustrações feitas por 36 artistas negros, negras e negres, como a sinopse também informa, a fim de valorizar nossos artistas, que criaram retratos inspirados nas histórias contadas. Junto com o livro, recebi um pôster LINDÍSSIMO que já estou em busca de um lugar para emoldurar e pendurar no meu quarto.

Sobre os autores, três nomes assinam este livro, sendo:

FLÁVIO DOS SANTOS GOMES é carioca, historiador e professor da UFRJ. Escreveu A hidra e os pântanos (2006), O alufá Rufino (2011, em coautoria com João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho);

JAIME LAURIANO vive e trabalha entre Porto/Portugal e São Paulo/Brasil, e é artista visual. Com diversas exposições individuais no Brasil e no exterior, concebeu uma obra especial para a sobrecapa do Dicionário da escravidão e Liberdade (2018);

LILIA MORITZ SCHWARCZ é professora titular no Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar na Universidade de Princeton. É autora de, entre outros livros, O espetáculo das raças (1993), As barbas do imperador (1998, prêmio Jabuti de Livro do Ano), Brasil: Uma biografia (com Heloisa Murgel Starling, 2015).

Eu confesso que senti a falta de uma mulher negra dentre os autores deste livro. É claro que a presença feminina negra nas histórias aqui contadas e nas ilustrações feitas existe, e isso é ótimo, mas sei que mulheres negras historiadoras e antropólogas não faltam no nosso país. Antes de escrever sobre nossa existência é preciso, é claro, que sejamos nós a fazê-la, também. Seria, ao meu ver, o único defeito deste livro, nessa minha resenha pré-leitura.
Conhecer a nossa história é o primeiro passo para não repetir os erros do passado e garantir um futuro digno para todas as pessoas. Sempre digo que na escada da militância, a luta negra sempre fica por último. Por isso, conheça, estude, abra a sua mente socialmente racista e compreenda a luta que busca nada mais do que direitos igualitários.

site: http://www.apenasfugindo.com/2021/08/resenha-67-enciclopedia-negra-flavio.html
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Fabricio.Macedo 02/10/2022

A leitura de "Enciclopédia Negra" foi um presente. Ganhei o livro no dia do meu aniversário do ano passado. Iniciei a leitura imediatamente. Muitos textos me trouxeram às lágrimas. Força e resistência marcam todas as histórias de vida. Alegria em conhecer a vida de tantos músicos na luta por liberdade por meio da arte. #vidasnegrasimportam
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Nick.Fernandes 08/02/2023

Enciclopédia Negra
Livro muito bom para quem esta fazendo pesquisa na área ou quer conhecer mais sobre a história do Brasil e as pessoas que fizeram parte dela! Recomendo!
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Maia 18/10/2021

Excelente coletânea de pequenos verbetes sobre personalidades negras que fizeram a identidade que carregamos no sangue e que continuam em apagamento, deveria ser distribuído gratuitamente, o brasileiro não se conhece por inteiro e precisamos mudar isso.
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Biblioteca Álvaro Guerra 02/08/2023

Em um momento de produção e disseminação errática de informações, esta obra contribui para conformar um seguro repositório de experiências individuais e coletivas às quais – como pessoas e como sociedade – podemos recorrer em busca de inspiração e orientação.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535934007
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