Luiz Pereira Júnior 10/04/2024
O paradoxo da surpresa do mais do mesmo
Muitos anos atrás, descobri em um sebo um livro que analisava o fenômeno do best-seller a partir de algumas obras que se tornaram emblemáticas com o passar do tempo (e até mesmo em sua própria época de lançamento). Uma dessas obras citadas era “O assassinato de Roger Ackroyd”, de Agatha Christie, autora que, por si só, já dispensa apresentações.
“O assassinato de Roger Ackroyd” segue a linha-mestra da Rainha do Crime. A partir de um assassinato aparentemente inexplicável, uma enorme teia de indícios verdadeiros, detalhes minúsculos e provas falsas é articulada para ser resolvida nos capítulos finais por um mestre da inteligência humana (no caso, o detetive belga Hercule Poirot).
Resumidamente: um senhor milionário é descoberto assassinado com uma adaga nas costas em uma sala fechada e todos os que convivem com ele apresentam motivos para tê-lo assassinado. O suposto assassino aparentemente foge, mas a teimosia do detetive apresenta-o como inocente. Mas vamos parar por aqui.
De todos os livros que já li de Agatha Christie, esse foi um dos que mais me surpreenderam (talvez seja por isso um dos livros mais presentes nas listas dos melhores e dos mais vendidos da autora) e em nenhum momento me passou pela cabeça o verdadeiro assassino. E, como no já chamado “Efeito Sexto Sentido”, a verdade sempre esteve bem à frente do espectador (ou melhor, do leitor).
Vale a pena? Sim, mas tenha em mente que Agatha Christie é uma espécie de Vivaldi da literatura. Escreveu dezenas (no caso de Vivaldi, compôs centenas) de obras que se assemelham umas às outras, tornando-as praticamente indistinguíveis mesmo para os fãs e experts de plantão, mas que não deixam de causar um enorme prazer a quem se dispõe a passar algumas horas desfrutando delas...