Vitoria.Milliole 04/03/2021
Sabe o suco de limão que parece tamarindo mas tem gosto de laranja, do Chaves? Enquanto Eu Viver conta a história de Mabel, uma mulher de 29 anos, com cara de 22 e que, na verdade, tem oitenta e tantos. Ficou confuso? É que, em algum momento de sua vida, Mabel simplesmente parou de envelhecer, mantendo a eterna (literalmente) fisionomia de quando tinha vinte e poucos anos e se acostumando a estar sempre mudando de identidade ? e de vida.
Imagina saber que você nunca vai morrer, que as pessoas sempre vão partir enquanto você continua exatamente a mesma coisa. Agora imagina que, em uma das muitas identidades que assume, você dá de cara com o neto do cara que um dia foi seu noivo. E o pior: ele é seu chefe e está te dando mole. E é a cara do avô! É exatamente o que ocorre a Mabel: seu chefe é o neto e a cópia do seu ex noivo, de muitos anos atrás, e ele parece estar interessado nela.
Apesar disso, não estamos falando de um simples romance e tampouco de uma história engraçada.
Nina, a melhor amiga e quase irmã de Mabel, única que sabe de seu segredo, está em um asilo e é nosso ponto cômico, reflexivo e triste da história. Nina é uma senhora divertida, sapeca, sábia e não cansa de advertir Mabel sobre como ela precisa se divertir mais, se permitir mais. Paulo Henrique, o chefe, mostra a Mabel e mostrou a mim que sempre vai existir algo a aprender, a monotonia é coisa de quem se limita, de quem não se permite.
E quanto a Mabel? Mabel aborda algumas pautas importantíssimas e nos traz conhecimentos necessários ao longo de toda a história. Fala sobre preconceitos, sobre gênero e tudo isso é introduzido na narrativa de forma muito natural. E foi isso o que eu mais amei: em trinta e poucas páginas, a Leh conseguiu trazer tanta informação, tanta reflexão e tanta profundidade!
Já tive a experiência de ler contos antes, mas por serem de terror, eu não conseguia me conectar com a história em tão poucas páginas e já tinha aceitado que essa era uma característica dos contos. Enquanto Eu Viver me mostrou que não.