Vinicius.Dias 18/07/2021
Um livro sobre feminismo.
Quando você lê um título como o desse livro, não espera outra coisa senão histórias reais de muita força, determinação e coragem. Estamos falando de mulheres que conseguiram se sobressair em uma indústria extremamente dominada por homens em praticamente todos os seus processos e meios: Gravadoras, produtoras, bandas, agências, estúdios de gravação, festivais, mídias? esse é um cenário difícil para mulheres crescerem e, infelizmente, precisam enfrentar muito machismo, sexismo e misoginia durante toda a trajetória de suas carreiras. Dito isto, já fica claro que esse livro é muito mais do que um livro de música, ou de artistas em geral. Esse é um livro sobre mulher, sobre resistência, sobre sororidade e principalmente, sobre feminismo.
Muitas vezes, vemos artistas mulheres no auge de suas carreiras e não paramos para pensar sobre tudo que elas passaram e enfrentaram para atingir tamanho status. Aqui, a gente vai saber como elas chegaram lá, mas mais importante, vamos entender o que elas passaram para chegar lá e vamos acompanhar o quanto elas, mesmo famosas e no centro dos holofotes, enfrentaram e ainda enfrentam diariamente julgamentos de uma sociedade e de uma indústria machista, sexista e muitas vezes, misógina. Tudo isso orbitando em temas extremamente presentes nas pautas de discussões e protestos feministas. Esse livro é muito importante e coloca o dedo numa ferida exposta há muito tempo e que, aos poucos, de passinho em passinho, caminha em direção a igualdade e respeito independente do gênero da pessoa.
Aqui a gente vai ver como mulheres abriram as portas na base da perseverança e determinação, metendo os dois pés com força e abrindo caminho na base da garra para que outras mulheres no futuro pudessem seguir de forma mais tranquila essa estrada árdua. Seja Patti Smith, Rita Lee ou Siouxie, todas elas fincaram a presença feminina em cenas totalmente masculinas. Também vamos acompanhar a luta de artistas que muito antes de serem julgadas pela sua musicalidade e pela suas letras, foram julgadas pelo seus corpos que não se enquadravam em um padrão pré estabelecido da sociedade. Ou ainda, que tiveram suas carreiras questionadas por conta de envolvimento com outros homens do meio musical. Courtney Love que o diga, afinal teve seu álbum mais importante desacreditado por conta de sua história com Kurt Cobain, ou Joan Baez, que foi quem apresentou Bob Dylan ao mundo e foi esquecida quando ele alcançou o estrelato, reduzindo-a a ex e não mais a grande artista que era antes mesmo de conhecê-lo. Vamos ver carreiras silenciadas pela indústria por não entenderem ou não aceitarem que as protagonistas eram elas e não eles. Seremos apresentados a mulheres a frente de seu tempo que já exigiam respeito e igualdade antes mesmo de serem temas levantados pelo movimento feminista. Além disso acompanharemos artistas que trouxeram para sua música temas como: discussão da diferença de salários entre homens e mulheres, menstruação, liberdade sexual e afetiva e o direito de ir e vir sem ser importunadas. Vamos acompanhar também, mulheres que sofreram nas mãos de relacionamentos tóxicos e abusivos e como elas conseguiram dar a volta por cima e recuperarem a tempo suas vidas e suas carreiras.
Gente, esse livro é de uma importância muito grande por dar voz e visibilidade a temas que ainda hoje, em 2021, as mulheres precisam lidar corriqueiramente. Por nos mostrar que em alguns pontos estamos mais evoluídos, mas que, em sua grande maioria, ainda estamos engatinhando. Já passou da hora de entendermos e levantarmos essa bandeira juntos. Não é certo definir o valor de uma pessoa como base em seu gênero, assim como também não é em relação a raça e a sexualidade delas. As pessoas são livres para serem como são e devem ser valorizadas por isso. Ter um pênis no meio das pernas ou a cor da pele mais clara não é atestado de importância para nada. Vamos começar a respeitar mais as minas e as outras minorias, okay? Vamos sair do nosso pedestal e olhar com um pouco mais de empatia pra uma galera que já está cansada de cobrar mudanças e não ser levada a sério. Todo dia, uma desconstrução após a outra e a gente chega lá. Vamos ler mais sobre esses temas, sobre essas pautas e vamos tentar entender onde podemos melhorar como seres humanos, isso não é muito difícil e vai fazer um bem danado pra humanidade.
Bom, voltando ao livro, eu tenho algumas críticas que já eram de se esperar em livros com listas de quaisquer coisas que sejam. Quando você me fala que é um livro de mulheres do rock, eu espero mulheres do rock. Aqui, talvez para conseguir alguns temas, a escritora saiu do estilo apontado e enveredou por outros que não flertam nem de perto com ele. Tem muito Pop, tem Funky, tem Hip Hop e tem Rap. Deixar de fora artistas do calibre de L7, Doro Pesch, Wendy O. Williams, Lita Ford, Amy Lee, Tarja e o Girlschool foi[*****]. O título, nesse caso, não condisse com a realidade do material, poderia ser algo como ?Mulheres da Música?. Para mim, faria muito mais sentido. A outra crítica é em relação a opção por não traduzir os trechos das letras das músicas para o português. Bom, aqui é Brasil e pouquíssimas pessoas tem acesso ou conhecimento da língua inglesa. Não traduzir, pra mim, reduz a experiência e dificulta o acesso a informação de quem está lendo o material. Poderiam ter se atentado um pouco mais nisso e deixado o livro mais acessível.
A escritora é italiana e para a versão nacional adicionou duas artistas brasileiras, a Rita Lee, que já foi citada, e a Pitty. Além disso, ele vem recheado de belas ilustrações e caricaturas de cada uma das 52 musicistas apresentadas nessa bela obra lançada pela Editora Belas Letras. Um material de primeira, em capa dura, repleto de belos postais com as mesmas caricaturas do livro, uma playlist animal do Spotify e um marcador de páginas próprio. Ou seja, fora toda a importância das palavras contidas aqui, ainda tem um monte de atrativo interessante para qualquer pessoa que goste de música ou que queira ler um bom livro sobre feminismo. Parabenizo a Editora e todas as pessoas envolvidas no processo de lançamento do mesmo aqui no Brasil. Uma verdadeira e necessária aula nesses tempos de egoísmo e machismo exacerbado. Super indicado!!
?As mulheres da história do Rock não são poucas. São poucas as que são lembradas.? - Gramuglia, Laura