jiangslore 06/01/2024
[4/5]
Algo relativamente comum nas minhas leituras é ler algum livro muito bem avaliado ou muito popular e pensar que não achei ele tão bom assim, apesar de entender os motivos pelos quais muitas pessoas gostaram dele mais do que eu. Então imaginem a minha surpresa quando terminei "The Atlas Six" gostando bastante do livro e encontrei mais resenhas mornas e negativas do que esperava (no caso do skoob, isso ocorreu mais na versão em português do que na em inglês). Ou seja, aconteceu exatamente o contrário: eu gostei mais do livro do que muitas outras pessoas, mas entendo os motivos pelos quais elas não gostaram tanto quanto eu (apesar de não concordar com muitos deles).
Acredito que um importante ponto de partida é saber que "The Atlas Six" é uma história focada em personagens, mais especificamente, nos seis protagonistas: Reina, Libby, Nico, Parisa, Tristan e Callum. É imprescindível entender isso para saber o que a autora se propõe a fazer e entender quais expectativas são justas e quais não são (claro, uma pessoa pode entender isso e continuar não gostando de um livro porque não pensa que as escolhas do autor foram "certas" - eu mesma já me senti assim várias vezes - mas acredito que é importante tentar entender essas escolhas para dar uma "chance" a todo e qualquer livro).
Então, por ser uma narrativa focada em personagens, é justo esperar que eles sejam bem desenvolvidos e interessantes de acompanhar. E, com uma ou outra exceção, acredito que eles são. Cada personagem tem história, motivação e personalidade específica, e cada um se coloca de uma forma diferenciada no contexto da situação que todos eles têm que enfrentar juntos. A única crítica que posso fazer é que o desenvolvimento de um ou outro personagem confiava demais em arquétipos. Isso fez com que eles fossem bem clichês até certo ponto, mas também acho que é algo que pode facilmente ser revertido nos volumes seguintes da trilogia.
Além de serem interessantes, os personagens desenvolvem relações muito complexas uns com os outros. Existe um... Reconhecimento entre eles que faz com que, apesar das diferenças, eles não consigam ficar separados. Eu adoro personagens com esse tipo de dinâmica; e ela se encaixou perfeitamente no livro. Faz sentido que os personagens se envolvam tanto, quando são pessoas tão poderosas em um contexto tão solitário.
O foco de "The Atlas Six" nos personagens também afeta significativamente as temáticas abordadas no livro, tais como o preço do conhecimento, as suas limitações e a sua distribuição. Em suma, o estilo da narrativa significa que o ponto principal do livro é a perspectiva que cada um dos seis candidatos possuem sobre certos temas. Ou seja, o livro não é sobre questões moralmente importantes relacionadas à academia em si, mas sim sobre como os personagens principais veem essas questões. E é por isso que acho que a autora fez muito bem o que ela queria fazer. Cada personagem têm uma perspectiva única sobre os temas que são apresentados, de modo que, ao terminar o livro, não temos respostas sobre as questões: temos apenas o que os personagens pensam.
Outro ponto importante é o fato de que, como as diferentes perspectivas dos personagens não estão isoladas, eles precisam falar sobre suas opiniões. Isso pode fazer com que a troca entre eles seja "na cara" demais para alguns, mas acho que esse é o ponto. Os personagens precisam entender um ao outro intimamente para que se tornem um só após a iniciação. Isso também acaba fazendo com que o enredo seja um pouco lento, mas não vi problema nisso. Primeiro, porque estava me divertindo conhecendo os personagens e as suas habilidades. Segundo, porque há surpresas incríveis e muito interessantes no final do livro.
Falando nas habilidades dos personagens - o sistema de magia em "The Atlas Six" é no estilo de magia "soft", e, por isso, não tem limites extremamente bem definidos. Mas o livro indica expressamente que as limitações existem, além de demonstrar a forma pela qual cada personagem funciona individualmente ou em grupo. Portanto, acredito que o sistema de magia funcionou muito bem. O universo criado no livro também é interessante, embora ele seja bem limitado em "The Atlas Six", já que o leitor acompanha o processo de seleção dos personagens.
Ah, e um detalhe, já que vi isso ser mencionado em mais de uma resenha como algo que faltou no livro (mas não penso que faltou): é claro que eles ainda não foram para a Biblioteca de Alexandria. O livro é sobre o processo seletivo para a iniciação na sociedade. Não fazia sentido, de acordo com o que foi explicado sobre o funcionamento da sociedade, que não iniciados fossem permitidos na biblioteca. Os limites do livro foram muito bem estabelecidos, e, na minha opinião, a autora executou bem o que ela se propôs a executar. Esperar algo além do que foi proposto só vai gerar decepção.
Enfim, acho que é evidente que gostei bastante da leitura. Eu definitivamente recomendo o livro para pessoas que estão procurando um "dark academia" com personagens muito interessantes e tenha um toque de fantasia.