Reckless

Reckless Cornelia Maria Funke




Resenhas - Reckless


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Coruja 14/03/2011

Antes de entrar no mérito do livro propriamente dito, gostaria de fazer algumas considerações de ordem... tecnológica.

Por diversos motivos que não cabem aqui discutir (e que envolvem uma Luciana furiosa o suficiente para não ler no que estava clicando...), acabei conseguindo uma edição do livro desse mês no Desafio Literário 2011 em audiobook – meu primeiro livro em audiobook.

Tive alguns problemas no processo – especialmente com o ato de ‘marcar página’ – mas, de uma forma geral, foi uma experiência bem interessante. Sempre invejei as pessoas que conseguem ler em veículos em movimento (todas as vezes em que tentei fazer isso, terminei num tom de verde próximo ao do Geléia, dos Caça-Fantasmas), e, com o tal do audiobook, finalmente consegui fazê-lo.

Melhor que isso, na verdade: pude ouvir o livro enquanto caminhava na praia, no shopping, a caminho do escritório, do curso, de casa... Não importa em que lugar eu estivesse, a história continuava se desenrolando para mim. Claro que acontecera alguns percalços, muitos tropeços, batidas e hematomas, mas, bem, essa foi apenas a primeira experiência, não é verdade? Para uma primeira experiência, foi muito boa.

Claro que não vou sair amanhã e começar a substituir todos os livros da minha biblioteca por audiobooks. Ainda prefiro mil vezes o prazer de TER o livro nas mãos, de folhear suas páginas (e marcá-las com lindos marcadores), sentir o cheiro do papel... Fora que meu ritmo de leitura é bem mais rápido do que a cadência do audiobook (ao menos, desse primeiro...).

Da próxima vez, tentarei com um livro mais curto (que eu possa ouvir de uma sentada só, e não em três dias tendo de ir, voltar, ir, voltar, escutar de novo um capítulo inteiro porque não consigo passar para o próximo sem perder alguma coisa...) e, de preferência, em português. Responder ao cobrador do ônibus em inglês quando você obviamente não é uma turista não é legal, especialmente se ele te encara com jeito de quem te acha maluca. Pior é ter que ficar voltando (e se perdendo...) para ter certeza de que escutou uma palavra certo para então tentar adivinhar a grafia dela a fim de pesquisar no dicionário.

Considerem que Reckless foi originalmente escrito em alemão, o que significa que nomes próprios terão um certo eco dessa língua. Pois é, daí já dá para ter uma idéia do problema, não?

Eu poderia dizer que pela história de Cornelia Funke orquestra nesse livro, tais inconvenientes valeram à pena. Mas não é bem verdade.

Reckless é uma história sobre contos de fadas vindo à vida em um mundo paralelo através do qual podemos chegar através de um espelho mágico. Jacob, nosso protagonista, descobriu a passagem pelo espelho após ler diários do pai, que sumiu misteriosamente – e, ele acredita, para dentro do mundo do espelho.

Jacob mantém essa passagem em segredo da família – a mãe, que definha pouco a pouco de tristeza e o irmão mais novo, Will – ao longo de doze anos, quando a ação realmente começa.

Will descobriu sobre a passagem por um descuido de Jacob... e o seguiu para o mundo além do espelho, onde os irmãos acabaram por se encontrar no meio de uma batalha entre humanos e gárgulas; culminando com Will ferido.

O único, grande problema é que uma ferida causada por um gárgula em um humano, por artes de magia da Fada Escura, amante do rei gárgula, transforma o humano na criatura de pedra.

Ok, estou me adiantando... ou não, porque é nesse estado de coisas que começamos a narrativa. Caímos meio que de pára-quedas, sem qualquer preparação ou aviso no meio da seguinte situação: Will está se transformando em pedra, Jacob está tentando descobrir uma forma de parar isso, as gárgulas estão atrás de Will porque ele está se transformando numa pedra mítica que poderá proteger seu rei, a namorada de Will seguiu o rapaz pelo espelho e... é, pois é, pense na confusão.

Aos poucos você consegue fazer sentido das coisas, claro. Jacob construiu uma vida para si mesmo no Mirrorworld, como uma espécie de... caçador de recompensas. Enquanto a vida continuava no mundo real – sua mãe morria, Will crescia – ele fugia mais e mais para o mundo que levara seu pai. A princípio, talvez, ele o fizesse na esperança de encontrar o homem, mas a verdade é que, no ponto em que a história começa, não era isso que movia Jacob.

Na verdade, é difícil você entender o que move Jacob. Não posso dizer que seja amor fraternal, pois ainda que ele faça tudo ao seu alcance para salvar o irmão, você não sente um verdadeiro afeto ali. É mais como... teimosia... obstinação. Mais difícil ainda é sentir alguma empatia por Will, que começa se tornando uma pedra (e perdendo suas emoções) e depois cai num sono encantado estilo “A Bela Adormecida”.

Como todo mundo sabe que tenho um profundo desgosto com a Bela Adormecida, é óbvio e ululante que eu não ia ser uma grande fã do Will.

Talvez meu problema com Reckless tenha sido, justamente, a expectativa que eu tinha em torno dele. Acompanhei o desenvolvimento do livro desde os primeiros anúncios no site da Cornelia Funke e me empolguei de cara com a sinopse: Mirrorworld aparecia para mim como um mundo sombrio, em guerra, e ao mesmo tempo repleto de belezas, de encanto (no sentido de magia); verdadeiramente épico.

Era a face real dos contos de fadas. Não as versões mais açucaradas com que nos alimentaram na infância, mas a forma bruta com que essas histórias nasceram. Já falei sobre o assunto aqui no blog antes, não apenas na série Creepy Fairytales, mas em muitas, muitas outras postagens, especialmente aquelas que tratam da natureza de Faërie.

Na verdade, a idéia de Reckless é muito parecida com a do filme Irmãos Grimm, de 2005.

Ambos usam contos de fadas como matéria-prima de suas histórias, moldando-as em narrativas que priorizam o conteúdo mais sombrio e primitivo dessas narrativas. A principal diferença é que enquanto no filme, os irmãos Grimm atuam no ‘mundo real’, no livro de Cornelia Funke, Jacob e Will Reckless atravessam um espelho para alcançar um outro mundo em que as criaturas fantásticas desses contos é que são reais.

Ambos deixaram algo a desejar, embora, ao menos em minha opinião, na conta total, o filme acabe por sair ganhando. Há algumas piadas sem graça, é verdade, mas os irmãos do filme realmente agem como irmãos: eles brigam, eles provocam, eles se importam. Os irmãos do livro, em compensação...

Jacob está longe de ser um herói. Na verdade, ele está longe de ser até mesmo simpático. Will, por sua vez, não tem quase tempo de ser desenvolvido, e, sinceramente, a se considerar como a história se desenvolve, é até difícil você se envolver o suficiente para torcer por ele voltar a ser humano (especialmente porque ele demonstra muito mais utilidade como gárgula...).

Na verdade, aí está o problema... Reckless tinha um incrível potencial – e chega a alcançar uma nota alta em alguns momentos (sinto calafrios só de lembrar do Alfaiate...) – mas a verdade é que é um livro que não se decide bem o que quer ser.

O livro tem alguns temas bem pesados – família e obrigação, culpa e traição e até onde alguém pode ir, o que pode movê-lo a fazer coisas que desafiam a lógica, o bom-senso e tudo o mais que se esperava dessa pessoa. Os demônios pessoais de Jacob são, no mais das vezes, maiores que as criaturas com que ele e seu grupo se defrontam enquanto tentam desesperadamente salvar Will.

Só que, uma vez que o livro é indicado para leitores mais jovens, Funke parece ter hesitado em realmente desenvolver esses elementos. Na verdade, mais que em outras de suas obras, ela chega a ser condescendente com o leitor, mastigando e mastigando as coisas e diminuindo toda a complexidade emocional que se poderia imaginar nas entrelinhas.

Claro, também tem o detalhe de que esse é o primeiro livro em uma série. Por que eu ainda me surpreendo?

(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)
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Gabriela M. 06/01/2013

Em primeiro lugar: só dei três estrelas porque para mim é impossível não comparar Reckless à trilogia Mundo de Tinta, que por ser uma das minhas "séries" favoritas, eleva muito o senso crítico na questão conto de fadas e outros mundos escondidos por aí.

Agora, em segundo lugar vem a opinião: QUE criatividade tem essa senhora Cornelia Funke. Ela simplesmente criou (de novo) um outro mundo com seres que até sabemos um pouco e seres inimagináveis como o Tailor, um ser que se veste com pele humana e tem lâminas afiadíssimas ao invés de unhas; Waterman que é um obsessivo por suas vítimas mulheres e uma ilha de fadas que ao contrário do que "sabemos", os humanos, os Goyl e até os anões não sao bem vindos.

A história é agonizante por parecer não haver solução alguma para a maldição que toma conta de Will e por sabermos pelo narrador, e por pensamentos soltos de Jacob, o quanto o irmão mais velho sofre por saber que ele é a causa para o que esta acontecendo.

O livro termina com o gostinho de quero mais que já experimentei da autora. Pelo menos ele terá sua continuação - Fearless.

Recomendado pra quem gosta de aventuras mágicas misturada com criaturas que não são o que ouvimos falar delas (no nosso mundo).
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