spoiler visualizar_lekinha_a 02/05/2021
Eu, Sarah?
O Amor Não Machuca!
Luana Cardoso
Editora Serpentine
262 págs.
Alerta: maiores de 18 anos
Conteúdo sensível: gatilhos para relacionamento abusivo, violência doméstica e estupro. Portanto, só deve ser lido por pessoas que estejam em condições psicológicas de o fazerem sem que isso possa afetá-las, machucá-las ou despertar medos e terrores de experiências reais e pessoais.
SINOPSE:
Sarah é uma jovem e bela modelo que sonha em construir uma carreira sólida dentro da indústria da moda. Para isso ela decide estudar design de moda por um ano em Roma. Acompanhada da amiga de infância, Victoria, ela chega ao seu destino, indo morar no apto da então desconhecida Giovana. As jovens se dão muito bem logo de cara e decidem fazer um passeio onde Sarah conhece Mathias. Bonito, atencioso e, claramente interessado em Sarah ele é a imagem perfeita do príncipe dos contos de fadas. Mas será que eles existem na vida real?
RESENHA:
Embora já tenha lido alguns livros que abordam o tema relacionamento abusivo, violência doméstica e, até estupro, eles são apenas o pano de fundo ou, seja, o empecilho que se apresenta para o relacionamento dos protagonistas. Em, ?Eu, Sarah: O Amor Não Machuca!?, nos deparamos com a inversão do assunto pois, eles deixam o lugar de enredo secundário para assumir o papel principal na trama, subvertendo assim a expectativa do leitor, o quê é ao mesmo tempo interessante e instigante.
E, apesar do conteúdo ser extremamente sensível, nessa obra ele é abordado de forma delicada e responsável. Percebe-se isso na estruturação e condução da trama pois, ao mesmo tempo que causa grande desconforto pela descrição dos abusos e violências sofridas pela protagonista, isso não é feito a todo momento e, portanto, não tem a finalidade de apenas chocar ou fazer o leitor sentir repulsa, mas também, de suscitar questionamentos, reflexões e debates.
Os personagens, notadamente, os protagonistas Sarah, Matias são muito bem construídos a ponto de reconhecermos em suas reações a personalidade por trás. Sarah é a jovem bela, destemida, determinada e sonhadora. Matias, o charmoso, porém, mimado, controlador e de índole duvidosa. Já Luca detém o caráter a idoneidade das pessoas justas, ao mesmo tempo que é, compreensivo, amoroso e dedicado aqueles que ama. Já dentre os secundários, o destaque vai obviamente para Victória. Não por ser a que mais interage diretamente com a protagonista, mas por possuir uma personalidade cativante, alegre e, por se fazer presente na vida de Sarah, igualmente, nos bons e maus momentos, sendo uma amiga incrível.
E uma coisa que achei interessante, e bastante crível pois retrata a realidade de muitas mulheres, Sarah é uma jovem de personalidade forte e empoderada que, ainda assim, se vê as voltas com um relacionamento abusivo, mostrando que, qualquer mulher pode sim, ser uma vítima.
Principalmente porque, como brilhantemente foi abordado no livro, quase sempre o abusador esconde seu temperamento e propensão a agressividade com muitas palavras e gestos de carinho confundem e enganam até as pessoas mais experientes. E, é fato público e notório, que em boa parte dos casos de violência doméstica, sejam de quaisquer tipos que forem, a relação de abuso se constrói paulatinamente e, só raramente acontece, da noite para o dia.
É fato que as histórias reais deixam marcas profundas na alma de quem sofreu na pele esse tipo de experiência traumática. Mas isso não quer dizer que afetem apenas as vítimas. Mesmo que de forma mais branda, familiares e amigos sofrem juntos, o que também foi retratado no livro.
Mas calma, essa história não é apenas sobre dor e sofrimento, é também sobre força, superação, solidariedade e dedicação na construção de um mundo melhor. O título, aliás, já deixa isso claro quando pega carona na frase comumente adotada em discursos, depoimentos ou testemunho de vítimas, que é: eu, __________, fui vítima e sobrevivi _________.
Enfim, por tudo que foi dito, só me resta dizer que gostei muito do livro.