Arthur 21/09/2023
Entender o porquê.
Ao ler "Professora, sim; tia, não", é inevitável levar o título da obra ao pé da letra, mas, mais importante é entender a razão do porquê Paulo Freire se opõe à confusão entre os papéis de tia e professora.
Antes de qualquer coisa, é condição sine qua non entender que Paulo Freire fala sempre a partir de um contexto que, óbvio, pode/deve ser adaptado e que se pouco mudou, é justamente por conta da ação do neoliberalismo que "não dá ponto sem nó". Partindo dessa lógica, Paulo Freire defende que ao não se confundir a professora com uma tia, não há desmerecimento de nenhuma das posições, nem a ideia de que o afeto não deva fazer parte do processo pedagógico. A questão, que muito me lembrou os aparelhos ideológicos, mencionados por Althusser, ou os escritos de Dermeval Saviani sobre a teoria do currículo, é justamente o esvaziamento do papel político da professora que o neoliberalismo implica ao querer atribuir a essa profissional a ideia de "tia", sobretudo nas escolas privadas. Que esvaziamento político seria esse? O excesso de permissividade, disfarçado de afeto, e a ausência da crítica, fundamentais ao professor progressista que acredita na educação como instrumento de emancipação contrária a lógica neoliberal - apontada por Althusser e Saviani - que utiliza a escola como um de seus instrumentos.
"Professora, sim: tia, não", segue a obra de Paulo Freire na busca por uma educação que instrumente a classe trabalhadora para a emancipação, ou ao menos a luta para a libertação, da condição de oprimida na luta de classes inerente ao nosso modelo de sociedade.