Ghostland

Ghostland Edward Parnell




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Coruja 05/05/2022

Bati o olho nesse livro em alguma lista do Goodreads e o título imediatamente me chamou a atenção. Da sinopse, fiquei com a impressão de que seria algo como The Lore of the Land ou Lugares Mágicos: os escritores e suas cidades - uma espécie de guia de viagem temático em que as recomendações de lugares a visitar passaria pela topografia de vários contos clássicos do gótico inglês.

Bem, o livro é isso também. Mas há muito mais em Ghostland, de tal maneira que é difícil precisar qual o gênero dele. Sim, é um guia de viagem, numa definição muito ampla do termo (um mapa, nesses casos, sempre faz falta…). De um outro ponto de vista, pode ser encarado como crítica literária, considerando a forma como Parnell passeia por tantos autores e contos - e também filmes adaptados (nesse ponto, nada a reclamar: ao final há uma conveniente lista de todas as obras citadas). Há até um tanto de ciências naturais, ou melhor seria dizer ornitologia amadora, vez que o autor é obcecado por aves.

Mais que tudo isso, contudo, Ghostland é um livro de memórias, tendo por fio condutor os contos fantasmagóricos que dominaram as leituras do autor quando jovem, e que objetiva exorcizar seus próprios fantasmas familiares. Afinal, desde o começo da leitura é perceptível a atmosfera de pesar e nostalgia que o acompanha nas viagens pelas quais nos leva ao longo das páginas. Muitos dos lugares visitados não estavam ligados apenas a um determinado autor ou conto, mas também a férias feitas em família, visitas que tinham um significado especial em sua história.

Adivinhamos que existe uma tragédia como mote dessa jornada, mas é só pela metade do volume que conseguimos entender o tamanho das perdas de Parnell, e como Ghostland é, sobretudo, uma reflexão sobre o luto e a memória - e o uso da ficção como ferramenta para lidar com essa dor.

Parece-me curioso, à primeira vista, buscar conforto em histórias de fantasmas para lidar com suas próprias assombrações, mas talvez o confronto com a ideia de mortalidade e alma que é essência de muitas dessas narrativas seja a resposta para a questão. Bem, qualquer porto numa tempestade, não é mesmo?

Alguns dos autores citados me eram familiares - Alan Garner, Conan Doyle, William Hope Hodgson - mas muitos outros ou eu conhecia apenas de nome, ou nunca ouvira falar. No próximo All Hallow’s Read tentarei me programar para mergulhar nas obras de M. R. James, Algernon Blackwood e Arthur Machen.

Terminei concluindo que, se algum dia eu vier a escrever uma autobiografia, hei de me inspirar no modelo de Parnell, de uma jornada através das histórias que serviram de tijolos na minha formação. Só espero ser um caminho menos doloroso que o do autor.


site: https://owlsroof.blogspot.com/2022/05/ghostland-em-busca-de-um-pais-assombrado.html
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