spoiler visualizarWeslley 15/07/2022
Mas o pra sempre tem um fim inevitável...?
Bem, cá estou eu na frente do computador, com o bloco de notas aberto, tentando escrever algo sobre esse livro. Por onde começar? Não tenho a menor ideia. É um misto de sentimentos indescritível, onde, ao mesmo tempo que eu me sinto preenchido, tocado, me sinto extremamente vazio e um pouco em choque (apesar de lá no fundo ter aquele sentimentozinho de "eu sabia que ia ser assim, mão não queria aceitar").
Flinch é, num primeiro momento um personagem clichê, o típico garoto estranho, o diferentão, a "aberração" como ele mesmo é diversas vezes nomeado. Entretanto, o clichê se limita apenas ao primeiro momento, tendo-se em vista que no decorrer da narrativa nós vamos gradativamente sendo inseridos nos seus dilemas, seus pensamentos, o modo como ele encara tudo o que acontece a sua volta. Com o tempo nós percebemos que ele é um personagem complexo e feito em camadas, e que cada camada tem seu foco no devido momento. Uma hora ele é o estranho que não tem muitos amigos e restrito ao seu próprio mundinho, outra hora ele é o bonitão rebelde que faz o que bem entende, que sabe viver a vida de fato e que sabe o que está fazendo.
Violet por sua vez já é totalmente o oposto e ao mesmo tempo a mesma coisa. A garota popular, que anda com os populares, mas que por dentro se encontra despedaçada a ponto de suspeitar que pular de uma torre de sino na escola e dar um fim a tudo não seja uma má ideia.
E é nisso que a história se desenvolve. O garoto estranho, rejeitado por todos conquista a garota popular e mostra a ela que ainda existem muitas coisas pelas quais vale a pena acordar de manhã... - Acabou o inverno. Finch, você me trouxe a primavera. E assim segue-se praticamente toda a narrativa, com a relação de Finch e Violet sendo solidamente construída até culminar no final que não será mencionado aqui por motivos óbvios.
Por fim, considero a obra de uma sutileza e beleza ímpar. Lembro que após finalizada a leitura, conversava com determinada amiga sobre nossas impressões e me recordo que eu falei que se eu pudesse resumir a obra em duas palavras seriam controle e realidade. E de fato é exatamente isso, a obra é muito real, retrata os dramas de quem possui transtornos mentais de uma forma real, as descrições que você vai encontrar são de fato o que uma pessoa em tal condição sente. Entretanto, não são sentimentos simplesmente jogados ou inflados, não existe melodrama nem algo parecido. A obra dosa na medida certa o modo como vai expor isto. Não é algo vitimista nem muito menos frio, pelo contrário, chega a ser poético a forma como a autora coloca o dilema amar x sofrer, o tabu x a libertação.
No mais, uma das obras que mais me marcaram e com certeza a melhor leitura do ano de 2022.
Seguem-se todas as marcações que eu fiz durante a leitura, espero que apreciem assim como eu apreciei.
"Antes de tentar se matar, lembrar de tirar água do joelho".
"Eu poderia simplesmente dar um passo à frente. Em segundos, acabaria com tudo. Nunca mais "Theodore Aberração". Nunca mais dor. Nunca mais nada".
"Um ponto positivo da vida é que podemos ser alguém diferente pra cada pessoa".
"Amo meu quarto. O mundo é melhor aqui do que lá fora, porque aqui sou o que eu quiser ser".
"Você estava naquele parapeito porque não sabia mais para onde ir nem o que fazer. Você tinha perdido a esperança. Então, como um cavaleiro valente, eu salvei sua vida".
"Existem jeitos diferentes de morrer. Você pode pular de um telhado ou se envenenar aos poucos com a carne de outro ser vivo".
"Não acredito nisso. Hoje de manhã seus pais mostraram a pessoa que você costumava ser. A outra Violet parece divertida e até meio durona, mesmo tendo um gosto musical horroroso. Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver. Vejo as pessoas darem um empurrãozinho de vez em quando, mas nunca forte o suficiente porque não querem contrariar a pobre Violet. Você precisa de um baita tranco, não de um empurrãozinho. Você precisa retomar as rédeas. Ou vai ficar em cima do parapeito que construiu pra si mesma pra sempre".
"Conheço a vida bem o suficiente pra saber que não podemos acreditar que as coisas vão ser sempre iguais, não importa o quanto a gente queira. Não podemos impedir que as pessoas morram. Não podemos impedi-las de ir embora. Não podemos impedir nós mesmos de ir embora".
"Aprendi por experiência própria que a melhor coisa a fazer é não falar o que realmente pensamos. Se não falamos nada, as pessoas concluem que não estamos pensando em nada além do que deixamos que elas vejam".
"— O problema das pessoas é que elas esquecem que na maior parte do tempo o que importa são as pequenas coisas. Todo mundo está tão ocupado no Lugar de Esperar. Se lembrássemos que existe uma coisa chamada torre Purina e uma vista como esta, todos seríamos mais felizes".
"— Às vezes, Ultravioleta, as coisas são como verdade pra gente mesmo que não sejam".
"Ela é oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio e fósforo. Os mesmo elementos que estão dentro de todos nós, mas não consigo parar de pensar que ela é mais que isso e que tem outros elementos dos quais ninguém nunca ouviu falar, que a tornam diferente de todas as outras pessoas".
"— Acabou o inverno. Finch, você me trouxe a primavera".
"— Que seu olho vá para o Sol, para o vento sua alma… Você é todas as cores em uma, em pleno brilho".
"— Nem sempre podemos enxergar o que os outros não querem que a gente veja. Principalmente quando se esforçam tanto para esconder".
"Que sentimento horrível deve ser amar uma pessoa e não ter como ajudá-la".
"O que percebo agora é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa".