Douglas | @estacaoimaginaria 28/09/2021
Uma bela poesia
Antes mais nada, devo dizer que não li tais poemas com calma, aos poucos, como é de se esperar. Quando começo, é difícil simplesmente parar, ainda que os textos de João Gabriel sejam intensos, delicados e pessoais. E o fato de não conseguir ler com calma é “culpa” da própria escrita do autor. Porque uma vez que iniciamos o mergulho, é difícil retornar à superfície. Por isso, se você se interessar por esse livro, e eu já indico a leitura, fica a dica: vai com calma.
Entendo pouco ou quase nada de poesia. Nunca tive familiaridade com esse tipo de texto. A questão é que isso, em nenhum momento, dificulta a leitura desse livro. Pelo contrário. Pode ser que você não compreenda tão bem o significado da poesia – isso porque ela não necessariamente te remete a algo que acontece em sua vida, por exemplo - enquanto outras são óbvias.
E às vezes você pode até ler com “pressa”, sem dar as pausas necessárias. E tudo bem também. O meu intuito de dizer tudo isso é que a obra de João Gabriel te permite, e te convida, a ler novamente esses poemas. E, para ser sincero, acho que é algo inevitável. Porque, por algum motivo, algum poema ficará rondando sua mente. E aí você vai ter que voltar a abrir o livro só pra ler os detalhes que você deixou passar da primeira vez. Pra mim isso mostra a inteligência do poeta e sua bela escrita.
Num primeiro momento, devo dizer que a maioria dos poemas passou por mim sem deixar uma marca significativa. Ou seja, não me identifiquei com eles – e isso não tem nada a ver com a poesia ou escrita do autor. Simplesmente o “santo não bateu”. Contudo, numa segunda leitura, e com mais calma, fui me identificando com partes dos poemas. O primeiro que me vem à cabeça quando penso nesse livro é “Corpo fechado”. Eu achei esse poema o mais “perfeito”. Como se todas as peças do quebra-cabeça se encaixassem, sabe?
“Manual para arrancar a dor no peito” é outro que eu cito aqui, pois logo na primeira leitura ele conversou comigo. “deixa meu peito desistir de mim,/ sair pra rua, bater do lado de fora,/ gritar pro mundo/ o que o mundo não quer ouvir.”. É isso, nem preciso dizer mais nada. E a variedade dos poemas também é algo que destaco aqui. Tem, sim, uns belos socos no estômago. Mas tem também humor, ironia, fantasia. Enfim, é um conjunto de coisas que transformam a leitura ainda mais gostosa – novamente, com calma, sem pressa.
Por fim, devo destacar as ilustrações de Bia Pessoa. De fato, é algo que complementa a poesia de João – deixa ela mais rica. Mais do que complementar, poesia e ilustração, arte e arte, se completam. Não que eu ache que todo livro desse gênero deva ter ilustração. Mas aqui parece que foi tão certeira a presença de Bia Pessoa – e eu não sei como isso se tornou realidade -, que parece uma coisa natural. Quando penso em “Vende-se um elefante triste”, é inevitável não se lembrar da arte da artista (ou da arte do poeta).
Os poemas foram escritos antes e durante a pandemia – o que, na minha visão, só demonstra a profundidade da poesia de João Gabriel, dividida entre o antes do caos que o Brasil vive e durante. Mais do que isso, é um livro necessário para tentarmos, de certa maneira, nos esquecermos, por algumas horas, desse mundo caótico.
Aqui fica minha dica para lerem esse livro e darem uma chance para João Gabriel. Sua poesia, com certeza, merece ganhar o mundo.
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