Aegla.Benevides 28/12/2022Vi alguma nota que dizia que ?Terra fresca da sua tumba foi escrito quase em transe?, e não vejo forma melhor de descrever esse livro. Unindo o mágico ao rotineiro e o surreal ao cotidiano, Giovanna escreve esses seis contos como se de uma vez só: embora as histórias não sejam conectadas, a aura que permeia cada uma delas é a mesma.
A dor, a solidão, o gótico, a perturbação e uma pitada de erotismo fazem parte da construção desse livro, numa escrita completamente original tendo em vista as influências latinas. Já havia visto comparações de Giovanna a Gabo, e, tendo a conhecido, diria que ela traz uma visão mórbida do realismo mágico, apostando bem mais na realidade que precisamos pintar de mágica pra amenizar as feridas do caminho.
Assim, me surpreendi - ora positivamente, ora negativamente - com o que conheci da autora nos enredos: alguns são bem mais desenvolvidos, outros parecem se arrastar além do necessário. Gostei especialmente do primeiro, que traz a conversa de uma mãe com o colega marinheiro que acompanhou a morte do seu filho em um naufrágio; no entanto, outras temáticas ferozes são abordadas nos demais, como o incesto, o abuso sexual e psicológico e até um pouco de distopia no último conto.
Ainda que eu acredite que prefira conhecer a Giovana romancista (me pareceu que ela voa além quando não possui tanta limitação de palavras - não à toa, o conto que dá nome ao livro tem quase 60 páginas), é uma escrita que vale a pena conhecer pela riqueza dos detalhes e dos sentimentos tão presentes na América Latina de Rivera.