hafronita 13/02/2024
Muitas metáforas, pouco desenrolar da história
Passando-se em uma ilha onde tudo, um dia, some e é levado pelo vento de uma colina, recebemos a informação de que não dá para ficar querendo se lembrar das coisas que sumiram. Aqui que vem, um dia vai. Não se pode agarrar em momentos passageiros, em pessoas passageiras, em objetos ilusórios. A ilha flutua sobre uma imensa lacuna no mar, que invade os corações desde o alto patamar, como a da polícia da memória, quanto aos indefesos animais daquela ilha, como os pássaros ? que também sumiram.
Grande parte das coisas que pensamos não passam disso: meras preocupações. Preocupações são criadas a todo o momento, para refletir, para criar cenários ilusórios, para causar sofrimento. A escrita do livro é carregada de emoções e sentimentos, os quais te acompanham na busca de algum significado mental que os personagens estão vivenciando naquela ilha. Uma análise interessante é notar como apenas duas famílias possuem nome, a família R e a família Inui, marcando a simplicidade dos sujeitos que ali viviam em uma ilha desgovernada, em uma escuridão infinita. Sem ar, sem som, sem nada.
A jornada proposta pela autora é como um mergulho em águas desconhecidas, onde as palavras se transformam em enigmas pitagóricos, desafiando-nos a decifrar significados ocultos. Nesse universo de metáforas e paralelismos, cada desvio do esperado nos lembra da imprevisibilidade da vida e da importância de não nos perdermos em expectativas negativas que nos afastam de nossa própria essência. As coisas existem porque você existe primeiro. As coisas desaparecem porque todos projetaram esse esquecimento. O vazio que alguns personagens sentem, e outros não, apenas reforça essa convicção.
A história não é feita para você pensar junto dos personagens, e sim para você pensar na sua própria vida. Te ensina a viver no agora, não presa em memórias. Por mais que seja muito retratado como uma forma harmoniosa de sobrevivência, não quer dizer que o tolerável seja o natural ? nem mesmo o necessário. Extraio dessa trama que o necessário é você viver, viver bem, aproveitar bem, pois tudo que tem início há um fim.
?: Não gostei da forma que a história não trouxe um desfecho, uma explicação.