Gabi Guerra 12/08/2021
Uma narrativa maravilhosa e poderosa!
?Você conhece a história do Haiti? Eu não conhecia e o livro de Isabel me proporcionou uma imersão histórica profunda, com pinceladas da melhor ficção.
? O livro é separado em capítulos narrados em primeira pessoa por Zarité (teté) a personagem principal e capítulos com um narrador neutro. Os capítulos são todos bem curtinhos o que da bastante fluidez pra leitura e pra história.
?Zarité é uma escravizada que nasceu em Saint-Domingue (antigo nome colonial do Haiti) onde foi comprada por um francês dono de fazendas de plantação de cana. Por sorte (ou ausência de azar maior), Teté é designada para cuidar da esposa descompensada do Senhor, sendo poupada do trabalho na plantação em si.
?No entanto, com muitos acontecimentos intensos, desde revoltas sangrentas dos escravizados à estupros e distanciamentos dos filhos paridos, Zarité baseia sua força no amor às crianças, na fé em seus loas africanos e na esperança de conseguir a liberdade.
? O livro muda a narrativa para o estado da Louisiana quando os revoltosos negros assumem a república do Haiti, fazendo com que os brancos e alguns de seus escravos tenham que se adaptar na colônia francesa em terras americanas.
? ?dance, dance, Zarité, porque escravo que dança é livre? enquanto dança. Eu sempre dancei? nos conta logo nas primeiras páginas a querida protagonista.
?Eu amei a história, senti um apelo e vínculo muito fortes em relação à Zarité, me entusiasmei com a história real por trás da ficção e me diverti sutilmente com o humor irônico e por vezes duro de Allende.
?Não chorei, mas me senti revoltada e possessa com a arrogância e estupidez dos ?grand blancs? e senti a urgência da justiça.
?Apesar do tema, repito, Isabel sabe dosar o drama. Com a brutalidade da realidade, narrada por vezes de forma resignada e seca, a história ganha credibilidade e força. Ao invés do choro e do lamento, o que fica é a necessidade de sermos melhores e mais resilientes e fortes. Isto é uma habilidade que difere Isabel de outros escritores: a forma como ela consegue inflar o orgulho e a indignação por meio da força de espírito, não da fraqueza do destino.
? Discordo ser um dos piores livros da autora. Ao contrário, gostei mais que filha da fortuna. O final poderia de desenvolver mais devagar, mas a história em si é maravilhosa.
? nota: 9/10