leleco 19/04/2024
Moldando sua própria performance.
A narrativa de pequena coreografia do adeus, da Aline Bei, contorna por meio de prosas sensíveis a trajetória de uma menina chamada Júlia, uma garota filha de pais separados refém mediante a energia transitória do ambiente, os comportamentos cotidianos explosivos e nada afetivos de sua mãe, adjunto da nova vida do pai que não se agradava mais com seu casamento, a qual não se passa de uma telespectadora distante.
A partir dos emaranhados eventos de seu caminho, a obra prossegue a saga de sua vida moldada afim de caber no vácuo cubículo de sua mãe, por não suportar o fato de ter sido abandonada pelo marido. Sobre ser, o que seria necessário evitar e como se adaptar de forma brusca a coreografia da sua mãe, sendo tão jovem e repleta de mecanismos de defesas tão cruéis obtendo-se em vista a perspectiva de uma mera menina inclusa numa espécie de ?família? entre cacos grossos ao qual proporcionam marcas profundas, sem o auxílio de médicos e enfermeiros. A pequena coreografia do adeus demonstra fielmente marcas das amarras de uma mãe amargurada agindo ao declínio de seu filho de complemento depositando toda a dor, a fúria sob sua própria filha, ainda que seja tudo o que a mesma possua, enquanto sua filha em torno do caos encontra algum sentido, sequer haja um propósito, perante a residência carregada por memorias desagradáveis da casa em que reside; o que deveria ser considerado um lar afetuoso e acolhedora meu se assemelha mais a um campo minado aonde a protagonista necessita pensar dez á quinze vezes antes de proferir quaisquer palavra, para não correr o risco de ser atingida.
A escrita da Aline Bei machuca enquanto lhe prepara imediatamente um band-aid prestes a ser retirado, restando somente o ardor da rítmica poética que ela transmite enquanto escreve, provedora de uma intensidade enclausurando sentimentos como culpa, dor e ressentimentos que só ela alcança aquele amago que enquanto lemos possuímos a plena certeza de que irá alugar um triplex em minha mente por um longo tempo, talvez até nunca se esqueça das tais palavras, da essência na qual emana. E não vejo a hora de consumir mais obras desta adorável autora, pequena coreografia do adeus foi um desejo meu de meses que eu finalmente pude me desfrutar e afirmar que sim, este é um verdadeiro livro para acolher ao seu seio por toda a vida.