spoiler visualizarEmerson Gouveia 31/05/2021
O descobrimento de si em uma jornada difícil e poderosa
Que leitura maravilhosa!
Como é bom pegar um livro em que o desenvolvimento do personagem é algo tão agradável de ver e principalmente ser construtivo pra quem lê.
A trajetória de Husseina e Hassana é muito dolorosa, e ao mesmo tempo edificante.
Trás uma processo de dualidade. Enquanto vemos o processo de aprendizagem delas, de lidar com as coisas novas que são aprendidas e seus descobrimentos sobre fé, amizade, e família, temos a dor o tempo todo presente. A escravidão se faz presente até hoje quando paramos pra pensar que nós, negros, não temos noção de onde viemos, sobre nossos ancestrais e a quantidade de vivencia cultural e social perdida.
Ao mesmo tempo que fiquei feliz por estas estarem juntas, fiquei pensando na irmã mais velha, que não teve a mesma felicidade de encontrar estas ou outros familiares (acredito eu), e levarmos em consideração a realidade social da época, e os acontecimentos do livro, provavelmente deva ter engravido de estupros e criado filhos destes.
Mudando para o campo das irmãs, o parcelo delas enquanto descobridoras de si, é algo muito interessante de ser visto.
Husseina se descobre na fé, Hassana nos estudos. Enquanto uma busca significado nas coisas, a outra explicação. E isso foi um dos pontos mais atraentes do livro, principalmente ver chegando perto do final onde estas discordam de seus pontos, pois a trajetória de cada uma criou particulares e vivências que o que as ligava era apenas o grau parental.
Uma pausa pra Husseina/vitória na Bahia, o quão lindo é ler isso, ver ela aprendendo sobre candomblé, se apaixonando por um multiverso de cultura, e aprendendo sobre a disparidade de um Brasil pós abolição, o qual levando em consideração, ainda hoje trás consigo as mesmas questões.
Como apontada por vitória, a cor da pele ainda diz muito sobre o fator social e econômico da pessoa.
No mais, a jornada do livro foi algo que me fez perceber o quanto somos desapegados da nossas raízes e ao mesmo tempo que queremos saber sobre, não temos uma noção real desta.
Mas fica a aprendizagem de colocarmos como lar, o local onde somos amados, e nos sentimos confortáveis.