Cris 27/08/2022
Um milhão de lágrimas revertidas em um orgulho que não cabe no meu peito!
Conheci 'Um milhão de Promessas' após a leitura de 'Nuno' e ao começar a seguir Cinthia Freire nas redes sociais. Minha primeira experiência literária com a autora não deu muito certo mas gostei de sua escrita e por esse motivo resolvi relevar meus problemas com 'Nuno' e dar o benefício da dúvida a fim de conhecer um outro livro seu; hoje, após devolver o livro para a Amazon estando com meus olhos inchados de tanto chorar, só pude me agradecer ao dar uma nova chance para o trabalho de Cinthia. Ainda bem que existem as segundas chances!
Thales, Ayla e Duda são inseparáveis. As 3 crianças não desgrudam para nada e Ayla é a fã número 1 quando tem pelada no campinho de futebol próximo à casa deles. Por mais que haja uma sintonia absurda no trio de amigos, Thales e Ayla são mais próximos e a pouca idade dos dois ainda esconde um sentimento forte que florescerá daqui a alguns anos. Sentimentos esses que farão a triste e cruel vida do garoto invisível, Thales, mudar completamente.
O tempo passa e a vontade de jogar bola e virar um fenômeno da Vila Belmiro torna-se grande e, enquanto Duda, alheio aos problemas de Thales segue seu sonho rumo à peneira para jogar no Santos, o amigo sofre em silêncio, somente Ayla é capaz de afagar seu descompassado coração e livrar sua mente do inferno pessoal em que vive. No entanto, nem mesmo acompanhado da pessoa que mais lhe entende e protegido em sua casa, Thales conseguirá se safar de um destino cruel e injusto que apenas atrasará o lindo caminho que ele ainda irá trilhar usando a camisa 10 do São Paulo Futebol Clube e outras tantas em Barcelona.
" - Um dia, eu serei alguém. Eu juro, em nome do ódio que sinto nesse momento, em nome da dor que enche meu coração e em nome das lágrimas que não permito que caiam, um dia eu serei alguém e vou provar quem está falando a verdade aqui."
Pouparei você leitor de toda e qualquer revelação acerca dessa história porque tudo que queira explanar de maneira mais detalhada poderá te atrapalhar, o que posso dizer é que durante as 754 páginas do e-book, 95% das vezes que levantei meus olhos da tela do meu Kindle estava chorando rs, ora internamente e tímida, ora desesperada e com um grito preso na garganta. Thales Reis é aquele mocinho quebrado que apenas merece ser amado e respeitado, sua triste porém orgulhosa trajetória de vida é de milhões! Milhões de promessas cumpridas com muito custo e permeadas de muito derramamento de lágrimas e até sangue. Já Ayla é aquela amiga que todos deveriam ter por perto, é o tipo de pessoa que não desiste de você, independentemente, de QUALQUER coisa. Uma garota carinhosa, resiliente, dedicada e muito decidida sobre sua vida. Claro que sua base familiar merece todo mérito, seu Milton é de longe o melhor pai e personagem secundário da história, não consigo enumerar suas qualidades, ele foi fundamental para a construção, para o desenvolvimento e também finalização de tudo.
E por falar em construção, Cinthia Freire foi maravilhosa. Do início ao fim me vi completamente fisgada e emotiva. As divisões de capítulos intercalados e em primeira pessoa apenas me aproximaram do casal e de tudo que cada um estava (sobre)vivendo. Tinha vezes que a bile subia e quase vomitava... eu preciso ressaltar que o livro é pesado e que fala sobre abuso sexual. Também vou dizer que trata de distúrbios de aprendizagens que apenas ganharão nomes ao ler a nota empática da autora assim que completada a leitura. Por mais que o livro seja extremamente dramático e com algumas cenas intragáveis, é possível, sim retirar coisas boas destacando a amizade e a lealdade como ponto alto. Pude aprender da forma mais dolorosa apesar de intrínseca o poder que o não soltar de mãos é capaz na vida de alguém.
Embora tenha amado e favoritado a leitura, não pude dar 5 estrelas para ela. Alguns detalhes fizeram toda diferença, entre eles destaco o avanço acadêmico e profissional da Ayla, senti que ela apenas orbitou ao redor do Thales, a autora pincelava aqui e ali seus avanços mas na minha opinião ficou à deriva demais. Um outro fator e talvez o maior gira em torno do arco maternal do Thales, não entrarei em detalhes para não soltar spoilers, porém, meu coração queria não mudar o desfecho, mas, florear nem que seja um pouco o caminho a fim de não ver meu menino Thales sofrer tanto, no entanto, deve ter no mundo mães assim, ou melhor... mulheres, pois o título de mãe não deve ser agregado à Janaína.
Ainda presa em minhas lamúrias literárias, a repetição das palavras "pele negra" me fizeram revirar os olhos incessantemente. Sim, eu já entendi que a Ayla não é branca e achei superbacana essa representatividade, porém, houve um excesso desmedido por parte da autora na minha opinião. E para quê?
Ao ler algumas resenhas aqui no Skoob, percebi um número de leitores que acharam a leitura um tanto arrastada quando o assunto se referia ao sofrimento e superação do protagonista masculino. Diziam também que a quantidade de páginas e situações tristes ( cruéis) se sobrepuseram às felizes. Bem, concordo e não concordo, mesmo que 'Um milhão de Promessas' seja absurdamente dramático e com doses homeopáticas de evolução quanto ao mocinho, não conseguiria tirar nada do enredo, na verdade, acrescentaria umas 200 páginas a fim de ver a felicidade tão, mas tão merecida estampada no rosto de Thales e Ayla. Eles conseguiram! Eles ENFIM conseguiram.
E para finalizar, está mais do que claro que indico o livro, entretanto, fique ciente dos gatilhos. Além disso, ele é denso e tem muitas páginas com acontecimentos diários, é preciso muita sensibilidade para entender os mínimos progressos do protagonista, essa narrativa dia após dia para mim superfunciona pois sinto que faço parte do crescimento e amadurecimento de seus envolvidos. Então, se você é assim como eu e ama um drama de se atirar da ponte, comece agora mesmo e tenha ao lado uma caixinha de lenços, ela será necessária.
" - É como o fim de um livro, aquele momento mágico em que o leitor suspira e diz: ele merece, por tudo o que passou, esse é o seu final feliz, e não poderia ser melhor."