spoiler visualizarrotivo 29/01/2022
Esse é um livro que eu queria ler desde o ensino médio e acho que a minha experiência de leitura teria sido muito melhor se eu tivesse lido ele nessa época. É um livro interessante, mas completamente cliché.
O livro começa de maneira muito interessante, mostrando como o Russell e o Kevin descobrem um ao outro anonimamente on-line, como o Russell conta para uma amiga dele chamada Min, que conta que ela namorava uma garota chamada Terese, os quatro vão num encontro duplo, onde a Terese acabou chamando um amigo junto, todos se conhecem melhor, gostam da companhia um do outro e como se sentem mais pertos um do outro e isso leva à criação do Clube de Geografia.
No entanto, mais para o meio do livro, o Russell começa a ficar insuportável. Ok, ele gosta do Kevin e quer agradar o Kevin, mas quando ele fica indeciso entre apoiar a proposta da Min de acolher um garoto que sofria bullying pesado (Brian) e apoiar o Kevin que tava com medo de o Brian ser um linguarudo sobre o Clube de Geografia ser um espaço LGBT+ e contar para a escola toda, eu realmente não entendi como ele poderia ter ficado em dúvida. Tipo, ele não era contra porque ele tava com medo do que o Brian poderia (hipoteticamente e bota hipoteticamente nisso) fazer, ele era contra porque o KEVIN VOTOU CONTRA! Ok, ele tá no ensino médio, quer que o Kevin goste dele e, no fim das contas, ele é um adolescente, mas me parece que o Russell não tem personalidade NENHUMA. Sério que ele vai decidir ir contra uma das melhores amigas dele que ele conhece há anos contra um cara que ele acabou de começar o relacionamento e as interações que ambos tinham antes não passavam de casuais?????????? NÃO TANQUEI. Não me desce. Se alguém tiver lendo isso: priorize quem te prioriza.
Assim, eu amo personagens que têm falhas. Eu acho isso importante, porque torna a história mais real e dá espaço para amadurecimento, mas o Russell tem mais do que eu consigo suportar. Eu entendo que ele se sente sozinho e que o Kevin poderia ser aquele alguém especial para ele, mas os dois quase não têm momentos especiais em que os dois estão sozinhos. Existem, mas não o suficientes para que eu acredite que faria sentido ele priorizar o macho dele acima da amiga.
Por falar em amiga, a Min realmente é a melhor personagem desse livro. Ela agiu corretamente a respeito de tudo e não me desapontou em momento nenhum. Ela realmente queria acolher o Brian e eu bato palmas para isso. Mas isso me faz pensar: se ela queria acolher ele, porque ela não falava com ele? Porque ela não conversava e perguntava como ele estava, se ele precisava de ajuda com alguma coisa? A escola do livro é completamente tóxica, mas eu imagino que em algum momento isso poderia ter mostrado, mesmo que a história seja do Russell em primeira pessoa, porque ele narra o que acontece no refeitório. Quando a Min sai do Clube de Geografia e para de sentar com o Russell, ela vai para a mesa das escoteiras, sendo que ela poderia muito bem ter ido conversar com o Brian. Não quer dizer que isso nunca tenha acontecido, mas é algo que ela poderia ter feito. Tipo, já que ninguém quer ajudar, eu tomo a iniciativa. Mas ninguém é perfeito, exceto a Min.
Outra coisa que me deixou extremamente desgostoso foi o outro amigo do Russel, Gunnar, falando que já sabia que o garoto era gay há 5 anos??????? Tipo, meu você sabe (ele nem disse que desconfiava, ele disse sabia) disso e fez ele ir no encontro com a garota lá 3 vezes, sendo que ela obviamente queria transar com o Russell??? Que amigo, minha gente. E o pior quando ele depois de toda a confusão do terceiro encontro duplo, ele sobe num arbusto e fala pro amigo que mesmo sabendo que ele era gay, não fez NADA e até incentivou as meninas lá a espalharem pela escola que ele era gay. E o Russell ainda perdoa!!!!!!! Perdoar, de fato, faz bem, mas existe uma linha entre machucar sem ter a intenção de machucar e machucar tendo completa noção do que está acontecendo. Se eu me lembro bem, o Gunnar até usou a carta de "você é gay?" para forçar o Russell a sair com a Trish só para que ele pegasse a melhor amiga dela, Kimberly. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS PARA O GUNNAR? SUBIR NUMA ÁRVORE E FALAR QUE SENTE MUITO, IMPLORANDO PARA QUE O RUSSELL VOLTE A FALAR E SER AMIGO DELE! ME POUPE, POR FAVOR!!!
Mais uma vez, aquele ambiente escolar é completamente tóxico. Eu me pergunto se algum funcionário administrativo trabalha lá. A gente vê o diretor nos primeiros capítulos e é só isso. Mas o tanto de bullying que existe naquela escola não tá escrito e não há nenhum programa para resolver/trabalhar o assunto. Só que, assim, o livro é do início dos anos 2000, então é razoável acreditar que essa era a realidade da época.
Um comentário que eu achei de muito mal gosto/que envelheceu muito mal, foi um que acontece enquanto o Russell está sentado com os atletas no refeitório e ouve dois deles conversando, um tava falando sobre como tinha transado com uma garota e ela tava implorando por mais, então ele comenta em pensamento: "That's a lot of begging, Who was Jared dating - a homeless person?". Eu tive que abaixar meu Kindle por um momento e refletir sobre o porquê de eu ainda estar lendo esse livro. Mas perseverei até o final.
Outra coisa que eu marquei foi esse outro pensamento: "Now I knew exactly what it had felt for Brian Bund that afternoon in the hallway, when Jared and Nolan and I had cornered him on the steps. But at least I, unlike Kevin, hadn't made fun of anyone for being gay". Você, Russell/autor, está me dizendo que você pensa que encurralar um garoto que sofre bullying a torto e direito na escada da escola, sendo que ele demonstra no olhar dele que ele está com medo (provavelmente estresse pós-traumático do tanto de bullying) e ficar zoando a aparência dele, sobre o quão assustado ele está, é pior do que rir de você por ser gay? Colega, os dois são uma grande merda. Você é extremamente egocêntrico, se coloque no seu lugar. Você tava pouco se lixando pra qualquer outra pessoa que não fosse o Kevin o livro inteiro e daí quando ele tá com vergonha de ser visto com você, porque todo mundo pensa que você é gay, ele ri quando fazem piada contigo e ele te zoa dizendo que você queria uma linguiçona, você vem me pedir empatia??? Eu até tenho, mas reflita sobre suas prioridades (isso acontece no livro, mas eu tô exalando raiva e preciso me expressar). Sabe, como você diz que um é pior que o outro? Porque um você sofreu e o outro não foi com você (além de você ter tido participação???
Ai, agora falando sobre coisa boa, uma frase da Min que eu me identifiquei: "If I'm such a great person, how come I feel like shit?". Rainha que dá para se identificar.
Enfim, eu ia dar duas estrelas, mas conforme o livro vai acabando, mais precisamente nos dois últimos capítulos + epílogo, eu sinto que a história volta a tomar os rumos corretos. O Russell realmente não é a melhor pessoa do mundo e ele precisa começar a criar seus pensamentos individuais. Faz sentido na idade dele, mas ele ainda assim precisa ter noção das consequências das atitudes dele. E isso acontece no final, quando ele se senta com o Brian no refeitório, porque não tinha mais companhia, já que todo mundo achava que ele era gay. O Brian se mostrou ter uma personalidade incrível, um caráter maravilhoso e depois daquela conversa (até que breve) entre os dois no refeitório, ele decide entregar um papel na secretária dizendo que queria começar um grupo de apoio LGBT+ e então todo mundo acha que ele era o gay e não o Russell. O melhor de tudo é que ele é hétero, sofreu na mão de tudo e de todos e ainda assim teve mais coragem do que qualquer outro personagem nesse livro. Ele só demonstrou bondade a todo mundo que se dirigia a ele. Brian, você é demais.
Outro ponto positivo foi que o Russell não termina com o Kevin, o que, para mim, foi essencial, já que quando o Russell precisou dele/queria conversar com ele, Kevin o abandonou. Existiam meios de contato que não o exporiam tanto, mas mesmo assim, ele decidiu manter distância/zombar do Russell. Então parece que nosso personagem principal teve seu desenvolvimento tão necessário no fim das contas. Isso me fez subir uma estrela.
Mas, assim, não recomendaria para ninguém e tenho quase certeza absoluta de que nunca mais lerei ele na minha vida. Uma vez basta.