Carla Verçoza 09/02/2022
Mariana Enriquez é uma escritora muito, muito massa!
Eu já havia lido "As coisas que perdemos no fogo", livro curto com contos curtos, e havia gostado demais. Agora com o seu romance, um calhamaço (sim, mais de 500 páginas com letra pequena e páginas cheias), a autora volta a me conquistar com sua escrita inteligente, simples (mas não simplória) e fluída.
Recheado de referências da cultura pop, o livro conta a história de Juan e Gaspar (pai e filho) e sua família, que faz parte de uma Ordem que adora uma entidade, Escuridão. Ao logo dos capítulos a saga familiar vai sendo desenrolada, de forma bastante interessante e não convencional.
Os capítulos são narrados por personagens diferentes e em tempos diferentes, sem seguir uma ordem cronológica. As informações vão sendo apresentadas sem muitas explicações e as respostas são dadas ao longo da história, de forma inteligente e agradável. A autora não entrega tudo com facilidade, confia na astúcia do leitor, o que me agrada muito. Adorei o estilo e achei que, mesmo com um livro tão longo, Enriquez conseguiu criar uma história boa e muito bem amarrada.
Há algumas passagens bem pesadas, de violência, abusos. O terror, o sobrenatural, é inserido de uma maneira certeira, com algo de um horror característico da América do Sul. Assim como as questões de gênero também são tratadas de forma bastante natural, sem ser forçado.
O livro possui altos e baixos, em alguns momentos fica um tanto cansativo, mas logo retoma o ritmo. A construção das histórias de Gaspar, sua família e amigos é rica, e o livro, além do enredo central (a Ordem e seus mistérios), tem muitas camadas, como amizade, a busca de um lugar no mundo, relações familiares, sexualidade, AIDS, ditadura militar, e a autora constrói tudo isso de uma forma bastante agradável de acompanhar.
Assisti ao episódio da série "O Lobo do Lobo e a Literatura Latino-americana" (2022, canal Curta!) com a autora e minha admiração por ela só aumentou. Pretendo acompanhar seus lançamentos aqui no Brasil. Literatura latino-americana segue sendo minha favorita!