Tuca 22/06/2021As histórias que nos contam nem sempre são verdadeiras. O lobo mau pode ser o herói; o vilão, talvez seja alguém de confiança; e a família é capaz de ser o inimigo. Dizer que as aparências enganam seria óbvio demais para uma trama que tem como título “Beleza cruel”, porém muito além do aspecto daquilo que vemos seria mais correto falar-se nas narrativas que nos norteiam. Lorena era guiada por uma narrativa: a de que Julian Caronte fora responsável pela morte do seu pai e de seu irmão mais querido. Quase refém dos desejos do irmão que lhe restara e de quem não era próxima, a menina nascida em berço de ouro, agora pobre, seguia em frente apegada pelo seu amor as suas alunas de balé, em especial a pequena Amande, com a alegria da sua cachorrinha Docinho e com as lembranças carinhosas que permaneceram em si. Até que sua vida pacífica é transformada por um perigo invisível, e quem lhe oferece proteção é justamente aquele que ela acreditava ser o inimigo.
Para quem gostou de Questões do Destino de Bia, esse livro é, na minha opinião, uma alma gêmea dele, tendo o mesmo estilo de mocinho heroico (e para quem curtiu Beleza Cruel e ainda não leu Questões do Destino, fica a dica). Carregando impressões duvidosas acerca de si, em especial, quando diante de Lorena, Julian é um garoto que cresceu órfão, mas que agora era um homem dono de um império o qual apesar de não ter sido criado por ele, era mantido, sustentado e aumentado pelo seu trabalho. A relação dele com Lorena floresce não apenas em meio ao sentimento de proteção, mas de um cuidado, respeito e carinho.
Duas moedas eram tudo o que acompanhava Julian desde que fora abandonado no orfanato. Assim como na mitologia grega, duas moedas era o que se colocava sobre os olhos do morto, como pagamento ao barqueiro Caronte que levaria as almas ao submundo. O Caronte de “Beleza Cruel” transforma suas moedas em força e seu altruísmo em seu barco, e longe de querer encontrar com a morte, ele faz de tudo para que sua amada não seja transportada pelo barqueiro. Em uma trama de mistério, na qual é uma incógnita o verdadeiro inimigo, Julian e Lorena encontram amor em um rio incerto, imersos no desconhecido, presos apenas na segurança de um sentimento que nem sempre sabem demonstrar.
Foi uma leitura de um romance doce e rapidamente intenso à primeira vista, mesmo com os segredos que o rodeavam. Com a história de dois personagens perdidos quando sozinhos e que há muito já deviam ter se encontrado e construído sua própria narrativa. Sem a influência além daquela de suas próprias emoções e intuições.
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