Poemas

Poemas Louise Glück




Resenhas - Poemas (2006-2014)


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Leila de Carvalho e Gonçalves 02/07/2021

Três Livros Em Um Só
No dia 8 outubro de 2020, foi anunciado mais um vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, no caso, uma vencedora, a poeta Louise Glück, cujo nome foi recebido com surpresa, pois não constava nas renomadas listas de apostas que, em geral, primam mais pelos erros do que acertos, quando o assunto é esse.

Porém, ao contrário dos últimos anos em que as polêmicas escolhas de Bod Dylan e Pete Handke deram o tom, dessa vez o aplauso da crítica foi unânime. Para nós, brasileiros, havia pouco a comentar, pois a obra de Glück estava restrita a poucas traduções de seus poemas que imediatamente ganharam destaque nas revistas literárias e redes sociais.

Foram 8 meses para chegar às nossas livrarias seu primeiro livro, melhor dizendo, seus três últimos livros reunidos num só, totalizando 594 páginas e 83 poemas no original e traduzidas para o português. Sem dúvida, uma edição de encher os olhos, mas que peca por um detalhe, a ausência de uma Fortuna Crítica que contemplasse alguém como eu, o leitor comum.

Apesar da dificuldade do desafio e até atrevimento, segue meu comentário:

* Averno (Tradução Heloisa Jahn)
Publicado em 2006, Averno é o décimo livro de Louise Glück e, reunindo 18 poemas, é a melhor porta de entrada para sua obra, conforme a escritora costuma defini-lo. Isso se deve aos ecos autobiográficos que remetem a infância e a adolescência problemáticas, o que lhe custou anos de terapia e a obrigou desistir da faculdade.

Resumidamente, a seleção gira ao redor do mito de Perséfone, entretanto Glück o ressignifica ao oferecer outra possibilidade para a descida da deusa para o Inferno, ao invés de raptada por Hades, ela o teria seguido de livre e espontânea vontade. Não satisfeita, a autora também altera esse momento, ele foi deslocado da beira de um precipício para o Averno, ?? um pequeno lago de / cratera, / dez milhas a oeste de Nápoles, / Itália; considerado pelos / antigos / romanos a entrada para / o outro mundo.?

Tais intervenções produzem um resultado instigante. Sem preocupação com a métrica e rimas, os poemas exibem inúmeras alusões, metonímias e alegorias a partir dessas diferentes conjunturas, revelando em tom confessional a dor pela mocidade perdida e a angústia pela interrupção dos sonhos que coroariam essa etapa da vida. Porém, assim como Perséfone renasce a cada primavera, a vida também admite recomeços.

Enfim, sombrio e repleto de lirismo, Averno é um livro belíssimo, impossível passar incólume por ele.

As Migrações Noturnas
?Este é o momento em que voltamos a ver / os frutos rubros da sorveira / e no escuro céu / as migrações noturnas das aves. / / Me dói pensar / que os mortos não vão vê-los / ? essas coisas das quais dependemos / desaparecem. / / De que modo então a alma encontra alívio? / Digo para mim mesma: quem sabe ela já não / reclame esses prazeres; / quem sabe lhe baste o mero fato de não ser / coisa tão difícil de imaginar.? (Posição 175)

* Uma Vida no Interior (Tradução Bruna Beber)
Publicado em 2009, Uma Vida no Interior é o décimo primeiro livro de Louise Glück. Somando 41 poemas, ele retrata o dia a dia numa vila não nomeada, aparentemente localizada na região mediterrânea.

Um local onde o trabalho é regida pelas estações do ano, determinado pelo levantar e o por do sol, trazendo à luz uma atmosfera bucólica arranhada pelas emoções arquetípicas dos seus habitantes.

Por sinal, elas chegam impregnadas de uma amálgama de decepção e conformismo que só ignora crianças e adolescentes, à medida que esses sentimentos estão ligados a perda da inocência.

Sinteticamente, a paisagem de Glück surge radiante, sua escrita surpreende pela beleza e, ao dar voz à diferentes personas, como o trabalhador de um moinho, uma caminhante noturna ou um menino que se confessa ao padre, o interesse do leitor redimensiona-se e é difícil largar o livro antes do final.

Cansaço
Dorme o inverno inteiro. / Então acorda, faz a barba ? / demora até que se torne homem de novo, / no espelho, o rosto espetado de fios pretos. // Agora a terra é uma mulher, esperando por ele. / Uma esperança profunda ? é isso que sela a união / dele com essa mulher. // Ele precisa trabalhar o dia inteiro para provar que / merece tudo que tem. / Meio-dia: está cansado, está com sede. / Mas se desistir agora não terá coisa alguma. // O suor que empapa suas costas e braços / é como se sua vida evaporasse de si / sem deixar nada no lugar. // Trabalha feito bicho, depois / feito máquina, sem emoção. / Mas o elo jamais será desfeito, / embora a terra reaja, barbarizada pelo calor do verão ? // Ele se agacha, a terra escorre por entre os dedos. // O sol se põe, vem a escuridão. / Agora que o verão acabou, a terra enrijece, esfria; / na estrada, pequenas fogueiras resistem. // Do amor não sobra nada, / só distância e ódio. (Posição 3166)

* Noite Fiel e Virtuosa (Tradução Marília Garcia)
Publicado em 2014 e composto 24 poemas e prosas poéticas, Noite Fiel e Virtuosa é o décimo segundo livro de Louise Glück e o último até o momento.

Em linhas gerais, seu tema discorre sobre a circularidade da vida, ou melhor, aos 70 anos e após perder a mãe já centenária, a autora apresenta a velhice como uma segunda infância. Um tema que, se não é novo, é tratado com destreza e pungência.

Simultaneamente, para explorar melhor o assunto, Glück inventa uma história sobre dois irmãos que cresceram sob os cuidados de uma tia depois da repentina morte dos pais. O caçula, um pintor já idoso, é quem assume o eu lírica, resgatando as imagens da infância e registrando seu presente, uma criação que faz um instigante contraponto à vida da escritora.

Aliás, o título do livro remete a uma cena de infância desse pintor, quando ele ficava deitado na cama com o irmão e este lia as lendas do rei Arthur. Ao ouvi-lo se referir ao ?cavaleiro fiel e virtuoso? da história, o irmão menor, que ainda não sabia ler, entendia ?noite? [night] em vez de ?cavaleiro? [knight], palavras homófonas em inglês. Este engano transformou ?o cavaleiro fiel e virtuoso? na ?noite fiel e virtuosa?.

Usando versos livres, o livro agrupa memórias antigas e recentes e seu espaço temporal é tratado espacialmente: os eventos do passado ocupam o primeiro plano, enquanto os mais recentes surgem mais afastados, até mesmo apequenados e borradas. Porém, quem reina absoluta é imaginação da escritora e um bom exemplo é, ao reportar a uma história de cavalaria, ela traz à tona uma bela metáfora para a Morte que não só dá o tom do livro como o intitula. Enfim, entre os três, o mais acessível ao leitor.

Teoria da Memória
Há muito, muito tempo, antes de eu me tornar um artista angustiado, atormentado pelo desejo, mas incapaz de criar laços estáveis, muito tempo antes disso, fui um glorioso soberano que uniu todas as pessoas em um país dividido ? foi o que me disse a vidente ao ler a palma da minha mão. Estou vendo coisas extraordinárias, ela falou, que estão à sua frente, ou talvez atrás de você; é difícil dizer ao certo. Mas, afinal, acrescentou ela, que diferença isso faz? Agora você é uma criança de mãos dadas com uma vidente. Todo o resto são só hipóteses e sonhos. (Posição 5287)
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KKbarros82 14/11/2021

"Meu silêncio, porém, nunca foi completo"
A primeira impressão ao ler os Poemas 2006 - 2014 da Luise Glück foi: estou realmente lendo poesia? Se estou, então o que é poesia afinal? Frases soltas, palavras sem sentido ou com sentido?

Fernando Pessoa em seu "Livro do Desassossego" enfatiza que: "Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

Concluí então, poesia é o que leio. Poesias da ganhadora do Nobel, Luise Glück. A poeta. As páginas passam e palavras, frases e silêncios invadem meus sentidos. Não é difícil ler Luise. Seu vocabulário é simples, talvez, por isso, o estranhamento, mas sua visão de mundo é avassaladora. Seus versos são uma invasão dos sentidos. Tempo, solidão, desilusão, morte e quase tudo ao redor da poeta é uma desculpa para sua percepção de mundo transformar em poesia.

A ambiguidade do cotidiano da vida no campo também surge como uma metamorfose de poemas. O bucólico é seu grande mestre, isso não quer dizer que alma, medo e até um átomo não seja percebido pela autora. Nada escapa do seu olhar poético. Não só o ser humano, mas também o mundo real ou não, é seu é tema.
Logo, Luise Glück faz poesia? Nunca duvide da capacidade de uma poeta em expressar "ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega" isso é pura poesia e Luise a faz com mestria.
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M. S. Rossetti 24/02/2022

Verso em prosa
Fascinante a leitura de poemas que parecem pequenos contos de tão fluidos. Encerrei a leitura desta obra (3 livros mais recentes da escritora, reunidos em um único volume) justamente no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia. Coincidentemente, o penúltimo poema apresenta o seguinte verso:

"No alto os aviões iam e vinham, pacíficos, pois a guerra chegara ao fim."

Assim, desejo que o conflito bélico que se iniciou hoje acabe logo, com o mínimo possível de vidas perdidas para a arrogância humana.
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Nathani 10/01/2022

Achei uma nova poetisa favorita
Existem livros que nos abraçam, nos entendem e nos inspiram. Esse é um deles.

Edição bilíngue da Companhia das letras contém os três livros de poesia mais recentes da autora: Averno, A village life (Uma vida no interior) e Faithful and virtuous night (Noite fiel e virtuosa).

Em Averno, Louise revisita o mito de Perséfone, sequestrada (ou não) por Hades para o submundo. A partir da visão de Perséfone tece as descobertas da juventude com a liberdade, inocência e o sentimento de luto pela infância.

Em Uma vida no interior, as forças da natureza representam os sentimentos mais primitivos do ser humano: tudo que nos parece tão íntimo e único mas é na verdade comum e intrínseco a todos nós.

Noite fiel e virtuosa:
?Me ocorreu que todos os seres humanos se dividem
entre os que querem seguir adiante
e os que querem voltar atrás.?
O apego ao que e a quem já foi, a dor e a culpa em seguir em frente, vínculos familiares eternos, amor, melancolia, solidão e esperança.

É extremamente difícil falar sobre o que exatamente são esses poemas de modo que transpareça sua sensibilidade e força. Posso dizer que eles falam sobre tudo, sobre a vida e a morte e que senti como se eles falassem diretamente comigo. É incrível o poder que a Louise tem de se expressar e de associar de forma tão bela seus sentimentos à natureza. Favoritado e com a certeza de inúmeras releituras.

site: instagram.com/livrosparaviver
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Leila 06/08/2022

Louise Glück
Edição bilíngue (inglês e português)...
Gostei do livro, porém achei cansativo por ser bilíngue... Ela é vencedora do Prêmio Nobel de literatura de 2020...
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Higor 17/07/2021

"Lendo Nobel: sobre viver e a fatídica e inevitável trilha rumo à morte
Depois da renúncia de 7 membros da Academia Sueca em 2018, os novos nomes, cuidadosamente escolhidos para trazer de volta a confiança e respeito da responsável pelo Prêmio Nobel, era óbvio que os novos laureados seriam menos ousados, fora da caixinha, e que não causassem, ao menos no que dizia respeito a literatura como algo sólido, polêmicas.

Os nomes de Tokarczuk e Handke (este com polêmicas políticas) agradaram de maneira geral, afinal, são respeitados e consolidados enquanto escritores de respeito, mas a escolha de Louise Glück apenas mostrou que, sim, eles estão se empenhando fortemente para reconquistar o que tanto temiam perder.

Desde 2011 sem um nome que se dedica exclusivamente com poesia, quando o escolhido foi Tomas Tranströmer, a láurea para Gluck agradou em unanimidade, e nós, brasileiros, só ganhamos com isso: premiada inclusive com o Pulitzer, a americana era inédita por aqui, mesmo com uma carreira firme e respeitada de mais de 50 anos.

A primeira das quatro coletâneas prometidas pela Cia das Letras, este volume traz consigo os três últimos livros publicados, sendo eles Averno (2006) Uma vida no interior (2009) e Noite fiel e virtuosa (2014).

Assim como em qualquer gênero, em que não tenho embasamento para escrever sobre, esta minha primeira leitura de poesia da vida se mostrou algo gostoso de encarar, afinal, sem embasamento e experiências com poemas, o receio de não saber ler e/ou aproveitar de maneira mais intensa os textos era grande.

Averno começa com um poema que foi lançado inicialmente em 2011, Outubro, em resposta aos acontecimentos do fatídico e conhecido 11 de setembro. Como o próprio título já anuncia, o poema mostra como aquela nação, aquela cidade, e seus habitantes estão tentando, quase sempre sem sucesso, dar continuidade a suas vidas, embora o medo, a morte e a saudade sempre esteja ali os atormentando.

Trechos como

Me diga que isto é o futuro,
que não acredito em você,
Me diga que estou vivendo,
que não acredito em você

dão o tom não só de Averno, mas de todos os três livros, pois temas como morte, perda, sofrimento, isolamento, dor e tristeza são recorrentes em suas obras, assim como contemplação, natureza e, claro, releitura de clássicos, como em Averno, que retoma o mito de Perséfone e seu amor a Hades. Profundo, não fala apenas sobre o conturbado relacionamento com o deus dos mortos, mas vai mais além, levando o leitor a reflexão sobre como é difícil deixar algo para trás, uma vida anterior, uma família, pais, emprego, e viver uma nova vida. E não somente isso, mas o que tal mudança desencadeia, não na própria vida, mas nas dos demais, que fazem parte do círculo pessoal.

[...] Perséfone
é tomada da mãe
e a deusa da terra castiga a terra

Mais acessível e que certamente vai trazer aconchego para muitos leitores, Uma vida no interior tem uma identificação por falar justamente de uma vida pacata, no interior, e como seus habitantes interagem entre si, com a natureza e buscam meios de sobreviver, de ter seu lugar no mundo.

Eu ando no escuro como se me fosse natural,
como se já fosse um elemento da escuridão.
Tranquilo e parado, o dia amanhece.
Dia de feira, levo minhas alfaces ao mercado.

A sensação de um romance ou contos em poesia continua em Noite fiel e virtuosa, embora este se destaque pela presença de trechos em prosa, alguns parágrafos longos, mas que não chegam a uma página inteira, para dar consistência à intenção de Glück.

Os mesmos assuntos se fazem presentes, com um ar de nebulosidade e, claro, como não podia deixar de ser, noite e madrugada: são poemas que falam de maneira franca sobre a escuridão, seja ela a velhice, a morte ou a perda da inocência, contrastando com a inocência da infância, a descoberta do mundo ante a decadência de tal mundo ante olhos maduros e já cansados.

Aqui me despeço de você. Tudo indica
que não há um final perfeito.
Há, na verdade, infinitas possibilidades.
Ou, quem sabe,depois que começamos,
só restam os finais.

Escolha firme acertada, Poemas “(2006-2014)” é uma ótima escolha para conhecer o trabalho de Louise Glück, pois seus temas são universais, simples, mas ao mesmo tempo que qualquer pessoa já se perdeu em pensamentos. O nome ideal para impor respeito.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel". Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Daniel Andrade 18/12/2021

Dois livros ótimos, um nem tanto.
Meu primeiro contato com Louise Glück e gostei bastante. Averno e Uma Vida no Interior são ótimo, Noite Fiel e Virtuosa não me agradou muito. Espero que a Companhia das Letras continue publicando outros livros dela.
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Paula1735 24/03/2024

"Tudo indica
que não há um final perfeito.
Há, na verdade, infinitas possibilidades.
Ou, quem sabe, depois que começamos,
só nos restam os finais."
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arthur966 18/06/2022

once you enter the earth, you will not fear the earth;
once you inhabit your terror,
death will come to seem a web of channels or tunnels like
a sponge's or honeycomb's, which, as part of us,
you will be free to explore.
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João Vitor 04/09/2021

?(?) like what I remember of love when I was young ?

love that was so often foolish in its objectives
but never in its choices, its intensities.
Too much demanded in advance, too much that could not be promised ??

parte do poema Crossroads
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Luiz Pereira Júnior 13/11/2021

O Nobel e o sinfronismo
Primeiramente, transcreverei os primeiros parágrafos de uma resenha que fiz sobre o livro “A Poesia Possível”, de Francisco Espinhara (eu o farei não por preguiça, desleixo ou por qualquer outra razão, a não o ser o simples fato de que minhas palavras anteriores servem exatamente para o que sinto agora):

“Não costumo fazer resenhas de livros de poesia, pois reconheço o imenso peso do fator identificação com o leitor na leitura desse gênero.
Assim, já li muitos livros de poesia (sou professor de Literatura no Ensino Médio e sempre procuro ficar por dentro dos lançamentos – sempre digo que sou contra qualquer preconceito, até mesmo contra o preconceito literário).
Mas também devo dizer que não me identifiquei até mesmo com alguns dos ganhadores do Nobel (todos os anos fico na expectativa de quem será o ganhador do ano – não torço por time nenhum, mas as semanas que antecedem o anúncio do Nobel de literatura sempre me parecem a decisão de um campeonato mundial).
Dito isso, não me identifiquei em nada com Louise Gluck, ou com Seamus Heaney, por exemplo, e em várias ocasiões fiquei me perguntando como esses autores puderam ganhar um prêmio de importância mundial, se nenhuma emoção passaram a mim e, com certeza, a centenas de seus outros leitores.
Bem, como disse anteriormente, sou apenas um professor do Ensino Médio, leitor onívoro e irrestritamente contra qualquer tipo de preconceito literário...”

Após escrever esses parágrafos, lembrei-me de que, ainda à época distante de minha faculdade, comprei um livro de teoria literária (não, não era de nenhum autor famoso nem de nenhuma celebridade intelectual da moda, mas simplesmente pelo fato de ter sido o único livro de teoria literária que tive condições de comprar – e, como detesto mi-mi-mi, digo que valeu a pena cada centavo). Descobri, entre outros, um termo que me recordo até hoje: sinfronismo, que é, resumidamente, a identificação entre o leitor e o autor.
Sim, compreendo perfeitamente as demais resenhas desse livro e também sei que o puro sinfronismo não é critério algum para um autor ganhar o Nobel de Literatura. Afinal, se centenas (milhares, milhões...) de leitores não se identificaram com os poemas de Glück, outras centenas (milhares, milhões...) encontraram na autora uma voz de si mesmas. E eu respeito isso.
Apesar disso, houve momentos em que eu me perguntava sobre o que estava lendo e tudo me parecia ser apenas as queixas de uma mulher privilegiada (branca, rica, adulta, professora universitária, bem casada, família amorosa, que gasta milhares de dólares fazendo análise – sobre o quê mesmo?) remoendo o que passou e olhando a natureza pela janela – e nada fazendo, apenas deixando que os outros transformem o mundo...
Sim, sei que Emily Dickinson construiu seus poemas como descrevi acima, mas ao escrever “I shall not live in vain”, Dickinson ilumina toda a sua angústia, toda a sua introversão, todo o seu “leave me alone” (leia o poema, ou melhor, veja e escute o vídeo de Bill Douglas, um músico canadense que musicou esse poema).
Lev Tolstoi, James Joyce, Henrik Ibsen, Virginia Woolf, Marcel Proust, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Clarice Lispector – não ganharam o Nobel, mas mudaram a Literatura... Já Louise Glück...
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mariasbookdrama 06/03/2022

Conheci Louise Glück através de um poema dela em inglês, alguns anos atrás. "First memory" me encantou muito. Desde então fiquei aguardando ansiosamente que seus poemas fossem trazidos... Lendo esse livro me encantei mais ainda com Louise!
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Alisson da Hora 01/04/2022

Uma porta para o abismo
Diferentemente de poetas como Sylvia Plath ou Anne Sexton, Louise Glück (aparentemente) abre mão do confessionalismo, que pode ser muitas vezes uma faca de dois gumes aos poetas em geral no que diz respeito à construção de "topoi" poéticos que vão marcar sua dicção. Como Bukowski, alguém que parece diametralmente oposto à ela, envereda pela edificação de ficções, poemas narrativos de ritmos estranhos, mas que fazem com que se descortinem em nossas mentes, imagens tremendamente familiares, mas ao mesmo tempo estranhas. E aí a relação entre a sua poesia (explícita) com a psicanálise, de um inferno que acessamos pelo Averno e eventualmente por lá ficamos, vindo à tona de nossas vidas, como Perséfone, uma vez por ano. Mas nossa vida é de sombras, muitas sombras. Mesmo quando evoca imagens campestres não é ao idílico arcádico que ela chama, mas de sombras que se movimentam pela memória e se perpetuam nas noites onde vamos se refugiar depois de uma sessão de análise, a linguagem só como muleta, a música das árvores abraçando um casal imaginário...
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Biblioteca Álvaro Guerra 05/05/2023

Somando 41 poemas, ele retrata o dia a dia numa vila não nomeada, aparentemente localizada na região mediterrânea. Um local onde o trabalho é regida pelas estações do ano, determinado pelo levantar e o por do sol, trazendo à luz uma atmosfera bucólica arranhada pelas emoções arquetípicas dos seus habitantes.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786559210596
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biacs 10/06/2023

Finalmente!
Depois de um ano inteiro, terminei. Em defesa do livro, foi por má organização de minha parte mesmo. O livro, que parece enorme, na verdade são três obras da escritora compilados em uma edição. Além disso, as páginas pares são em inglês, com a tradução nas páginas ímpares. Meio bagunçado, eu sei.

Li o primeiro no feriado de Corpus Christi ano passado. Adorei! Poesia misturada com mitologia grega nunca erra, e com essa autora genial (prêmio Nobel de literatura, respeito por favor) mais difícil ainda errar.

O segundo livro constrói, por meio de poemas não interligados, a vida no campo e suas figuras chave. Com grande foco na imagem da natureza, foi definitivamente meu favorito, simplesmente por frases e versos que deixam aquele sentimento de um soco no estômago, e que preciso tirar um tempo para refletir, de tão bom.

Já o terceiro e último não deixa nada a desejar comparado com os outros. Com poemas que contam a história de um artista solitário e introspectivos, a autora consegue criar uma narrativa concreta mesmo com as poesias ?fora de ordem?.

Poesia genial, e metáforas para construção de pensamentos sobre o mundo ao seu redor e tempo incríveis. Quero reler algum dia, mas primeiro meu organismo precisa digerir essas palavras um pouco. Recomendo demais!
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