P. G. S. ZAGO 21/06/2021
Fantasia nacional misteriosa com uma narrativa impecável
"Um mundo de possibilidades a aguardava sibilante do outro lado, à espera apenas de que desse um passo a mais."
Barbarel, País da Noite, é o livro de estreia da Leona Volpe e introduz um universo fantástico onde criaturas míticas, como féericos e goblins, são reais, e sonhos, pesadelos e realidade se misturam de maneiras inebriantes.
Livremente inspirado no filme de 1986, Labirinto, e com referências maravilhosas da literatura fantástica, Barbarel é uma história fascinante sobre uma jovem que precisa enfrentar o apavorante Subterrâneo para desvendar o mistério sobre o roubo de algumas moedas do banco no qual trabalho e o desaparecimento da cliente à qual pertencem.
Ao começar a jornada, o viajante é introduzido a um guia prático sobre modos féericos e ao longo do percurso acompanha Cordélia, a jovem humana convidada por Meia Noite a conhecer o Subterrâneo e ingressar em Barbarel, um dos Países da Noite, em todos os seus desafios e devaneios, observando-a confrontar cada um dos itens da lista de boas maneiras féericas, os quais não consegue evitar infringir.
Em um inverso enigmático em que nada é o que parece, onde palavras são distorcidas e todos os truques e ilusões são possíveis para confundir e aprisionar, e todos são deveras obtusos a ponto de não inspirar confiança, o viajante precisa estar atento a todas as informações para não sucumbir aos subterfúgios ao lado da protagonista.
A narrativa da autora é impecável e muito agradável. Leona mantém o clima de tensão e mistério do início ao final do livro e deixa o viajante desconfiado da própria sombra, enquanto tenta desvendar os enigmas ao lado de Cordélia, inclusive os atinentes à própria, que se mostra tão obtusa quanto as criaturas que encontra pelo caminho.
"Cordélia não se via mais como a moça que descera da Superfície. A cada passo para dentro do Subterrâneo, em seus intermináveis círculos, mais claro ficava que nunca mais seria a mesma. Nada poderia impedir aquela metamorfose."
Em Barbarel é difícil discernir entre o que é ilusão e realidade, bem e mal, e é exatamente esse o grande encanto dessa obra, que faz questionar todos os conceitos ao mesmo tempo em que diverte e apavora, fazendo o viajante confrontar a fantasia e a realidade, enquanto tenta decidir qual delas é mais maligna.
A singeleza com a qual a autora descreve e aprofunda cada um dos personagens é impressionante, a ponto de tornar cada um deles um protagonista nesse enredo intrincado, em que uma simples aparição pode gerar milhares de desdobramentos para o deslinde da trama principal.
Os vilões também são dignos de nota, na medida em que assustam e aterrorizam, ao mesmo tempo que encantam e fascinam, fazendo o viajante questionar a natureza de sua maleficência.
"Eu estou encantado em ser seu vilão, mas, se quer um conselho, o Subterrâneo é o lugar perfeito para a aprender a escolher os seus inimigos. E, digamos, Cora, querida...que eu sou um inimigo muito valioso."
O aspecto mais inquietante dessa viagem por Barbarel é perceber que a linha entre bem e mal, aceitável e intolerável é muito tênue, e que, para pender a balança para qualquer dos lados, basta um simples passo em falso, ainda que atrelado à devida e justificável motivação.
"Eu vejo uma sombra dentro de você, implorando para sair e dançar com os meus demônios. Deixe-os valsar, Cora, querida."
Faça as malas e se permita duvidar de tudo e se encantar com tudo, quase na mesma medida, enquanto percorre os caminhos misteriosos do subterrâneo, deparando-se com criaturas inimagináveis e com aspectos impensáveis da mente - humana ou mítica.
Vamos viajar?
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