Pandora 14/09/2022Não chega a ser spoiler, mas conto uma coisinha ou outraAy… el marasmo por acobardamiento me carga!
O livro tem quatro partes. A primeira é boa. A segunda é um tanto morna. A terceira termina com o melhor diálogo do livro todo, o que gera uma expectativa. E a quarta é uma apatia. Se acabó.
Conheci Pilar Quintana por seu livro La Perra. Gostei muito. Não dei cinco estrelas porque achei que se fosse contado pelo ponto de vista da tutora ou da cadela seria mais impactante. Foi um tiquinho de emoção que faltou.
Aqui, a autora trata de temas importantes como solidão, depressão e suicídio, numa história contada por uma criança de oito anos, nos anos 80, que fala como um adulto e tem uma compreensão do entorno impressionante, enquanto os adultos parecem todos viver em outro planeta. Não sei, não colou. Não ajudou que nenhum personagem é carismático, incluindo a menininha; e olha que eu adoro livros narrados por crianças! Para ter uma ideia, a melhor personagem é Lucila, a empregada, que age de acordo com o seu papel: faz suas tarefas na casa, leva e busca a menina no colégio, substitui a patroa no cuidado com as plantas quando esta está com “rinitis” e mantém o bico calado sobre o que vê. Enfim, uma adulta que age como adulta.
Não estou minimizando a depressão. De jeito nenhum. Mas do jeito como o assunto é tratado aqui, parece que a Claudia-mãe é só uma egoísta frustrada que se não estivesse num casamento aborrecido posando de mãe e dona de casa, estaria feliz. E depressão não é isso.
Há também uma tentativa sutil de tratar da condição da mulher na sociedade da época, mas é sutil em demasia, então passa batido. Sem falar na questão de classe social.
Mas então do que eu gostei? Gostei da premissa. A escrita de Pilar é agradável, a leitura flui, embora eu tenho achado algumas partes desnecessárias, como o funeral. Só que o tempo todo, a impressão que dá é de que em algum momento a narrativa vá caminhar para algo mais profundo, mas isso não acontece. E ao fim, a gente não vê realmente o abismo. Não o sente. Não foi um tiquinho de emoção que faltou. Foi um montón.
Nota: Los Abismos foi publicado no Brasil como Os Abismos pela editora Instrínseca, com tradução de Elisa Menezes.