emanuelly 17/08/2021
Um livro que não contava com originalidade e ainda carregou o fardo da má execução
Saibam que essa é uma resenha negativa. Não atacarei a autora, porém não esperem muitos elogios. Não tenho.
Também quero dizer que não estou aberta a discussão. Se você gostou do livro, excelente! Eu não.
E aqui vão minhas razões.
A premissa da trilogia Halo é clichê. Ponto. Sendo assim, o diferencial de ‘Púrpura – Vol. I’ é tão somente um ship principal aquileano (motivo pela qual li esse livro, e não outros, de longe mais intrigantes). Eu tolero histórias de fantasia clichê, até gosto delas; com item McGuffin, deuses, criaturas mitológicas… mas ‘Púrpura – Vol. I’ não apresentou nem o mínimo.
Eu contava com uma boa execução — fator que mais importa pra mim numa leitura, em detrimento da singularidade —: que as personagens seriam fortes e instigantes; que os conflitos seriam lógicos e interessantes; e que a prosa seria vívida e bela. Quem não tem inovação caça com excelente performance, não?
Anwar Lokesh é um protagonista carismático, e, do elenco, o de mais forte caracterização. Entretanto, não suficientemente. Como apontado mais pra baixo na resenha, a escrita da personagem foi comprometida pela falta de humanidade. Não obstante, ele foi o que mais gostei, e se eu tivesse coragem, continuaria acompanhando a série por causa dele e do Malachai. Eles merecem muita felicidade, e eu adoraria ver mais do lado cientista e inteligentão do Anwar.
Quanto à Amethyst, eu gostava mais dela no início. Determinada, leal, reservada, ela é um amorzinho, sério. A amizade e o amor que ela tem pelo Anwar e as outras meninas é LINDA. Cada vez que ela era carinhosa com um deles meu coração se quebrava em aproximadamente 3.478.290 pedaços e depois se reconstruía com cola bastão. Eu amo elezinhos, juro pelos céus!
Contudo achei tremeeenda tosquidão o romance na qual a enfiaram; um desperdício pra uma mulher tão maravilhosa.
Começa que nos primeiros capítulos eu achei que ela fosse assexual. Nada canonizado nesse quesito, então ela pode até ser uma ace que namora. Válido, uai. E meu problema não estava nem nela necessariamente namorar porque autoprojeto minha demissexualidade nela etc e tal, e sim em: pô, cara… tinha que ser com aquele traste? Logo ele? Sério?
Tirei os óculos, pus de novo, limpei a tela do celular com álcool, aumentei o brilho do aparelho… e ainda hoje falho em ver a química. Eles não tinham nada a ver — quero registrar que aquele backstory de vida passada e blá-blá-blá é forçadíssimo, viu —, mas o livro juuuuraaaavaaaah que eles ficam bem juntos. Achei o c*mulo do ridículo, de tal forma que quase droppei a leitura simplesmente porque não aguentava mais cenas da cheirosa da Amethyst com aquele serzinho de questionável justificativa para a existência.
A Amethyst — artigo ‘a’ maiúsculo, e em negrito — ficar com aquele patife me fez murchar. Sua (inexplicável, ressalto eu) paixão por ele se tornou grande parte da vida dela, como todo amor avassalador o é ou qualquer baboseira assim. A shipper em mim não seria tão crítica se eu shippasse esses dois… algo que não faço por razões de: que motivos tenho pra isso?! E já que essa catástrofe enchia a mente dela nas horas vagas, eu desanimei de stanear a bichinha.
Ficar sob o ponto de vista dela tornou-se estressante.
Já em relação ao Dimitri… bom, os mais céticos até verão com positividade a reação visceral de puro ÓDIO que sinto por esse imbecil. A ele, nada cordialmente, reservo todos os palavrões existentes na língua brasileira, e digo que sofreu foi pouco. Dane-se se ele tem motivos pra ser arrogante, maldoso e desconfiado; teve anos suficientes de vida pra fazer a [*****] de uma terapia e deixar de ser babaca. Não! Gosto! Dele! Ponto final e acabou.
Defensoria de homens cis mau caráter popularmente açucarados como “badboys”, favor passar reto porque não estou aceitando advogados para o Förstner.
Agora falando das personagens coadjuvantes, foram tão mal desenvolvidas que não senti mais que pena nos momentos de suplício. Sem conexão emocional fica difícil me abalar com o destino delas. E ainda são quase todas de personalidades (bom, ao menos a pouca personalidade que deu pra ver) muito semelhantes; se me pedirem pra diferenciá-las, estarei de mãos atadas.
Enfim. Anwar e Amethyst são pessoas bondosas (acredite, o livro faz questão de nos lembrar); essa bondade é evidenciada algumas vezes, mas minguadas foram as ocasiões que os defeitos foram explorados. A chance de criar conflitos internos e a de escrever personagens realistas foi pro ralo.
Também não houve nenhum aprofundamento filosófico, alguma exploração de dilema. Todas as personagens são estáticas, as ambientações servem apenas de cenário, sem real importância simbólica, e o enredo principal também não colocou nenhuma carta sobre a mesa. Qual o ponto do livro? Não identifiquei.
Ou talvez tenha identificado, mas foi algo de tal forma raso que minha mente pegou a informação, jogou numa gaveta e disse pro meu inconsciente: “Dá teu jeito de ocultar esse arquivo, Windows.”
O enredo deixou a desejar. Eu sei que se você inventa algo mirabolante demais, depois é difícil de ajeitar; mas não estou aqui como escritora, estou aqui como leitora, e como leitora achei as sequências/missões bem fraquinhas. A que mais gostei foi aquela em que eles estão correndo e passando pelas estações do ano (mas também só por causa da imagem mental) — porém, infelizmente pra minha saúde literária, nessa parte a autora enfiou um deus ex machina que me deixou de queixo caído.
Isso não foi um elogio.
‘Púrpura – Vol. I’ se beneficiaria de uma perscruta eficaz na influência dos inúmeros traumas que assolaram os protagonistas. Aqui e ali vemos indícios, todavia não o suficiente pra me fazer me conectar com eles. Senti falta, sabe?, de um olhar pro âmago, pras próprias feridas. O livro tem cenas do tipo, sim, mas… são mal escritas, entããão né.
Aliás, bem lembrado. Minha maior fonte de amargura é a prosa. A escrita de ‘Púrpura – Vol. I’ é hesitante, opaca e redundante. As personagens mais não sabem das coisas do que sabem, o livro mais repete o mesmo conceito do que avança com a história, e a prosa mais descredita a inteligência do leitor do que bota fé. Isso me irritou profundamente.
Sem contar com as descrições inexpressivas de aparências, locais e sentimentos; o uso risível de comparações e metáforas (mais de uma vez me peguei franzindo o cenho pra tela, pensando: “Mas não é possível que ninguém avisou…!”); a formatação inadequada dos diálogos; o estilo de escrita fatigante… ou então os parágrafos mal construídos, a enxurrada de palavras-filtro, as frases e orações compridas…
O ponto é que a escrita foi o maior ponto negativo pra mim. Uma falta enorme: afinal, a suprema arma do escritor é a palavra.
Por fim, tenho que falar da lânguida construção de mundo. Eu não esperava algo deveras original… mas também não esperava algo TÃO sem graça. Tecnicamente ‘Púrpura – Vol. I’ é fantasia urbana, mas tivemos viagens interdimensionais na história. Francamente, essas localidades extraterrestres não poderiam ser mais enfadonhas. Habitantes, fauna, flora, geografia, geologia… nada de cativante ou único. Qual o ponto de explorar o universo e tudo parecer uma versão meh dos biomas terráqueos?
Outra característica negativa desse livro foi o lance de deuses.
Temos uma regente do universo. Chamada Azure.
E ela fica no paraíso.
E pessoas boas vão pra esse paraíso. Que se chama Drakht.
E de vez em quando ela dá imortalidade e olhos roxos pro povo.
E aí ele viram “auréolas”.
E temos um submundo. Pessoas más vão pra esse submundo.
E ele é regido por um carinha chamado Roan.
Que é um deus.
E os seres malignos desse submundo se chamam “inferis”.
…Ou seja, ‘Púrpura – Vol. I’ nos deu uma deusa regente do universo que não presta nada, já que está à mercê de uma profecia (profecia essa que, aparentemente, muda ao próprio bel prazer?! Juro que ainda não compreendi essa parte), e temos um paraíso, e temos um submundo, e um deus desse submundo; e eles se chamam, respectivamente, Azure, Drakht, submundo e Roan.
Eu não consigo nem começar a expressar meu descontentamento com esse sistema pseudocristão e essa escolha de nomes. Não bastando isso, os demônios se chamam “inferis”. Inferis… inferir… inferir… inferis…
Eu não consigo levar esses nomes a sério. Juro que não é por maldade!
Gostei do livro? Não. Queria ter gostado? Pra caramba. Comecei achando que daria quatro estrelas pra ele…
Acabei dando duas.
Vida que segue, suponho eu.
p.s.: Espero de coração que a autora melhore a escrita dela, e que seus futuros lançamentos sejam encantadores! Que o Anwar, Malachai e Amethyst tenham uma boa vida ficcional. Quanto ao Dimitri, que se f—