Coisas de Mineira 20/01/2022
A Traição de Camelot é a continuação de A Farsa de Guinevere, segundo livro da trilogia Camelot Rising, da autora Kiersten White, que também assina os livros da Saga da Conquistadora e A sombria Queda de Elizabeth Frankenstein – todas com resenha no blog, além de A Caçadora e Escolhida, sobre o universo da série Buffy, a Caça Vampiros.
Gostaria de lembrar que, como trata-se de um segundo livro, se não leu A Farsa de Guinevere, aconselho a parar por aqui…
A Traição de Camelot começa alguns meses após os acontecimentos do primeiro livro. Prestes a enfrentar os rigores do inverno, a rainha está as voltas com a supervisão da colheita para garantir os níveis de suprimento, assumindo algumas funções do traidor Mordred (💔). Além disso, tem de ficar atenta a qualquer tentativa de invasão por parte da Rainha das Trevas.
Enquanto isso, o Rei Arthur está focado na expansão da sua influência, sempre envolvido em reuniões com outros reinos, na tentativa de que a paz duramente conquistada seja duradoura.
Mas o perigo mais imediato vem de onde ela não esperava: Lady Guinevach, irmã mais nova de Guinevere – a verdadeira Guinevere, aparece às portas de Camelot. Guinevere teme que esse seja o momento em que ela será desmascarada para todo o reino, e conta com Brangien, Dindrane, Lancelot e o próprio Arthur para tentar descobrir as verdadeiras intenções de Guinevach. Ela evita a companhia da irmã, que aproveita a liberdade para encantar todos em Camelot…
Como se fosse pouco, Guinevere continua tendo sonhos sombrios e terríveis, além de perceber que a conclusão de Mordred era verdadeira: afinal, ela ainda sente que não pertence ao cotidiano de Camelot.
“A dissonância constante entre os papéis de rainha e de bruxa, entre Guinevere e não Guinevere, era desconcertante.”
E assim, lidando com a necessidade de afirmação de Lancelot entre os outros cavaleiros, a presença distante de Arthur, a presença da irmã, a ameaça da Rainha das Fadas pairando sobre todos e ainda tentando descobrir quem realmente é, Guinevere acaba sendo levada a tomar decisões que poderão trazer paz ou a destruição de Camelot.
A Traição de Camelot parecia ser apenas a ponte para o terceiro livro, mas além do desenvolvimento dos personagens, trouxe mais pontos de interrogação para a trama. Os problemas já estão estabelecidos, mas aqui ganham profundidade. Continua sendo uma história de sutilezas, ou seja, a narrativa pode parecer arrastada, mas é o traço da escrita da autora para essa história. E muita coisa acontece nesse livro…
Guinevere continua sendo um grande mistério, mas aqui ela decide que tem problemas mais urgentes a enfrentar. Claro que, em algumas situações, por seu ímpeto na busca de resoluções, acaba se colocando em risco. Arthur sofre por isso, mas dá o voto de confiança que sabe ser tão necessário para o crescimento de sua esposa. E esse relacionamento… ainda que continue muito casto – para desespero de Guinevere e meu, levam o casal para uma conversa bem franca, coisa rara de se ver nas histórias. Mas, eu queria mesmo era ver esses dois aos amassos! Claro, a possibilidade do triângulo amoroso permanece, o que deixa a situação ainda mais inquietante.
“O beijo terminou como havia começado: cheio de consideração, suavidade, cuidado.”
Entretanto, se o romance entre os personagens principais não sai do lugar, vamos ter um casal da lenda original sendo mais explorados: Tristão e Isolda. Claro que, como tudo que a autora recriou, não espere o romance clássico! Ainda assim, é intenso e terno, e tenho certeza de que você vai se contagiar por ele.
As amizades femininas nesse livro são para serem exaltadas! Guinevere e Lancelot compartilham de uma proximidade honesta e leal. Brangien é forte e afetuosa, até mesmo Dindrane, apesar da personalidade aparentemente fútil, está sempre ao lado de Guinevere quando a amiga precisa dela – e nem são necessárias explicações, elas se jogam. Muito bom quando amizades são colocadas no mesmo patamar de interesses românticos.
E vale ressaltar a inversão que a autora fez acerca de Lancelot – quem era nos mitos anteriores, e quem se torna por aqui. Em todos os livros que eu li da Kiersten, ela sempre deu um jeito de dar voz às mulheres, seja trazendo uma história sobre outra perspectiva – como fez em A Sombria Queda de Elizabeth Frankenstein, já que a história é do ponto de vista de Elizabeth, não do Victor; seja quando empodera de uma forma até cruel, como é a querida Lada Dracul, uma garota inspirada no sanguinário Vlad Dracul.
Sendo assim, A Traição de Camelot vem para expandir o mundo Arthuriano, e dar uma história para muitos dos personagens coadjuvantes, que geralmente são ofuscados. Mas também mostra a turbulência interna de Guinevere, acima de tudo quando trata do uso da magia: desde o primeiro livro, vemos como isso pode machucar e como tem consequências. Por aqui, essas consequências chegam a machucar outros além da própria Guinevere, o que traz um conceito que extrapola bem e mal.
“Guinevere se levantou e sacudiu as mãos, desejando que pudessem ser arrancadas, separadas do restante do corpo. Pareciam poderosas demais, capazes de fazer estragos demais, e ela não conseguia controlá-las.”
Enfim, um livro que amplia a trama do primeiro livro, criando pontos de interesse para a transição e ao mesmo tempo trazendo um final que é uma ótima preparação para o terceiro e último livro da saga de Guinevere.
Por: Maísa Carvalho
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