spoiler visualizarAdrianoBiLL 01/02/2024
Uma história interessante mas com um final que não surpreende.
Alex Michaelides explodiu no mundo literário com o monstruoso impacto do seu livro de estreia - "A paciente silenciosa". Por sinal, um livro excelente, com uma história impactante e avassaladora, e um um Plot twist absurdamente surpreendente, inovador e inteligente. Verdadeiramente uma obra-prima do suspense e da psicologia.
Com todo este sucesso, seria mais do que natural que se criasse uma grande expectativa quanto ao seu segundo livro.
Alex explica o enorme desafio que ele enfrentou para escrever a história de seu segundo livro. Já que segundo ele, escrever um segundo romance é um monstro muito diferente quando comparado a uma estreia. Ainda mais se tratando de uma estreia em um nível tão estratosférico como foi com "A paciente silenciosa". Alex ainda explica que ele escreveu "As Musas" durante o período de isolamento da Covid-19, e que todo esse confinamento de certa forma o ajudou a se manter extremamente concentrado.
É mais do que normal que exista comparações entre "As Musas" e "A paciente silenciosa". Porém, aqui eu vejo uma história que tem um desenvolvimento diferente, mais puxado para o investigativo, para o mistério, algo que gira mais em torno de livros de suspense policial com a presença de um serial killer oculto. E nesse ponto eu preciso mencionar que eu já vários livros dentro desse contexto, usando a mesma temática, e logo posso mencionar dois exemplos claros: "O Cirurgião" e "O Dominador", ambos da autora Tess Gerritsen (por sinal, uma das minhas autoras preferidas). Diante deste cenário, temos aqui uma história intrigante e misteriosa mas que pra mim não foi nada inovador e muito menos inédito.
Mas eu não posso tirar os méritos do livro, que é sim uma história muito interessante, envolvente, com um grande potencial, que já inicia nos prendendo pela curiosidade, pelo mistério, pelo suspense, por criar um ambiente investigativo sombrio e mórbido. Sem falar que a protagonista Mariana é de fácil apego, de fácil empatia, que logo nos pegamos envolvidos pela sua história de vida. Mariana sofreu todo tipo de sofrimento, maus-tratos, bullying, pressão psicológica, enquanto uma criança. A mãe dela morreu cedo, e ela era rejeitada pelo pai e pela irmã mais velha. Hoje ela vive sozinha, após a morte de seu marido, ela sofre constantemente com o vazio deixado por ele, e ainda tem que lidar com a depressão e com todos esses traumas. Mariana pensava que teria sido amaldiçoada, porque todas as pessoas à sua volta e que faziam parte de sua vida sempre morriam.
Porém, devo confessar que a história é mal desenvolvida, se perde bastante em alguns pontos, ainda mais se contarmos o tanto de personagens que é enfiado dentro da história sem nenhum desenvolvimento ou aprofundamento. Tínhamos personagens bem desinteressantes e irrelevantes dentro daquele contexto, e sem nenhum destaque notável. Que é justamente o caso das personagens do grupo "As Musas" e o Fred, que pareciam estarem ali unicamente para fazer a ligação e o embate entre a Mariana e o professor Edward Fosca. E o Henry? Alguém sabe que fim ele teve? Posso dizer que alguns personagens foram meros peões no tabuleiro dessa história.
O relacionamento entre a Mariana e a sua sobrinha Zoe também tem um desenvolvimento bem fraco, ainda mais se contarmos pelo plot final. A ideia de fazer ligações dos assassinatos com toda aquela cultura grega é bem interessante, porém acho que ficou muito superficial na história.
Agora sobre o grande o Plot twist no final:
Bem, desde a sinopse que o livro fazia questão em deixar bem claro que o assassino da universidade era o professor de tragédia grega Edward Fosca. Estava claro que esta opção em enfatizar o assassino seria para plantar uma dúvida na cabeça do leitor e colocar um plot no final, para revelar que o verdadeiro culpado não era ele. Ok, compreendo a ideia, mas a forma como foi estabelecido que os verdadeiros responsáveis era a zoe e o Sebastian (o marido falecido da Mariana) foi muito decepcionante. Talvez decepcionante nem seja a palavra correta aqui, mas foi brochante, sem graça, sem impacto. Mesmo que eu jamais fazia ideia que a Zoe era quem cometia os assassinatos, mas quando eu descobri eu não me surpreendi e tive zero impacto.
Sem falar que no final do livro fica uma brecha clara de uma provável continuação da história da Zoe com a Mariana. Agora que a Zoe foi considerada como uma pessoa incapaz de viver em sociedade e foi internada no hospital psiquiátrico Grove. Ficando à cargo do psicoterapeuta Theo Faber, o mesmo que ficou responsável pela pintora Alicia Berenson na história de "A paciente silenciosa". Ou seja, "As Musas" faz uma ligação com "A paciente silenciosa". O final é exatamente a Mariana indo se reencontrar com a Zoe no hospital.
Acredito que o autor queria entregar um grande e surpreendente Plot twist, como aconteceu em "A paciente silenciosa". Mas infelizmente no meu caso não funcionou, pelo contrário, em até certo ponto eu fiquei decepcionado. No fim, "As Musas" é um bom livro, mas que não consegue repetir a excelência e o impacto de "A paciente silenciosa". Sendo assim, eu fiquei com a sensação de ter criado muitas expectativas sobre o livro e no fim a história ficou aquém do que eu esperava.