spoiler visualizarAlana N. 28/03/2023
"Ela havia sido agnóstica desde a faculdade, mas se havia um traço de judaísmo com o qual ela concordava era esse: o poder das palavras. Elas escapavam sob rachaduras da porta e através de fechaduras. Elas se prendiam em indivíduos e penetravam gerações."
“Os imortalistas” é foi uma leitura que poderia ter me impactado um pouco mais, caso a tivesse feito de maneira corrida.
Bem, essa foi mais uma das minhas leituras conjuntas com um amigo e, como ele que escolheu dessa vez, foi uma grata surpresa. Claro que cheguei a tomar conhecimento da existência desse livro quando ele foi publicado no Brasil, mas meio que nunca me interessei o suficiente para buscar mais informações. Tanto que, quando comecei essa leitura, eu só conhecia a capa e o título.
Por um lado foi muito bom entrar nessa leitura sem saber de nada, mas acho que uma parte de mim talvez tivesse se sentido mais confortável se soubesse o que esperar. (Mas é uma parte muito pequena. Por mais que o livro aborde alguns temas bastante sensíveis, meio que dá para lidar com cada um de forma separada. Acredito que o que mais impacta é o tema central, que no caso é a morte.)
Para quem assistiu “A maldição da residência Hill”, o final aqui passa o mesmo sentimento agridoce e traz a mesma experiencia de ser deliciosamente inconclusivo. Pode ter algo de “sobrenatural” entremeando a trama? Pode. Mas pode também não ter. Nunca saberemos. (Na real, vai ser uma questão de perspectiva de cada um. Eu acho que não. Fica aí aberta uma porta para discussões.)
Com toda certeza, a coisa que mais gostei aqui foi da escrita. A prosa é muito bem desenvolvida, tendo uma aura envolvente. Além disso, a autora consegue inserir de forma primorosa algumas referencias históricas que, verdadeiramente, agregam na trama em geral, não estando ali apenas para mostrar que a autora pesquisou, entende?
Enfim, foi uma leitura que super valeu a pena. Fica a indicação.
Falando um pouco de cada irmão (com spoilers):
O Simon é o personagem mais controverso. Você quer muito gostar dele, já que se compadece com o que ele está passando, mas, ao mesmo tempo, meio que é impossível concordar/não julgar algumas (muitas) ações dele. Quer dizer, deve ter sido uma barra receber a previsão de uma morte tão precoce, mas, sei lá, ele não precisava ter despirocado desse jeito.
Além disso, a relação dele com o Robert me deixou com o coração apertado, sinceramente. (O Robert merecia mais).
Já a Klara é totalmente passional, o que a fez cair de forma muito mais brusca após a morte do Simon. Com certeza, foi a mais afetada pela previsão, já que ela acreditava bastante nesse negócio de magia. Foi até engraçado ela se relacionar com alguém tão disposto, mas cético, com relação a isso quanto o Raj. Mas nem o contraponto dele foi o suficiente para trazer algum equilíbrio a ela, o que acabou gerando o que aconteceu. (Depressão, com o agravo de uma depressão pós-parto, unida com consumo de álcool, nunca é uma boa receita.)
Daniel viveu uma vida razoavelmente boa, mas a culpa, no fim das contas, foi o que mais pesou na consciência dele. Entendo que talvez ele se cobrasse mais, já que foi ideia dele procurar a cigana, mas achei meio exagerado ele ir atrás dela depois de tantos anos. Claro que teve todo rolê da investigação e culpabilizar a mulher pelo o que aconteceu na família dele, mas não consigo ver outra pessoa tomando a mesma decisão que ele e se esforçando tanto para colocá-la em prática.
Vanya, a mais velha e a que mais vive entre os irmãos Gold, é deplorável. Ela é a mais longeva entre eles, mas a que menos vive. Graças a um quadro de TOC severo, e até algum grau de ansiedade, ela basicamente se coloca a margem de tudo.
Morrer a aterroriza tanto, que ela não vive. Sem falar que parte do comportamento dela é baseado no “justificar” o porquê dela ter vivido tanto, enquanto os irmãos viveram tão pouco e isso simplesmente a deixa existindo de uma forma simplesmente deprimente.
De todos os quatro, com toda certeza, Varya foi a que me deixou mais triste.
Foi bom ter aquele momento meio agridoce no final, mas ainda assim, quando penso na leitura, tudo que me bate é uma tristeza por essa personagem. Nem o Simon, que viveu tão pouco, fez me sentir assim.