Renata 30/03/2020
Uma aventura polifônica
Trata-se de um romance, mas inspirado na vida de Richard Francis Burton (1821-1890), que foi um daqueles caras que viveu antes da era dos especialistas, por isso quando procuramos informações sobre ele encontramos que ele foi escritor, militar, espião, antropólogo, poeta, entre outras coisas.
Ilija Trojanow vai tratar do viés militar pouco conformado e explorador obstinado de Francis Burton. Temos assim o relato de três expedições, na Índia, Egito e África Oriental.
Considerando que tudo que Burton queria era se imiscuir nos lugares, desvendar tudo que conseguisse, em relação às pessoas e a cultura, sua língua, sua religião, tradições, o leitor acaba por conhecer detalhes como rituais hindus, seus deuses, figuras como dervixes, brâmanes, os perigos da peregrinação à Meca, caravanas que partiam de Zanzibar em busca de descobrir rios, lagos, montanhas para fixá-los em mapas. A busca da glória de ser o primeiro a chegar, colocar o nome na história.
Contudo, é mais que isso, e o livro se faz romance ao interpor narrativas. Entremeada à perspectiva de Burton estavam as visões daqueles que caminharam juntos, seja pelo deserto, quando trabalhava para a Companhia das Índias Orientais, seja pela selva com Sidi Mubarak Bombay, o companheiro incrivelmente carismático e com a história mais triste de todo o livro.
Estas narrativas paralelas são importantes na medida em que humanizam um relato que poderia ser tomado como heroico, mostra pequenezas e vilezas que nunca costumam aparecer nas histórias destes grandes nomes.