Queria Estar Lendo 09/08/2021
Resenha: Venha o que vier
Quanto mais eu penso sobre Venha o que vier, mais eu penso que a trilogia do Simon Snow deveria ter sido um livro só. Essa conclusão não me satisfez em quase nada, e só deixou um gosto amargo no que deveria ter sido um adeus marcante. Pra mim, a Rainbow Rowell falhou com absolutamente tudo nesse livro - exceto o Baz. Ele segue perfeito.
Essa resenha tem spoilers dos outros livros, fica o aviso.
A história se passa poucas semanas depois dos acontecimentos bombásticos de O Filho Rebelde - sem grandes consequências, no entanto. Simon toma uma decisão inesperada, Baz resolve confrontá-lo por isso; Penelope e Shepard estão tentando descobrir como reverter o caos mágico em que o garoto se enfiou por acidente; Agatha... Existe. E vai bem, obrigada.
Para começar, Venha o que vier não tem um plot cativante e acho que foi isso que mais me incomodou. As coisas que aconteceram em O Filho Rebelde não interferem em nada nos personagens aqui, então por que aconteceram? Para se resolverem em vinte páginas (literalmente!) e então ficarem esquecidas? O único núcleo que ainda trabalha consequências do segundo volume é o da Penelope, mas só porque o Shepard é um plot por si só. Ele se meteu em um problema mágico e precisa ser resolvido, e isso se desenvolve nesse livro. O resto? Ah, deixa pra lá.
Não me entenda mal. Esse livro não é ruim, ele tem uma narrativa legal, assim como os outros. A Rainbow sabe contar uma história daquela maneira que te fisga, com diálogos rápidos e tiradas divertidas e personagens que já estão no nosso coração. Ele só soou vazio demais.
Preciso dizer que essa nota é o que é (e não é menos do que é) por causa dele: Baz. Que vai ter escoliose de tanto que carregou esse livro, e essa trilogia, nas costas. Eu amo meu menino vampiro com coração de ouro. Eu amo como ele se dedica à tudo de corpo e alma; sua família que, mesmo com tantos problemas, ainda importa para ele. Simon que finalmente decidiu tentar (e que machucou o Baz demais para o meu gosto nessa jornada); até esse novo plot envolvendo o novo Escolhido. Baz é perfeito e é o verdadeiro dono dessa série.
Eu amo amo amo amo tudo a respeito do Baz e nunca vou falar o suficiente sobre o quanto ele é um personagem maravilhoso, impecável e quando erra é porque está tentando acertar.
Quanto ao ship... eu nem sei o que aconteceu com eles. Achei que teríamos um drama interessante sobre términos, com o começo do livro relembrando as coisas que eles viveram no segundo e dando importância a elas. Aí tudo se resolve em vinte páginas. VINTE PÁGINAS. O Simon tem uma reviravolta de personagem que resolve tentar não se esconder e nem se afastar de todo mundo que quer o bem dele (ainda que fique o tempo todo dependente desse sentimento, alô terapia que se faz necessária e ninguém parece interessado em pensar nisso) e pronto. As consequências do livro 2 desaparecem.
Eu amo ler casualidades em histórias assim. Amo ler meus casais favoritos fazendo coisa de casal e sendo um casal etc. Mas não quando tem tanta coisa não resolvida no caminho.
Nem mesmo no plot da Agatha isso tem firmamento. Ela sumiu durante um longo tempo e ninguém tá interessado em conversar sobre isso; e a desculpa que a narrativa dá é muito, mas muito sem graça. A autora simplesmente apaga tudo que rolou para trabalhar umas tentativas de plots novos que não tem a menor consistência. Eu me senti pessoalmente amargurada por todas as decisões que ela tomou para esse livro.
Ainda sobre a Agatha... Meu deus, o que é apagar uma personagem com potencial. Ela desaparece nessa história, com um núcleo secundário que tanto fez, tanto faz. Quando ganha importância é lá nos quarenta e cinco do segundo tempo. Tem uma cena maravilhosa para ela que me deixou de coração quentinho, mas é uma cena e é isto.
De volta ao Simon e ao Baz, eu sinto que tudo que eles estão vivendo podia ter sido muito mais bem desenvolvido. É o mesmo drama do Simon sobre não ter mais poderes e se sentir distante do mundo mágico, mas aqui ele deu uma amadurecida (ainda precisava de terapia) sobre descarregar suas frustrações nas outras pessoas, e parou um pouco de fazer isso.
A história me diz que o Simon está tentando, mas eu não senti isso, sabe? Por causa da falta de diálogos e por jogar os dois em cenas quentes em vez de trabalhar o relacionamento de maneira gradual (curso Sarah J. Maas de como linear sua história), o ship soou muito mais vazio do que nos volumes anteriores. O Simon todo carregado de traumas e frustrações e problemas, TENTANDO, não consegue parar de conversar sobre a explosão de sentimentos que está sentindo?
De novo: volta para a terapia. Ter largado e achado que, com o Baz, porque ele quer tentar, vai se curar de tudo o que sofreu é uma mensagem um tantinho errada. O amor é lindo, você se entregar a ele também, mas equilibra isso com um psicólogo mágico, meu filho. O AMOR NÃO CURA AS PESSOAS! No começo do livro a gente vê um Simon machucado e perturbado e só porque ele tá com o Baz, passou toda aquela solidão depressiva que ele experimentou? Ah, cara.
Eu queria tanto ter ficado feliz com essa história. Quando o ship estava junto, era lindo e perfeito, mas eu não conseguia ficar satisfeita porque sentia que todo aquele caos ressentido e guardado ia acabar resultando em outra cena como a do começo - que se resolveu num passe de mágica porque PRA QUE DESENVOLVIMENTO?!
Vou escrever uma fanfic. A Cath jamais faria isso com Carry On! Considerando tudo o que Simon e Baz viveram, eles mereciam mais.
A bem verdade, eu senti com esse livro o que teria sentido lendo uma fanfic estendida de 500 capítulos - podia ter parado em Sempre em Frente.
A falta de consistência no plot principal, envolvendo o "novo Escolhido", mostrou o quanto a barra foi forçada e dobrada além do que deveria para essa história acontecer. Eu amo, amo esse universo e esses personagens, mas prefiro um livro e boas lembranças a uma trilogia e esse gosto amargo que ela me deixou. Frustração pura.
Essa história toda só foi ficar interessante lá para os 82% da história. OITENTA E DOIS. E não é um livro pequeno! São 560 páginas onde mais de 80% dela tem... Nada. Nada para a Agatha (eu continuo muito indignada por isso!). Pouca coisa relevante de Simon e Baz como indivíduos, já que ela só foca neles como um casal. Alguma coisa para Penelope, ainda que só por causa do Shepard.
Inclusive, a Penelope. O único núcleo que realmente foi divertido e interessante até o fim. Eu tinha me expressado anteriormente sobre como essa personagem se intrometendo em tudo como dona da razão me tirava do sério e aqui tive a surpresa de ver sua personalidade melhorando consideravelmente. Ela inclusive admitiu que era uma intrometida e que tinha causado problemas com os amigos por isso!
Ainda assim, fiquei bem irritada com a maneira com que ela tratou o Shepard durante boa (quase toda) parte do arco. Rude de graça, distribuía patadas a torto e a direito para fins de... Quê? Como se ela fosse uma santa e nunca tivesse quebrado regra nenhuma (olha aí o problema de não trabalhar TODOS OS PROBLEMAS causados no livro 2!).
Porém! Seu arco ajudando Shepard com a confusão mágica em que ele se meteu foi bem desenvolvido e divertido e com um desfecho pra lá de cômico - o que teria sido melhor ainda em um livro solo deles, com o resto dos personagens fazendo aparições esporádicas enquanto voltam para a terapia ou falam sobre seus problemas não resolvidos do livro 2... Independente disso, foi um plot legal. Diferente, mas que misturou magia a problemas a serem resolvidos com mais magia, o que era a melhor coisa e que tornava o primeiro livro tão divertido.
Venha o que vier poderia ter sido um desfecho interessante, mas acabou se agarrando a plots novos e vazios de carisma e deixando para trás coisas que teriam sido relevantes e ótimas para a história. As reviravoltas, por exemplo, por causa de todo esse núcleo novo, não causaram o devido efeito na narrativa. E nem nos personagens. O final foi tão corrido para a revelação bombástica que entrega que eu fiquei procurando mais páginas porque não era possível ela terminar daquele jeito.
E terminou.
Eu vou fingir que a história do Simon e do Baz acabou em Sempre em Frente, como a Cath gostaria que fosse. O Filho Rebelde é MUITO bom, mas me frustrou demais (e eu vou repetir isso para sempre) o quanto ele foi ignorado pela narrativa do desfecho.
Pode ser que esse livro e o final te agrade (e por favor, estamos em 2021, não venha me dizer o que tem de errado na minha opinião porque ela não está errada), mas, para mim, o vento soprou o plot e o carisma embora.
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