Pandora 01/05/2022Este livro foi escolhido num grupo de leitura do qual participo. Não é um livro ruim, é bem escrito e tal, mas não consegui me conectar muito com ele, parei várias vezes para fazer outras coisas porque não estava envolvida. Ainda assim, a discussão que tivemos sobre a leitura foi bem produtiva para um livro considerado mediano pela maioria.
A personagem principal é Regina, uma jovem mulher meio perdida na vida, sem muitos propósitos e sem grana. Como a mãe abandona a família e o pai morre cedo, ela acaba socorrida de todas as formas pelo casal de vizinhas que a conhece desde criança e estabelece uma relação de irmãs com a filha delas que sofre uma violência e acaba saindo do país. Apesar de todas as dificuldades, ela ainda dá abrigo a uma moradora de rua. Tudo isso num mundo caótico prestes a colapsar por várias questões políticas e ambientais que culminam na extinção das abelhas.
Vocês sabiam que as abelhas são cruciais para o planeta e para o equilíbrio dos ecossistemas? Que a polinização de plantações de frutas, legumes e grãos feita por elas é indispensável, pois é através dessa polinização que cerca de 80% das plantas se reproduzem? E que o número de abelhas já diminuiu drasticamente devido ao uso de pesticidas, mudanças climáticas e uma espécie de parasita que mata abelhas jovens e adultas? Se as abelhas forem extintas, amiguinhos, deem adeus ao mundo como o conhecem hoje.
Mas não foi neste livro que aprendi isso, então vamos nos informar melhor e abraçar a luta em defesa do Meio Ambiente antes que seja tarde.
Voltando à Regina, apesar de ser a personagem principal, sua mãe, Guadalupe, é uma personagem mais interessante. Sua própria história de vida - contada em paralelo à da filha - tem um andamento mais consistente, pois embora fosse itinerante, estava sempre em busca de algo e corria atrás: “Eu sempre soube muito bem para onde eu queria ir e onde não queria estar, o que eu queria ver e o que não queria, até que um dia fiquei muito cansada de cumprir listas e parei.” - pág. 300
É meu primeiro contato com Polesso e gostei da escrita dela. Só que, para mim, ela pecou pelo excesso, colocando muitas “causas” neste livro, vários pontos importantes, mas que acabaram se perdendo em três partes um tanto desconectadas umas das outras. Mesmo que no final ela tenha retomado algumas dessas discussões, senti falta de um fio condutor e de um aprofundamento nos outros personagens.
Acho que a própria autora descreveu bem esta narrativa um tanto anárquica nos Agradecimentos ao fim desta edição:
“Estou escrevendo um livro sobre uma mulher, não, sobre um bando de mulheres, um bando de gente no fim do mundo, não, estou escrevendo um livro sobre o colapso, estou escrevendo um livro sobre uma mãe e uma filha, estou escrevendo um livro sobre amizade, estou escrevendo um livro sobre o agora, até eu acertar sobre o que estava escrevendo e justamente por isso não poder mais dar uma resposta curta.”
Menos, aqui, poderia ter rendido um livraço.