Crimes impossíveis

Crimes impossíveis Braulio Tavares




Resenhas - Crimes impossíveis


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Leila de Carvalho e Gonçalves 15/07/2021

O Crime Do Quarto Fechado
Crimes Impossíveis apresenta dez contos compilados por Bráulio Tavares que abordam um conceito bastante desafiador da literatura detetivesca: o crime do quarto fechado.

Em linhas gerais, trata-se de um assassinato em que a vítima é encontrada dentro de um quarto trancado por dentro e do qual o criminoso, pela lógica, não poderia ter saído. Enfim, uma morte misteriosa, à primeira vista até sobrenatural, mas que cabe ao detetive explicar como ocorreu a aparente violação das leis naturais, algo executado mediante truques físicos ou erros de interpretação. Entretanto, esse conceito também pode estar associado a um furto, desaparecimento, ou ?qualquer tipo de acontecimento impossível que envolva um paradoxo do espaço físico.?

Cronologicamente, ele ?está na própria raiz da literatura de mistério: tanto a narrativa do roubo do tesouro do faraó Rampsinitos, encontrada em Heródoto, quanto a investigação do ídolo de Bel pelo profeta Daniel (Capítulo 14 do Livro de Daniel para os católicos, ou o Conto de Bel e o Dragão dos Livros Apócrifos, para os protestantes), são histórias comumente citadas como as primeiras novelas policiais, exemplos da forma, e ambas, curiosamente, oferecem como solução o truque mais conhecido de todos ? a passagem secreta.?*

Sobre a seleção apresentada nesse livro, ela vai da fixação gradual deste subgênero literário, ocorrida durante o século XIX, até a década de 1930, chamada a Era de Ouro da ficção policial, e são estas as narrativas que a compõe:
* Uma Passagem Na História Secreta De Uma Condessa Na Irlanda (1838), de Sheridan Le Fanu
* Os Assassinatos da Rua Morgue (1841), de Edgar Alan Poe
* A Aventura Da Faixa Malhada (1892), de Conan Doyle.
* O Suicídio de Kiaros (1897), de L. Frank Baum.
* O Problema Da Cela 13 (1905), de Jacques Frutelle.
* A Adaga De Alumínio (1909), de R. Austin Freeman.
* O Mistério De Doomdorf (1915), Melville Davisson Post.
* O Romney Roubado (1919), de Edgar Wallace.
* A Morte Na Praia (1922), Maurice Leblanc.
* A Maldição Do Livro (1933), G.K. Chesterton.

Quanto as minhas impressões, já faz algum tempo que queria ler Crimes Impossíveis e para minha surpresa, semana passada, encontrei o e-book de graça na Amazon. Para quem gosta de histórias de detetive, é entretenimento garantido e uma rara oportunidade para conhecer diferentes abordagens do crime de quarto fechado. Porém, não deve ser deixados para trás o esclarecedor Prefácio e os textos introdutórios de cada conto. Na verdade, dos dez escritores escolhidos, apenas Poe, Doyle, Chesterton e Leblanc desfrutam atualmente de popularidade em nosso país, mas os demais ? inclusive, Wallace que caiu no ostracismo nas últimas décadas ? provam ter competência, suas narrativas surpreendem e não estão em segundo plano na lista.

Finalmente, aguardando o próximo volume, vale mencionar o célebre ponto de vista de C. Auguste Dupin, o excêntrico ?detetive? de Os Assassinatos Da Rua Morgue: ?Se aconteceu, não é impossível?.

Nota:
(*) Carlos Orsi, A Literatura Policial Do ?Crime Impossível? Segue Encantando.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/08/2021

Crimes Impossíveis - Seleção de Braulio Tavares
Edição de Sandra Abrano - Projeto Gráfico, capa, diagramação: Thaís de Bruyn Ferraz - Lançamento: 2021.

Uma antologia de contos policiais que reúne autores como Edgar Wallace, R. Austin Freeman, L. Frank Baum, Melville Davisson Post, Maurice Leblanc, Jacques Futrelle, Arthur Conan Doyle, Sheridan Le Fanu, Edgar Allan Poe e G. K. Chesterton é uma indicação certa para alguns momentos de boa leitura, ainda mais porque a seleção foi feita com base na biblioteca pessoal de um escritor como Braulio Tavares, um mestre na literatura fantástica; e uma particularidade inédita em antologias deste tipo no Brasil: todos os contos têm em comum o crime impossível, ou de "quarto fechado" no qual uma pessoa é encontrada morta dentro de um quarto trancado por dentro e do qual o criminoso, pela lógica, não poderia ter entrado e saído.

A seleção apresenta contos já considerados clássicos da primeira fase da literatura policial, desde o século XIX até a década de 1930, sendo, portanto, uma oportunidade de compreender melhor a evolução do gênero e destacar a diferença de estilo entre os autores, muito bem resumida na introdução de cada conto com o contexto histórico da obra, quando foi publicada pela primeira vez e uma explicação sobre a técnica utilizada. Na maioria das narrativas, o crime envolve um problema aparentemente insolúvel, que em geral consiste em um assassinato – mas não obrigatoriamente. Pode se tratar de um roubo, um desaparecimento ou qualquer tipo de evento aparentemente impossível de ter ocorrido nas condições descritas do espaço físico.

O conto de abertura do livro, "O Romney Roubado", do inglês Edgar Wallace (1875-1932) é, na verdade, um dos capítulos de um romance maior sobre as aventuras de Four-Square Jane, uma personagem com habilidade para roubos espetaculares em Londres. Este episódio descreve o desaparecimento de uma famosa pintura de um ambiente extremamente vigiado, uma façanha que o chefe superintendente da Sotland Yard, Peter Dawes, tenta esclarecer em um típico crime de "quarto fechado". Edgar Wallace foi um dos autores mais populares do seu tempo, tendo escrito 175 livros de histórias policiais e de suspense, muitos deles adaptados para o cinema.

"Peter era o único visitante naquele momento, mas não foi somente à pintura que ele deu atenção. Fez um breve exame do recinto para alguma eventualidade. A galeria era longa e estreita. Havia apenas uma porta, aquela por onde ele entrara; as janelas em ambas as extremidades estavam protegidas por barras de ferro, e uma tela de fios de aço cobria as barras, tornando impossível a entrada ou saída por ali. As janelas eram altas e estreitas, combinando com o formato do salão, e não havia cortinas onde um intruso pudesse se esconder. A luz do sol era bloqueada por persianas enroladas no alto, por meio de cordinhas" - Trecho do conto "O Romney Roubado de Edgar Wallace (p. 28)

"A Morte na Praia" é o conto escolhido para representar Maurice Leblanc (1864-1941), mestre absoluto da literatura policial francesa e criador do genial Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca, primeiro dos ladrões elegantes que atuavam nos ambientes luxuosos da alta sociedade. Novamente, esta narrativa faz parte de um livro maior, "As Oito Pancadas do Relógio", constituído por oito contos independentes, mas ligados em forma de romance. O Príncipe Rénine (um dos disfarces de Lupin) tenta conquistar Hortense Daniel, envolvendo-a em oito mistérios. Neste em particular, é desvendado um assassinato inexplicável que ocorre diante de várias testemunhas.

"Assim, o drama tinha se cumprido, sem que nenhum indício ajudasse a compreender de que maneira um homem, trancado dentro de uma cabine, protegido por uma porta fechada cuja fechadura estava intacta, pudesse ser assassinado em poucos minutos diante de vinte testemunhas, vinte espectadores. Ninguém entrara na cabine. Ninguém saíra de lá. Quanto ao punhal com que d`Imbléval tinha sido ferido entre as espáduas, não se pôde descobri-lo. Tudo isso lembrava um lance de prestidigitação realizado por um mágico cheio de destreza, mas não deixava de ser um crime assustador, executado nas circunstâncias mais misteriosas." - Trecho do conto "A Morte na Praia" de Maurice Leblanc (p. 111)

Não há como deixar de destacar o conto de Arthur Conan Doyle (1859-1930), "A Aventura da Faixa Malhada", no qual a sua criação máxima, o famoso detetive Sherlock Holmes, enfrenta um de seus maiores desafios. Na verdade, o conto foi escolhido pelo próprio Doyle como o primeiro colocado em uma seleção particular de seus doze contos preferidos, assim como foi eleito também pelos leitores da época entre um total de quatro romances e 56 contos.

"Mas eu nada vi. No instante em que Holmes riscou a chama, escutei um assobio baixo, bastante nítido, mas aquele clarão súbito diante dos meus olhos cansados não me dixou ver o que é que meu amigo espancava tão vigorosamente. Pude ver, contudo, que seu rosto estava mortalmente pálido, e cheio de horror e repulsa. Ele parou de bater e fitava com intensidade o buraco de ventilação quando de repente emergiu no silêncio da noite o berro mais horrível que jamais escutei. Foi crescendo e ficando alto e cada vez mais alto, um uivo rouco de dor e medo e raiva, tudo misturado no som de um só grito. Disseram depois que até no vilarejo, e até na distante casa paroquial, aquele grito arrancou pessoas de suas camas. Ele gelou nossos corações, e eu fiquei ali encarando Holmes que me encarava, até que os últimos ecos foram morrendo e se apagando no silêncio de onde ele se elevou." - Trecho do conto "A Aventura da Faixa Malhada" de Arthur Conan Doyle (p. 204)

Outro destaque desta antologia é, sem dúvida, Edgar Allan Poe (1809-1849), considerado o inventor da estrutura básica do conto policial com "Os Assassinatos na Rua Morgue", que inaugura todos os elementos principais do gênero em um só conto, destacados na introdução de Braulio Tavares: "O crime bárbaro, a perplexidade da polícia, o narrador meio obtuso que acompanha o genial detetive amador, a exposição minuciosa das pistas, e finalmente a revelação na linha de raciocínio que interpreta corretamente cada uma delas." Enfim, um livro indispensável para os amantes do gênero policial mas que, certamente, agradará também aos leitores em geral.

Sobre o autor: Bráulio Tavares (Campina Grande, 1950) é um escritor, compositor, letrista, poeta, dramaturgo e pesquisador de literatura fantástica. Escreveu títulos de importância fundamental na literatura de gênero, como os já clássicos: "O que é Ficção Científica" (Brasiliense, 1986) e as antologias de contos: "A Espinha Dorsal da Memória" e "Mundo Fantasmo" (ambos relançados pela Editora Bandeirola em 2020).
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Gárgula 05/01/2022

Crimes Impossíveis, coletânea organizada por Braulio Tavares
Braulio Tavares abre sua biblioteca
A coletânea Crimes Impossíveis, organizada por Braulio Tavares, reúne dez contos de crime de quarto fechado. A obra é a primeira edição da coleção Biblioteca Pessoal de Braulio Tavares, publicação da Editora Bandeirola.

O próprio organizador fez a tradução dos contos, bem como escreveu o prefácio do livro. Por sinal, este prefácio se torna fundamental ao leitor, que entende toda a lógica deste subgênero policial. O texto acaba dessa maneira um ensaio de excelência que descortina toda a criação deste tipo de conto. Por isso, sua leitura é fundamental.

A estrutura da obra
Imagino a dificuldade que foi reunir dez conto dentre inúmeros outros. Braulio comentou sobre isso na entrevista que tive o enorme prazer de fazer com ele, lá no Bate-Papo do Canto.

As escolhas de Braulio inegavelmente foram incríveis e reúne grandes nomes da literatura mundial, como por exemplo Edgar Wallace, R. Austin Freeman, L. Frank Baum, Melville Davisson Post, Maurice LeBlanc, Jacques Futrelle, Arthur Conan Doyle, Sheridan Le Fanu, Edgar Allan Poe e G. K. Chesterton.

Esse livro resume não apenas uma deliciosa leitura, como também uma importante apresentação de autores. Ficam as indicações pessoais do organizador para futuras pesquisas do leitor. Adentrar pela biblioteca de Braulio Tavares é certamente ampliar seus horizontes literários.

Os crimes de “quarto fechado”
A proposta do conto de “quarto fechado” é cativante demais. Como chegar na resposta do “como acontece” exerce um fascínio que aguça nossa curiosidade.

Além dos contos em si, somos apresentados a detetives e personagens clássicos da literatura policial: Arsene Lupin, Tio Abner, Sherlock Holmes e Padre Brown, todos se apresentam com mentes inegavelmente afiadas.

Dos dez contos, os que mais gostei foram A adaga de alumínio, A morte na praia, O problema da cela 13 (provavelmente um dos melhores do livro, se não o melhor), A aventura da faixa malhada e Uma passagem na história secreta de uma condessa na Irlanda.

Considerações finais
Em resumo, Crimes Impossíveis é uma coletânea obrigatória para o leitor que gosta do desafio mental. As propostas em cada enredo são deliciosas e deixam a cada final um gosto de quero mais.

Imagino como será o próximo volume visto que a biblioteca de Braulio Tavares é vasta e seu repertório pessoal assombroso. Um homem que não se resume facilmente e que devemos ouvir, acompanhar e certamente seguir. Guardo com carinho a honra de ter entrevistado ele, pois não só foi uma conversa excelente, assim como uma aula em todos os sentidos.

Crimes Impossíveis é certamente um presente para o leitor brasileiro. Compre o seu o quanto antes!

site: https://cantodogargula.com.br/2021/09/29/crimes-impossiveis-coletanea-organizada-por-braulio-tavares/
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Ismael.Chaves 17/10/2023

Crimes e mistérios entre quatro paredes
O que há além das estrelas, o que esconde a escuridão da noite sem lua, o que há atrás da porta trancada? Há o anseio de descobrir as respostas para tudo aquilo que provoca uma quebra em sua existência, aparentemente, organizada.

Somos atraídos por narrativas de mistério que desafiam a lógica estejam elas na natureza, nas páginas dos jornais, na narrativa de um livro, nos prendendo página após página, ansiosos pelo desfecho do enigma.

Em uma recente entrevista ao site Literatura Policial, o grande escritor, tradutor, compositor e pesquisador Braulio Tavares definiu os crimes impossíveis como:

“(…) contos de mistério e de engenhosidade, que estabelecem um desafio entre o autor e o leitor. O autor propõe uma situação que parece sobrenatural (parece haver nela o envolvimento de espíritos, uma desmaterialização), mas depois vê-se que ela pode ser explicada de maneira concreta, material, realista.”

Braulio desenvolve ainda mais essa definição no prefácio de Crimes Impossíveis – Crimes de Quarto-Fechado, novo lançamento da Editora Bandeirola, que inaugura a nova série Biblioteca Pessoal de Braulio Tavares.

“O crime impossível talvez seja o tipo mais rebuscado de puzzle ou quebra-cabeças dedutivo na literatura policial. (…) mais importante do que o whodunit (quem matou) ou o whydunit (por que matou) é o howdunit (como matou). A revelação da identidade do criminoso é menos extraordinária do que a revelação do método utilizado para praticar o “crime que não poderia ser cometido”.

E é exatamente isso que o leitor encontrará nesta antologia, a primeira dedicada esse subgênero no Brasil, que reúne contos da primeira fase da literatura detetivesca, desde os mestres isolados do século 19 até a década de 1930, considerada por muitos a Era de Ouro desse tipo de narrativa.

Desde autores mais badalados como Sir Arthur Conan Doyle, Maurice Le Blanc e Edgar Allan Poe até autores menos conhecidos do grande público como Jacques Frutelle, Mellville Davisson Post e R. Austin Freeman, Braulio selecionou e traduziu 10 pérolas narrativas que imergirão o leitor nesse grande quebra-cabeça. A edição da Bandeirola, como sempre, conta com um trabalho editorial impecável pelas mãos e mentes talentosas de Sandra Abrano e Helena Dozz, baluartes dessa pequena, porém fantástica, fábrica de histórias.

Entre as incríveis pérolas contidas nesta seleção, os leitores encontrarão alguns mistérios que flertam com o horror e o sobrenatural, promovendo algumas cenas de medo e tensão. Entre esses, destaco os seguintes:

O MISTÉRIO DE DOOMDORF (1914)

Nesse conto de Melville Davisson Post, conhecemos Tio Abner, um puritano movido por uma fé inabalável na justiça divina.

Vivendo em uma comunidade do interior da Virgínia Ocidental, em uma época anterior a Guerra Civil Americana, Tio Abner desvendava crimes em nome da fé. Como um profeta do Antigo Testamento, ele bradava com voz firme a justiça divina e aplicava a vara da correção. Um profundo conhecedor da Bíblia e das ações humanas. E era exatamente esse comportamento do personagem que o identificou como o primeiro detetive de Historical Mystery — o mistério policial embasado no pensamento, nos hábitos e na cultura de uma época específica da História.

Acompanhado pelo juiz Randolph, Tio Abner vai até a casa de um comerciante de bebidas que está causando um enorme prejuízo econômico e moral (e espiritual) na comunidade para tomar providências e desativar aquele antro de Satanás. O que eles não esperavam é que fossem se deparar com uma cena de assassinato. Teria a justiça divina chegado antes deles? Logo o leitor perceberá que esse é um mistério muito mais complexo do que parece. Afinal, como solucionar um caso em que o assassino não é o responsável pelo crime? É aí que entra a genialidade do Melville, que constrói uma narrativa onde a sensação de estranheza envolve constantemente o leitor, perdido em uma atmosfera de dúvidas (e medo!), impossibilitando-o de descobrir a verdade até o seu derradeiro e surpreendente final.

UMA PASSAGEM NA HISTÓRIA SECRETA DE UMA CONDESSA NA IRLANDA (1838)

Sheridan Le Fanu é conhecido no meio literário como autor de uma das mais famosas obras de Terror: Carmilla – A Vampira de Karnstein. No entanto, sua obra se estende a outros trabalhos, que passeiam entre o fantástico, o gótico e o policial. E uma de suas obras menos conhecidas no Brasil está o conto Uma passagem na história secreta de uma Condessa na Irlanda, publicado pela primeira vez em 1838, na Dublin University Magazine, considerado por alguns críticos como o primeiro conto de crime de “quarto fechado”.

Esse conto apresenta um elemento, curiosamente, pouco explorado até hoje dentro desse gênero: a história de um crime de quarto fechado narrada do ponto de vista da vítima. Aqui acompanhamos a tragédia da Condessa D_____, contada por ela mesma em uma longa carta entregue a um narrador anônimo. Herdeira de uma fortuna, a protagonista é enviada aos cuidados de seu tio paterno, que administra uma mansão, onde mora com seus dois filhos e uma empregada. Desde o início, o leitor tem ciência de uma tragédia ocorrida na família, anos atrás, e que algo muito errado está acontecendo naquele lugar. Sozinha e sem saber em quem confiar, a futura Condessa começa a perceber que não há escapatória desse pesadelo e que é uma questão de tempo até que o verdadeiro Mal se revele e a morte recaia sobre os personagens.

Le Fanu situa o leitor dentro de uma trama claustrofóbica, no melhor estilo gótico, com mansões enormes e corredores escuros, segredos familiares e o medo diante das incertezas. É notável como o autor constrói uma narrativa atmosférica, aumentando a tensão gradualmente, mergulhando a personagem em uma espiral de medo e angústia. E, mesmo o leitor sabendo de antemão que ela permanecerá viva para nos contar sua história, nada lhe preparará para o que o aguarda num desfecho surpreendente.

Um conto que, certamente, chocou o público do Século XIX e vai surpreender os leitores dessa antologia.

O PROBLEMA DA CELA 13 (1905)

Esse conto já chama atenção devido o seu autor. Jacques Frutelle foi um dos mais celebrados e bem sucedidos escritor de mistério. Ele vivia o auge de sua carreira quando teve seu destino selado a bordo de um famoso transatlântico que afundou após bater em um iceberg. Isso mesmo, o Titanic!

Neste que foi um de seus últimos textos publicados, conhecemos o engenhoso Professor Augustus S.F.X Van Dusen, “um raciocinador implacável e petulante“, também conhecido como A Máquina Pensante.

A particularidade dessa história é que não temos um crime a ser investigado, mas “um duelo entre a engenhosidade individual e um sistema de vigilância coletivo”. O Professor aposta com seus amigos que é capaz de escapar de uma prisão de segurança máxima. Porém, como ele e o leitor logo percebem, essa é uma situação muito mais complicada do que aparenta e, não bastasse esse desafio eletrizante e cheio de empecilhos à la Prison Break, temos a suposta presença de um fantasma noturno assombrando os corredores da prisão.

A MALDIÇÃO DO LIVRO (1933)

Um dos detetives mais inusitados da literatura é, sem dúvida, o Padre Brown, criado por G.K Chesterton.

Em “A Maldição do Livro”, temos um objeto envolto em um intrigante mistério com ar sobrenatural: um livro, capaz de subtrair da face da Terra todo aquele que ousar abri-lo. A cada hora, há uma nova vítima e o Professor Openshaw, um estudioso dos fenômenos paranormais, está prestes a perder a sanidade diante desse caso de solução impossível.

E é aí que entra o Padre Brown, “um dos mais improváveis detetives da história da ficção policial”, como afirma Braulio na introdução do conto para a antologia – “Em suas histórias, todos imaginam que ele, por ser padre, acredita no sobrenatural — e ele se mostra, ao fim e ao cabo, o mais prático, objetivo e lógico dos pensadores, sem abrir mão de sua fé.”

Temos ainda um intrigante crime orquestrado por ninguém menos que L. Frank Baum, autor de “O Mágico de Oz”. Um assassinato investigado pelo famoso ladrão-detetive Arsène Lupin. A obra-prima de Edgar Allan Poe que inaugurou o gênero detetivesco. E muito mais!
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