Douglas | @estacaoimaginaria 18/11/2021
Um romance histórico arrepiante
Desde o início, somos pegos pela autora de uma forma que não é possível simplesmente largar a leitura. Foi assim com seu primeiro livro também. Particularmente, é um tema que me atrai muito, mas Kate Quinn sabe prender o leitor, seja pela escrita detalhada, intensa e instigante, seja pela história em si. O mais incrível, claro, é que o pano de fundo das tramas desses personagens é a história.
E a autora consegue escrever com naturalidade sobre esses fatos históricos. Obviamente, ela cria tramas fictícias para complementar a história – e já vou falar mais sobre isso. Mas o fato é que Quinn conquista o leitor de uma maneira incrível e faz com que a leitura avance rapidamente. É uma escrita fluída, interessante e com muitas reviravoltas, o que torna a história muito instigante.
Além disso, a autora consegue amarrar muito bem suas tramas. Ela cria, indiretamente, ligações entre as três mulheres dessa história – Nina, Jordan e a Caçadora. Sem falar que ela ainda faz uma conexão com seu primeiro livro ao citar Eve Gardner, uma das protagonistas de “A Rede de Alice”. Particularmente, achei interessante essa ligação, pois mostra como existe uma linha narrativa que começa no primeiro livro e segue nesse.
Kate Quinn divide a história três perspectivas: Nina, Ian e Jordan. E todos eles estão interligados por uma pessoa: a Caçadora, uma assassina nazista. As três perspectivas são narradas em terceira pessoa, em momentos diferentes das vidas desses personagens. Contudo, eventualmente, esses momentos se conectam, uma fórmula conhecida de seu livro anterior.
A perspectiva de Nina é do seu passado, sua infância e adolescência, a luta pela sobrevivência em um lar desestruturado. Mas, mesmo sendo maltratada pelo pai, ela também aprendeu muito com ele. Até que ela vê um avião de perto, e se apaixona – como um amor à primeira vista. E logo ela se envolve com as Bruxas da Noite. Com Nina, conhecemos a guerra pelo olhar da Rússia, antiga União Soviética.
Ian é a perspectiva investigadora. Ele também é um caçador, mas de nazistas, e é obcecado pela Caçadora. Ele também mostra uma visão enquanto jornalista que cobria a guerra. Tendo que relatar tantas mortes, tantos terrores, e as consequências disso para sua vida. A guerra também marcou essas pessoas. É interessante ver como ele também se tornou um caçador, ainda que não ousasse contar a história dos nazistas que caçava.
Já Jordan mostra um lado alheio à guerra, mas não tanto. Enquanto ela vive sua vida tranquila, ela se encontra com a nova namorada do pai, uma misteriosa mulher que deixa a garota intrigada, e ela começa a investigar. Logo de cara, desde a sinopse, fica claro que essa mulher é ninguém menos que a Caçadora, que não temos registro de quem é de fato. E é com Jordan que vemos uma perspectiva sobre relações familiares.
Como citei antes, esse é um livro em que a autora utiliza fatos históricos para criar sua ficção. Sem dúvida, é uma ficção, mas ela tem um peso muito real. Porque ela se baseou em várias histórias reais da Segunda Guerra para criar esses personagens tão emblemáticos. É isso que sempre me encantou em todos os livros sobre a Segunda Guerra que já li. Apesar de serem ficção, eles representam histórias reais.
Não é nada criado a partir da cabeça dos autores. São terrores reais, medos reais. E nossa geração só pode se lembrar a partir dos livros de história e de romances fictícios. Eles nos permitem visualizar aqueles campos de Guerra, sentir o arrepio, tudo na nossa mente. Eles não nos deixam esquecer, como bem reforçou Ian Graham em certo momento do livro.
Claro, a autora precisa criar certos momentos fictícios, mas ainda assim é a história real sendo contada de uma perspectiva diferente. Talvez a melhor perspectiva: as pessoas. Mais importante que fatos históricos e estratégias de guerra, são as pessoas que sobreviveram que podem nos fazer sentir como foi esse período. Assim como é importante que, ao final, a autora resuma sua pesquisa e nos mostra o que é ficção e o que não é.
Quanto as coisas vão se aproximando do momento mais importante do livro, é incrível como a autora consegue fazer com que o leitor fique ansioso, nervoso, com o coração palpitando, um certo tremor e a garganta presa. Essas são todas sensações que senti quando o cerco foi se fechando, quando as descobertas começaram. Porque a autora consegue te fazer se sentir tão conectado à história, que é impossível não se envolver junto.
“A Caçadora” é um livro incrível, recheado de fatos históricos, relatos sobre a guerra e o poder da família, da amizade e do companheirismo. Sem dúvida, estou ansioso para outras histórias de Kate Quinn. E creio que se ela seguir explorando fatos históricos, ela com certeza vai sempre nos entregar livros que valem a pena a leitura.
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